A parasitologia explica perfeitamente a atual e constrangedora situação política e eleitoral do Democratas: o parasita, uma vez fora do seu hospedeiro, tende a agonizar até a morte devido à falta da fonte de que o mantinha vivo às custas de outro organismo. É o que vem acontecendo com o partido desde de que, há 8 anos, deixou de ser situação.
Se observarmos o histórico de tal sigla veremos que sua qualidade mais notória é, tão somente, a sanha metamórfica pela qual passou no decorrer dos anos; da golpista União Democrática Nacional (UDN) de Carlos Lacerda e Magalhães Pinto vieram os mais ilustres próceres do que se tornaria a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), principal sustentáculo político do regime militar. Regidos pela conveniência política de se desvincular de uma ditadura moribunda diante dos ventos da redemocratização iniciada por Geisel e tocada à frente por Figueiredo, sentiram que aquela era a oportunidade ideal de se afastar de um regime que, em que pese ter lhes gerado múltiplos dividendos políticos, acabaria por se tornar um engodo com as pressões populares pelo retorno da democracia e das eleições diretas. Eis que, de uma dissidência dos arenistas, surge o PDS – Partido Democrático Social -, composto por membros que se fartaram com o situacionista ônus político ditatorial e que, oportunistas, viram do convés desse barco em naufrágio o assustador tsunami da democracia se aproximar. Nele, então, pularam com suas pranchas antes mesmo que lhe atingisse o casco. Mas e a ditadura a que serviram tão caninamente? Procuraram ofuscar de forma singela no discreto “D” do PDS. Não era – mais – interessante do ponto de vista político e eleitoral ser relacionado a um regime que caminhava para o saco.
Algumas lideranças do PDS, empolgados, talvez, pela então ordem econômica ocidental implantada por Thatcher na Inglaterra e Reagan nos EUA e que com força ganhava cada vez mais adeptos ao redor do planeta, fundaram o Partido da Frente Liberal (PFL). Apoiar o civil Tancredo Neves, símbolo maior da redemocratização, contra o candidato dos militares (Paulo Maluf) era a única e inquestionável escolha se quisessem se afastar cada vez mais do seu passado antidemocrático e continuar gozando dos frutos propiciados pela confortável condição de governista como tão bem fizeram com os militares.
Da reabertura política aos dias atuais, a UDN/ARENA/PFL/DEM só não foi aliada de Lula e de Dilma: Sarney, Collor – cujo barco também fora abandonado às vésperas do Impeachment – Itamar e FHC, todos contaram com a vassalagem política incondicional de seus partidários. De 1964 a 2002, até a vitória de Lula, permaneceram entranhados nas vísceras da máquina política governista. Coadjuvantes por natureza, acostumaram-se a almoçar ao lado de quem estava no poder, estando agora – e talvez pela primeira vez na história política do país – longe da mesa governista. É o que afirma o insuspeito Cláudio Lembo, professor da tradicional Mackenzie, ex-governador de São Paulo e até recentemente integrante do DEM. Em entrevista concedida ainda em 2006, soltou o então pefelista que seu partido estava nas barbas do poder desde a chegada de Cabral. Obviamente, tal conclusão denota das históricas origens aristocráticas que a legenda possui.
O baque de estar na estranha, hostil e inédita condição de oposicionista foi notado já na expressiva diminuição de sua bancada no Congresso após as eleições de 2006. O que fazer então? “Mudar mais uma vez de nome”, bradaram as raposas pefelistas. Mas como? E para qual nome? Com o “D” do PDS buscaram expurgar os umbilicais laços com o regime. A preocupação agora, como esperado, era também expurgar as estridentes e neoliberais nódoas do passado consubstanciadas exatamente no “L” do PFL. Expurgue-se, então, o “liberal” de sua sigla. Assim, o ex-arenista PFL transmuta-se ironicamente em Democratas (DEM). Seu passado, todavia, continuou o mesmo.
A atual agonia do DEM é paulatina, evidente e progressiva: na década de 90, o governista PFL chegou a ter uma bancada superior a 100 deputados e mais de 20 senadores, as maiores do parlamento. Hoje, possui 43 deputados e apenas 6 representantes no Senado Federal.
Esse número, é bom frisar, está desatualizado. Sua tendência é de franca diminuição em virtude do surgimento de mais uma dissidência do partido que, por sua vez, também criou uma sigla dissidente que, de seu turno, também teve como motriz a conveniência política de estar ao lado do governo. Trata-se agora do PSD, Partido Social Democrata (quero acreditar que a sarcástica semelhança como o antigo PDS seja involuntária). A quantidade de emigrantes do DEM inclui, além de seu idealizador Kassab, graúdos como a senadora Kátia Abreu e o próprio Cláudio Lembo. A sangria levantou, inclusive, a possibilidade de fusão com o PSDB, que também teve significativas baixas como a de Walter Feldman, um dos fundadores da agremiação e integrante do alto tucanato paulista.
Há uma máxima que afirma que para prever o futuro, basta olhar para o passado. Diante disso, resta apenas uma pergunta: irá o PSD se manter por muito tempo?
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