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O texto de Aécio, deste 15/01, no jornal Folha de São Paulo, tem o título “Incoerência”.
Nele, o senador carioca (radicado eleitoralmente em Minas), tenta sair do costumeiro “morde e assopra” e, até que enfim, adota premissas neoliberais explícitas para seu esforço de inaugurar um discurso oposicionista. Com alguns assopros, visando não enervar muito a d. Dilma.
A crítica aparece, como sempre, na forma de exemplos, que introduziriam conceitos: teríamos uma política industrial que ignoraria a agenda da competitividade; nessa área o que se tem no país são “remendos”; o exemplo mais recente seria “o anúncio de que o Ministério da Saúde planeja pagar até 25% a mais por máquinas e equipamentos médicos e hospitalares e produtos farmacêuticos produzidos no Brasil.”
Ou seja, ele – Neves – sob uma incoerente preocupação com a saúde no Brasil, defende o remédio de curto prazo (compras no exterior, que seriam mais baratas) em detrimento de uma política de médio prazo, que incentivaria a fabricação de equipamentos em solo pátrio.
Dito de outra forma: se a China tiver equipamentos de saúde mais baratos, nada mais óbvio que compremos deles. O amigo dele e deles, Agnelli, ex-presidente da Vale, fez isso: comprou navios lá, em desfavor aos estaleiros nacionais (e tais navios nem podem adentrar aos portos chineses para levar as commodities arrancadas do Brasil).
Temos aí uma adesão à “síndrome do curto prazo”? Não. O que se vê aí é a noção tucana de “vocação” nacional: um país exportador de produtos primários (agrícolas ou minerais), que nunca competirá com os países desenvolvidos e que, portanto, não pode adotar politicas de incentivo a setores “privilegiados”.
Como os textos de Aécio são fraquinhos, o jornal Folha de São Paulo traz na mesma edição uma entrevista com Pérsio Arida, tucano privatista, que “complementa” conceitualmente o do senador carioca. O problema no Brasil seria a orquestração de um pacto elitista entre o governo do PT e setores do empresariado. Ver entrevista “Brasil tem pacto antiliberal entre elites e governo”.
Tal pacto é criticado por seus supostos efeitos econômicos contra os “pobres”. Mas, no fundo, é ciumeira eleitoral: tucanos descobrem em tais acordos, projetos de poder partidário. O problema é este: ao se preocuparem somente com a alienação de patrimônio nacional para os gringos, na década de 1990, esqueceram os tucanos de dialogar empresários do Brasil (ou que aqui produzem). E agora, feito barata tonta, querem criticar os setores “privilegiados”. E, pasmem, fazem isso em defesa dos “pobres”.
Eis a frágil coerência de Aécio: desindustrialização? Mas o que ele fez, seja, como governador de Minas, ex-presidente da Câmara de Deputados, 16 anos deputado federal, líder de FHC e agora no senado, para propor algo alternativo?
A direita no Brasil procura refazer o guarda roupas. O estilo psicodélico de Aécio desarruma tudo.
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