Infeliz e perigosa a idéia de fazer uma “multiexclusiva” entrevista da Presidente Dilma Rousseff a um “seleto” grupo de jornalistas. Ou melhor, grupo de jornais, os grandes. Eles, apenas eles, sem fotos, sem gravação, sem imagem.
Logo, embora não se duvide da honestidade pessoal de nenhum dos profissionais, tudo está sujeito à forma que dão e derem às palavras da Presidenta.
E, claro, já a deram.
Dilma descarta controle da inflação com crescimento zero, emenda o Estadão.
Que a presidenta quer e age para manter o crescimento, ninguém pode duvidar. Os projetos estruturantes prosseguem, sobretudo o PAC 2, foi lançado o “Brasil sem Miséria”, haverá desonerações tributárias.
Mas permitiu, com esta forma escolhida para dizê-lo, que jogassem em seu colo a inflação. Que não é dela, nem do Governo, nem da falta de uma política monetária dura.
A imprensa escolhe o “lead” e ele veio, muito provavelmente, de um ponderação óbvia: a de que Dilma não adotará uma política recessiva para conter as pressões inflacionárias.
Ora, disso todos sabíamos, e sabemos. Mas faltava a frase, e a frase veio porque, neste tipo de convescote, baixa-se a guarda.
A Presidenta não “descarta” o controle da inflação. Muito menos pode dizer que “não reduzirá” uma inflação que não está em seu pleno poder decidir se fará ou não se reduzir.
A escolha desta forma de comunicação fez com que se pudesse dizer por “toda” a imprensa- e sem nada que possa mostrar que não foi isso que se disse – que a Presidenta Dilma tolera a inflação, em nome do crescimento econômico.
Ao contrário. Dilma, contra a grita desta mesma imprensa, segurou os preços da gasolina na Petrobras e agiu para derrubar os do etanol. Sob seu governo, para contê-la, o Banco Central já submeteu o país e suas forças produtivas a um aumento de 1,75% na taxa pública de juros, contra um aumento de o,8% na inflação acumulada em 12 meses. Quase todo o resto do mundo pratica taxas negativas de juros, em busca de reativação das suas economia. Nos juros, somos os campeões do mundo, disparado.
Portanto, a presidenta não escolheu “não reduzir” a inflação ou descartar seu controle, em nome do crescimento. Só escolheu não detonar uma política ferozmente recessiva, que arruinasse o país para baixar um pouquinho a inflação e, claro, proporcionar lucros mais monstruosos ao sistema financeiro. E nem assim, talvez, adiantasse, com a gigantesca entrada de capitais e a ameaça mundial representada pela crise europeia e o impasse da dívida pública americana.
Que estratégia “brilhante” é essa de a ligar a uma decisão da Presidenta o aumento – ou mesmo uma “não-queda” – dos preços? Ainda mais agora, quando felizmente há sinais de que o BC interromperá a sequência de altas na Selic?
Foi “uma ideia genial”, é obvio, para virar a corrosiva pauta que de lá mesmo saiu, a de colocar toda a atividade da Presidenta voltada para a tal “faxina” ética. Dá muito bons resultados no curto prazo, isso, só que já perceberam que é também uma máquina de denúncias que perde todos os limites e que transforma tudo o que o governo faz, mesmo o bem feito, em fonte de suspeitas de negociatas.
Seguir a agenda da mídia e entregar a ela o ritmo do Governo é mais que um risco, é um erro.
Situações importantes, decisivas para que a população entenda quais são os compromissos de Dilma, como o lançamento do plano “Brasil sem Miséria” e a inauguração da plataforma P-56 da Petrobras, a de maior conteúdo nacional já construída, foram queimadas na fogueira do caso Palocci. A marcação da entrevista do então ministro ao Jornal Nacional para o mesmo dia do lançamento da nossa gigante petroleira, foi uma “pérola” de marketing. A grande festa virou uma “nota coberta” no JN.
A presidente pode e deve dar entrevistas a todos os jornalistas; entrevistas exclusivas, também.
Mas jamais se colocar de mãos atadas à interpretação que a mídia der às suas palavras.
Ela pode ter falado meia hora, e com ênfase, no seu compromisso com o crescimento da economia, do emprego e da renda, da inclusão dos brasileiros ainda miseráveis.
Mas a manchete será a de que ela “tolera” a inflação em nome de um crescimento que é apenas mencionado en passant.
Quem não souber disso e expuser assim a Presidenta, ou é muito ingênuo e acredita que a mídia vai se encantar com as deferências presidenciais, ou é quem não “pegou” a idéia – tantas vezes repetida por Lula – de que, se dependesse dos “formadores de opinião” este país ainda seria o “Brasil da roda-presa”.
do Tijolaço