por Ricardo Kotscho no seu Balaio do Kotscho
Serena e firme, muito à vontade e cheia de boas notícias, a presidente Dilma Rousseff parecia satisfeita ao fazer um balanço dos seus primeiros nove meses de governo na manhã desta quinta-feira.
Em entrevista aos apresentadores Celso Zucatelli e Chris Flores, do programa Hoje em Dia, durante café da manhã no Palácio da Alvorada, transmitida ao vivo pela TV Record, Dilma mostrou-se confiante nas condições que o país reúne hoje para enfrentar a crise econômica mundial, anunciou um aumento de 14% no salário mínimo em 2012 e prometeu melhorar a gestão da saúde pública antes de se discutir um novo imposto.
"É mais do que bom", respondeu na lata, no começo da descontraída conversa de uma hora com os dois jornalistas, quando Zucatelli lhe perguntou se é bom governar o Brasil. "É uma honra e um orgulho governar o Brasil neste bom momento que o país vive, crescendo e distribuindo renda".
Não, ela não sonhava em ser presidente da República numa época em que as mulheres nem pensavam nisso. Queria ser bailarina e bombeiro, mas agora se mostra contente com o papel que o destino lhe reservou, e nem piscou o olho quando entrou no ar uma reportagem sobre a sua trajetória de vida até chegar à Presidência.
Vendo-se na tela ao fazer o discurso de abertura da Assembléia Geral da ONU na semana passada, a presidente se lembrou de milhões de mulheres que ainda são vítimas da segregação em várias partes do mundo, destacou "a fase de extrema valorização internacional" que o país atravessa e reconheceu o mérito dos seus antecessores para que o Brasil ganhasse uma posição de destaque na ONU.
A entrevista-conversa, em que os entrevistadores deixaram o papo fluir sem querer aparecer mais do que a entrevistada, foi intercalada por reportagens. Após ouvir o depoimento de três "mulheres guerreiras" contando histórias de superação, em que elas afirmam ter-se inspirado na presidente, Dilma comentou que "elas também me inspiram".
Mais desenvolta do que em entrevistas anteriores, Dilma dirigiu-se principalmente ao público feminino, predominante nas manhãs da televisão, e nem tocou na comida da mesa farta à sua frente. Só tomou alguns goles de suco de laranja.
Sempre citando números, falou de aposentados, emprego, saúde, impostos e mostrou-se otimista com o futuro: "A expectativa de vida está aumentando, mas antes da população ficar mais velha, o país vai ficar mais rico. Temos uma população economicamente ativa numa faixa etária boa para darmos um salto de crescimento e cuidar melhor dos nossos aposentados. ".
Entre as boas notícias, a presidente contou que em Manaus, no dia anterior, durante reunião com sete governadores da região, lançou a Bolsa Verde, que dará uma ajuda de R$ 100 por mês e crédito a juros mais baixos para quem preservar a floresta, beneficiando 4 milhões de pessoas. "Vocês sabiam que 62% dos pequenos empreendedores no Brasil são mulheres?", fez questão de destacar.
Quando lhe perguntaram se o Brasil estava livre da crise, foi realista. "Nenhum país está livre das conseqüências, mas o nosso país está hoje mais protegido do que na crise de 2008". Para ela, "no momento em que os Estados Unidos e a Europa compram menos produtos brasileiros, o mercado interno, com a força do consumo e a renda melhorando", dá mais confiança ao país.
As reservas brasileiras também lhe dão tranqüilidade. "Nós temos hoje um pé de meia de US$ 351 bilhões", contou com orgulho, como fazem os síndicos na prestação de contas em reuniões de condomínio.
Sobre o aumento de IPI nos carros importados, a presidente foi dura: "Precisamos proteger o emprego dos brasileiros, fui eleita para isso. Qualquer empresa estrangeira, para não pagar imposto maior, vai ter que gerar empregos aqui. Este governo não vai deixar que ameacem os nossos empregos".
"Compromisso tem que virar idéia fixa, vou fazer de tudo para melhorar a saúde", prometeu, ao falar da saúde pública, lembrando os tempos de campanha eleitoral. Admitiu "problemas sérios de gestão" e a falta de médicos em várias especialidades, mas deu esperanças de que o quadro pode melhorar.
Dilma anunciou que o governo vai financiar cursos para formar 4.500 médicos e quem se comprometer a trabalhar por pelo menos dois anos no SUS não terá que devolver o dinheiro. Depois de lembrar que os vizinhos Chile e Argentina investem mais em saúde pública do que nós, deixou claro que vai buscar novas formas de financiamento para aumentar os recursos nesta área.
"A saúde no Brasil precisa de mais dinheiro. Não estou pedindo hoje mais impostos porque precisamos melhorar primeiro a gestão. O governo tem que provar que tem condições de melhorar o atendimento ao público antes de pedir mais recursos".
Na parte final do programa, Dilma viu a apresentação sobre a cobertura que a TV Record fará dos Jogos Pan-Americanos, que começam daqui a 15 dias, com a participação de 250 profissionais, em Guadalajara, no México. E ainda teve tempo para brincar com o chef Edu Guedes, que entrou no ar dos estúdios de São Paulo com sugestões para o almoço.
"Eu quero saber é a receita do sorvete... Tem que socializar o sorvete..."
Desta vez, ninguém falou de faxina nem de malfeitos. Cada coisa tem sua hora e lugar. Dilma chega aos nove meses de governo agradando até quem não votou nela.
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