sábado, 21 de janeiro de 2012

Operação abafa lembra piores momentos da Globo

Por Mauricio Stycer

Mais surpreendente do que o próprio episódio que resultou na eliminação de um candidato do BBB 12 por suspeita de estupro foi a tentativa da direção do programa de varrer a baixaria para debaixo do tapete.

A operação-abafa, urdida na manhã de domingo, 15/1, foi sustentada até o final da tarde do dia seguinte. Nesse meio-tempo, o diretor do programa, Boninho, desdobrou-se em entrevistas, dando versões desencontradas e, em alguns casos, inexatas sobre o que de fato ocorreu.

O ápice da tentativa de reescrever a história ocorreu na noite de domingo, um dos dias nobres do BBB.

A edição do programa não apenas deixou de mostrar as cenas mais picantes da noitada anterior como ainda deu a entender que Monique, a suposta vítima de Daniel, fez um jogo de “morde e assopra” com ele nos momentos que antecederam a suspeita movimentação do modelo sob o edredom.

A cereja do bolo desse momento foi a cínica intervenção do apresentador Pedro Bial, que resumiu tudo assim: “O amor é lindo”. O caso lembrou algumas das maiores escorregadas da Globo, como a deliberada confusão que fez na cobertura do comício das Diretas de 1984, transformando-o numa festa pelo aniversário de São Paulo.

Além de não mostrar as imagens que poderiam ajudar o espectador a julgar o episódio por conta própria, Boninho ainda tentou distrair a opinião pública com a carta do “racismo”. Também não funcionou.

É preciso ressaltar que o cuidado do programa em não acusar Daniel é correto. O BBB não é polícia nem Justiça. Mas isso é muito diferente da tentativa feita de iludir o público sobre o ocorrido.

As festas do BBB, regadas a quantidades industriais de bebidas alcoólicas, destinam-se basicamente a criar situações a serem exploradas posteriormente pelo programa. Gafes, gritarias, baixarias, beijos roubados, escorregões e gemidos sob o edredom fazem a alegria de quem edita a atração e, depois, do público que assiste.

2012 não é 1984

O episódio que envolveu Daniel e Monique, nesse sentido, não chega a ser surpreendente. Foi apenas um ponto fora da curva. Mais cedo ou mais tarde ocorreria.

A novidade é que a edição deixou escapar um vídeo de quatro minutos, que ganhou a internet e se espalhou em velocidade espantosa; 2012 não é 1984.

Foi essa difusão que transformou a operação-abafa de Boninho em pó, levou o governo federal a se manifestar e colocou a polícia no Projac.

Apesar do Ibope em queda, o BBB é um dos programas mais bem-sucedidos da Globo, respondendo por um faturamento da ordem de R$ 380 milhões em 2011.

Responsável direto por este sucesso, o diretor parece ter acreditado que, com seu toque de Midas, seria capaz, mais uma vez, de reescrever a história.

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[Mauricio Stycer é repórter e crítico do portal UOL]


O Amor e lindo, mas passa longe do BBB

por Marta Suplicy, Brasil 247

Ilustraçao do Blog
Coloque um monte de jovens -homens e mulheres- com pouca roupa, jogos e brincadeiras que propiciem tensão e esfrega-esfrega, menos camas do que participantes (esta eu achei incrível!), muita bebida, diversão suficiente para descontrair, intrigas para algum suspense e você tem o "BBB". Acrescente uma busca e seleção de personagens em escala nacional com promoção de mídia, todos com perfil para o enredo ter o mix mais picante e consegue-se a garantia de boa audiência, um pornô palatável, pois os que gostam se deliciam e os que desprezam passam longe e não criam confusão.

Até que das redes sociais ouvimos um grito de protesto. Este, agora, seguido por várias instituições que exigem apuração e questionam os procedimentos no programa. Duas novidades importantes: as redes sociais fizeram diferença e a questão da violência contra a mulher entrou na pauta!

A falta de intimidade, as dificuldades nos relacionamentos ditadas pela competitividade, o estresse, o cotidiano das cidades, a ruptura de laços familiares, tudo colaborou para uma enorme vontade de pertencer, saber mais (de longe) sobre o outro. Acrescente a curiosidade gerada por este mundo novo, fruto das mudanças dos anos 60, e dá para entender o surgimento do "An American Family", no ano de 1973, que precedeu as variações que hoje temos. Falou-se então de divórcio e homossexualidade.

O desejo por mais adrenalina, a exploração cada vez maior da sexualidade, o prazer sádico, as alternativas pobres de entretenimento, somadas à contínua tensão deste mundo globalizado, onde cada vez mais cada um é mais por si e sozinho, levaram ao que temos hoje.

Não teríamos coisas mais interessantes do que estarmos aqui discutindo esse programa? Creio que sim. Mas o suposto estupro -negado pelos participantes do "BBB", assim como foi ignorada pelos editores a vulnerabilidade da moça alcoolizada-, além de desencadear uma discussão sobre a adequação e a ética dos responsáveis pelo "BBB", trouxe visibilidade a uma forma de violência pouco denunciada e que defendo revisão.

Há meses, apresentei um projeto de lei ao Senado que recria o tipo penal do "atentado violento ao pudor". Isso porque depois de uma mudança de lei, em 2009, passou-se a considerar também como estupro atos libidinosos.

As condenações por tais atos diminuíram em virtude de os juízes ficarem constrangidos em dar penas tão severas por ato que consideram não tão grave quanto o estupro. O novo projeto mantém a pena de reclusão de seis a dez anos, em caso de estupro, e pena de dois a seis anos de reclusão, quando ocorrer o atentado violento ao pudor.

O amor é lindo, como disse Pedro Bial olhando a movimentação debaixo do edredom. Mas passa longe do "BBB".

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A imprensa está sendo pautada por gente de fora

Ilustração do Blog
Por Wilson da Costa Bueno, no Portal Imprensa

Os estudantes de Jornalismo aprendem nas salas de aula que toda reportagem se inicia com uma pauta, um roteiro básico focado em um tema, com informações mais ou menos detalhadas sobre fontes e focos de cobertura, definido pelos veículos em função de sua linha editorial. As reuniões de pauta são “glamurizadas” de tal modo que os futuros profissionais imaginam estar diante de um grupo de jornalistas, solertes e experientes, prontos para um debate profícuo que norteará a cobertura da próxima edição. Para os jovens, sempre há uma reunião de pauta , comandada a partir da redação. Na prática,  a boa reportagem começa por aí.

Como dizia o poeta, ledo engano. Embora reuniões de pauta ainda existam, é fácil perceber que, na maioria dos veículos, agora fragmentados em editorias, e, portanto, com tempos de produção diversos, as coisas não são tão óbvias nem tão charmosas.

Um olhar, ainda que ligeiro,  pelas reportagens/notícias dos nossos jornalões vai nos encaminhar para fora das redações, se quisermos efetivamente identificar a origem das pautas. Em boa parte, elas têm sido gestadas, pensadas, planejadas nas assessorias de imprensa a serviço das empresas, entidades e mesmo do Governo. Com raras exceções, as pautas se originam das redações, ainda que estas possam, ingenuamente, imaginar que as tenham sob controle.

Se fosse assim, a imprensa teria descoberto as condições precárias das pistas dos aeroportos antes do desastre trágico da TAM há poucos anos, o maior da aviação brasileira. Se fosse assim, a imprensa estaria descobrindo que as notícias pró-transgênicos têm sido alimentadas por agências de comunicação e pelo CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia) e não continuaria comprando gato por lebre, repetindo argumentos que têm a ver mais com lucros do que com ciência.

Se fosse assim, a imprensa não abrigaria a tese de que restringir determinado tipo de propaganda (bebidas, alimentos infantis, medicamentos etc) é uma afronta à liberdade de imprensa, quando se trata , na verdade, de preservar interesses de agências de propaganda e de anunciantes. Se fosse assim, a imprensa não continuaria repetindo que a indústria tabagista é socialmente responsável (enquanto mata milhões em todo o mundo e adoece outros milhões) e que são os indígenas que atrapalham as mineradoras e as empresas de celulose e não o contrário.

A imprensa brasileira não é tão investigativa como proclama ser, não é ética suficiente para cobrar, com legitimidade, esta postura de empresas e governantes e nem tem “rabo preso com o leitor” coisa alguma. Pelo contrário, esta visão (também “glamurizada” de objetividade e neutralidade) nunca existiu e nunca existirá em imprensa alguma porque, afinal de contas, todo veículo tem vínculo, tem passado e presente (que às vezes o condenam), tem patrão e financiadores diretos e indiretos. Não é preciso fazer curso de Jornalismo para saber que imprensa livre “é história para boi dormir”.

A imprensa brasileira precisa estar consciente da sua atual fragilidade , que se intensifica à medida que o departamento comercial bota o dedo nas redações (  em muitos casos chega a enfiar a mão toda e o pé todo, configurando um verdadeiro estupro profissional). Ela precisa iniciar, com urgência, um processo de reformulação, buscando aumentar a sua massa crítica. Deve substituir os equivocados “projetos de mercado” e “publieditoriais” por um jornalismo realmente comprometido com o debate público e não ficar proclamando a sustentabilidade de bancos e agroquímicas, predadores por excelência.

A imprensa brasileira precisa deixar de ser pautada pelo oficialismo governamental ( ela reclama do Governo mas não vive sem ele, como a Amélia que, pelo menos na música, gostava de apanhar!) e desconfiar mais das coletivas regadas a vinho e camarão e dos executivos adestrados em programas de “media training”.

Certamente, o cenário atual tem a ver com o “encastelamento” dos profissionais nas redações, buscando informações prontas (não investigadas) na Web, nos releases empresariais ou nos sites dos poderes legislativo e executivo. Tem a ver com a insistência em ouvir repetidamente os mesmos políticos, as mesmas autoridades, os mesmos empresários, como se o debate devesse ser encaminhado sempre a partir das mesmas fontes, algumas das quais com pouca coisa pra dizer e muita coisa pra ocultar.

As reuniões de pauta só poderão ser frutíferas para a cidadania (as reuniões atuais, quando existem, favorecem mais os anunciantes e as agências de comunicação a serviço das grandes empresas) se os jornalistas, previamente, se dispuserem a investigar, a enxergar além da notícia, a confrontar informações, a buscar por conta própria aquilo que as fontes jamais entregarão de bandeja.

Os jornalistas e os veículos dependem hoje das investigações da Polícia Federal (isentas?), dos fuxicos de políticos e autoridades, e vivem produzindo a partir de “offs”. Para que possamos resgatar as reuniões de pauta autênticas, com certeza teremos que mudar a cabeça da maioria dos jornalistas e dos veículos, já acostumados a um sistema de produção burocrático, insosso, insípido e inodoro, uma mentalidade transgênica porque uniforme, estéril e contrabandeada de outras praias.

Se as reuniões de pauta voltarem a acontecer sob o controle efetivo das redações, talvez tenhamos chance de encontrar, nas bancas, veículos mais plurais, mais inteligentes e menos previsíveis. Talvez as manchetes e as chamadas de capa deixem de ser as mesmas em todos os veículos e comecemos a encontrar novamente os jornalistas cruzando as ruas e não apenas frequentando os saguões refrigerados das empresas, os corredores do Congresso e as salas da Fiesp.

Não há outra saída: para pautar de verdade, é necessário abrir os olhos, arregaçar as mangas, gastar sola de sapato e descartar a mesmice. As boas pautas não costumam cair no colo e só podem ser feitas com autonomia e coragem. Exatamente o contrário do que propõe o Departamento Comercial, preferem os anunciantes e andam fazendo os jornalistas preguiçosos.

Os estudantes , quando chegam às redações,  logo descobrem a dura verdade: as pautas estão sendo arquitetadas fora das redações.  Sem qualquer “glamour” mas contaminadas por lobbies e interesses. È pena porque muitos deles acabarão aceitando as regras do jogo. E em jogo de cartas marcadas, o Jornalismo e a cidadania sempre perdem. Nesse caso, vale a pena chorar pelo leite derramado.

Protesto anti-Globo cobra novo marco da mídia, que Dilma segura


Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, já recebeu da equipe proposta de consulta pública sobre novo marco regulatório para emissoras de rádio e TV, mas projeto não anda por falta de priorização da própria presidenta Dilma Rousseff. Nesta sexta-feira (20), militantes da democratização da mídia vão cobrar nova lei durante protesto contra Globo pelo 'caso BBB'.


Mesmo sem comprovação de que de fato tenha havido estupro, a polêmica levantada pelo programa Big Brother Brasil (BBB) serviu até agora para reacender, em setores da sociedade, um sentimento anti-Globo e o debate sobre a necessidade ou não de um novo marco regulatório para TVs e rádios, regidas hoje por uma legislação que, em agosto, vai completar 50 anos.

Nesta sexta-feira (20), entidades que lutam pela democratização da comunicação no país vão promover um protesto contra a Globo, em frente a sede dela em São Paulo, a partir das 12 horas. Além de criticar a conduta da emissora, a manifestação vai cobrar do ministério das Comunicações que tire da gaveta e discuta publicamente a proposta de regras mais atuais na radiodifusão.

A proposta de um novo marco regulatório começou a ser elaborada na reta final do governo Lula, depois que, em dezembro de 2009, houve a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Conduzido na época pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência, o trabalho resultou em uma proposta que, no governo Dilma Rousseff, foi encaminhada ao ministério das Comunicações.

Em 2011, o ministério decidiu refazer o trabalho, com o objetivo de ampliar seu escopo – em vez de englobar apenas a radiodifusão e o Código Brasileiro de Telecomunicações, o plano foi avançar até a Lei Geral de Telecomunicações (LGT), que em 2012 completa 15 anos.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernando, pretende colocar o novo regulatório em consulta pública, antes de fechá-la para envio ao Congresso. Ele recebeu uma proposta de marco e consulta pública no fim de 2011. Segundo Carta Maior apurou, o texto ainda não andou por falta de vontade política da presidenta Dilma Rousseff. Ela não cobra o projeto de Bernardo e, ao menos por ora, não o considera uma prioridade.

Na convocação do ato contra a Globo, a Frente Paulista pela Liberdade de Expressão e pelo Direito à Comunicação (Frentex), o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e Rede Mulher e Mídia afirmam, porém, que há necessidade de aprovação de “um novo marco regulatório do setor com mecanismos que contemplem órgãos reguladores democráticos”.

No cenário vislumbrado pelos defensores do novo marco, o país teria uma agência de regulação de conteúdo de rádio e TV com poderes para, de forma mais ágil, julgar casos como o do BBB, em que se suspeitou de sexo não consentido – em depoimento à polícia, porém, a vítima não apresentou queixa e disse que, ao menos enquanto esteve acordada, concordou com o que acontecia.

Independentemente disso, no entanto, o grupo que vai protestar contra a Globo considera a emissora culpada por não contar à suposta vítima que ela poderia ter sido estuprada, por prejudicar as investigações da polícia e por, via BBB, enviar ao país uma mensagem de permissividade feminina. Além de responsabilizar a emissora, pressiona para que os patrocinadores do BBB parem de anunciar, sob pena de boicote do público.

Nesta quinta-feira (19), o grupo que organiza o protesto, formado por diversas entidades de defesa dos direitos da mulher, entrou com uma denúncua no Ministério Público Federal em São Paulo cobrando a responsabilização da Globo e um direito de resposta coletivo em nome das mulheres que se sentiram ofendidas, agredidas e que tiveram seus direitos violados.

Em nota, o Ministério Público informou que vai investigar o caso do ponto de vista dos direitos da mulher. “O objetivo do procedimento é que a Rede Globo, emissora de alcance nacional, não contribua para o processo de estigmatização da mulher, mas para a promoção do respeito à mulher e a desconstrução de ideias que estabelecem papéis estereotipados para o homem e a mulher”, afirma o MP.

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados encaminhou ao diretor do BBB, Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, pedido de informações sobre providências tomadas. Segundo o ofício assinado pela presidente da Comissão, Manuela d’Ávila (PCdoB-RS), o colegiado quer ter informações suficientes para “formar opinião qualificada sobre episódio que possa, ou não, se caracterizar como violação da dignidade humana num veículo com ampla influência na formação da população brasileira”.

Alckmin fecha apoio do PSB em São Paulo


Márcio França, presidente do PSB de São Paulo e secretário estadual de Turismo, fechou com o governador Geraldo Alckmin a participação de seu partido na aliança do candidato do PSDB à prefeitura da capital.

Em troca do apoio em São Paulo, Alckmin garantiu a aliança em outras cidades do estado. O governador pediu até que França preparasse uma lista dos municípios paulistas nos quais o PSB lançará candidato.

O acordo PSDB-PSB foi selado depois que os tucanos garantiram a retirada da candidatura do deputado Carlos Sampaio a prefeito de Campinas e toparam indicar o vice na chapa do deputado Jonas Donizetti, do PSB.

A articulação teve o aval do governador pernambucano, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB e parceiro do prefeito Gilberto Kassab na construção do PSD.

Fonte: Poder Online