Poucos dias atrás, em mais uma das intermináveis (e as vezes chatas) conversas empreendidas pela "elite" brasileira, meu interlocutor disse que o Brasil só está na condição privilegiada de agora, por causa de uma conjuntura internacional. Que não é de forma alguma resultado das políticas progressistas de Lula, desde 2003.
Porém, é rápido em afirmar que mesmo assim, o grande iniciador disso foi FHC, com seu plano real.
Então vamos lá. Realmente é difícil para uma elite falida dar crédito a alguém que não estudou sobre os famosos bancos das universidades européias. Compreensível. Coitadinha dessa gente que não enxerga um palmo à frente de seus narizes costumeiramente grandes.
Primeiro que não foi FHC quem inventou o real. Foi itamar, em 1993. Don Fernando virou Presidente só no outro ano. Mas ok, o real se desenvolveu inicialmente sob seu governo, então vamos lhe dar o crédito merecido. Mas não me venham com o trololó de que a idéia foi dele. Não foi. Se a lógica for essa, Ciro Gomes é tão pai do real quanto FHC, já que também foi ministro da mesma pasta, na época.
Mas mesmo sob a égide de um real artificialmente valorizado (quem não lembra da paridade com o dólar que elevou a dívida pública à estratosfera?), o Brasil quebrou 3 vezes em 1999. Foi 3 vezes ao FMI. A tucanada faz de conta que isso não existiu, mas FHC só não conseguiu eleger Serra porque o povo se cansou de tanto blablablá e nada de concreto. E também, quem não lembra da máxima do governante que era "vamos fazer crescer o bolo para depois dividir"? Curiosamente o bolo só crescia para os magnatas. O povo ia de mal a pior e a taxa de desemprego nas regiões metropolitanas chegava a 40%. Quarenta por cento, leitores. O dobro da pior taxa de desemprego da Europa, atualmente, que é da Espanha.
Ora, falácia dizer que o Brasil estaria na posição que está hoje inevitavelmente, porque os países ricos estão quebrados. Bem, esses ricos iam quebrar e isso já era sabido havia tempos. Porque foram irresponsáveis e imprimiam dinheiro e fizeram a festa do mercado financeiro, esquecendo de estimular a geração de empregos. Aliás, "esquecendo", vírgula. Eles sabiam o que era preciso. Apenas não tinham interesse em fazer porque há décadas quem nada no mundo é o grande capital bursátil. O povo que se danasse.
Se, sob a lógica tucana, era inevitável que os emergentes, emergissem, qual a explicação para o México mais quebrado do que antes? E outros países igualmente atrelados à economia do então Primeiro Mundo, que naõ avançaram? Pegue aí Tailândia, a maioria dos antigos Tigres Asiáticos que acharam mais fácil ser um apêndice dos EUA do que gerar empregos no próprio território.
O Brasil só subiu todos esses degraus porque se descolou da América e da Europa. Diversificou seu mercado. Descobriu novos parceiros e pagou a dívida com o FMI, mandando-o para casa e não mais aceitando ingerência. FHC não fazia nada disso. Dizia amém para tudo o que os ricos mandassem e o povo amargava uma indústria nacional quebrada, onde só a meia dúzia mais encorpada sobrevivia, e o desemprego campeava.
E onde tem desemprego não tem consumo, não tem renda.
E qual o motivo da dificuldade dos EUA e da Europa sairem da crise? Porque hoje em dia eles são governados pelo mesmo estilo de governante que era FHC e sua trupe. Vassalos vendidos. A única diferença é que lá eles recebem ordens dos magnatas locais, que ficam cada vez mais ricos com a pobreza de seu país. Aqui, Don Fernando recebia ordens de fora, só que da mesma gente do mercado financeiro. Em outras palavras, os patrões, continuam os mesmos. O que mudou foi o grupo que a tudo dizia sim.
Quando os banqueiros da América e da Europa podiam explorar o Terceiro Mundo, a crise era disfarçada porque nós os sustentávamos. A quebradeira viria sim, inevitavelmente, mas era adiada com nosso dinheiro e nosso "sim" a tudo. Quando alguns países do então baixo clero resolveram dizer chega, os operadores do deus mercado, tiveram que se voltar para as próprias fronteiras.
Então, claro, o Brasil não foi o único no mundo a dar o bote. Mas o que Lula fez de diferente foi aceitar estar no grupo dos que iriam mudar a geografia mundial. E aliás, em muito momentos, Lula os liderou (ele criou o G20). Na época de FHC a nova geografia já ensaiava se desenhar, mas a plutocracia insistia em jogar tudo para debaixo do tapete e continuar vendendo a preço de banana a riqueza nacional.
Estes são os motivos de o Brasil estar onde está. E este é o motivo de o PSDB não ganhar mais eleição nenhuma em plano nacional. Hoje, além de sermos menos burros, podemos fazer comparação com o que já fomos. A direitona vai amargar um longo tempo longe do poder, graças a Deus.
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