sábado, 2 de junho de 2012

A prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV) e a governadora do RN, Rosalba Ciarlini (DEM) trocam farpas


Micarla de Sousa (PV) na coletiva de Imprensa
A prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), disse ontem, em entrevista coletiva, que formalizará denúncia contra o governo do estado, administrado pela médica Rosalba Ciarlini (DEM), ao Ministério da Saúde e ao Conselho Nacional de Saúde. A gestora se queixa da não liberação dos recursos federais para a área, que, segundo ela, são depositados na conta do estado para serem repassados ao município. De acordo com Micarla, o débito do governo com a prefeitura já chega a R$ 22 milhões. "Isso é um boicote do governo do estado ao município de Natal", declarou.

Os débitos, frisou a prefeita, são referentes aos recursos destinados ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu), à Assistência Farmacêutica Básica e à manutenção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Pajuçara. Micarla disse que o dinheiro não é repassado desde 2008. Segundo a gestora, caso os recursos tivessem sido repassados normalmente, já teria sido possível colocar quatro UPA's em funcionamento.

Micarla explicou que os recursos que o governo não enviou ao município são repassados pelo Ministério da Saúde para cobrir o atendimento de média complexidade prestado pela Prefeitura de Natal aos pacientes de outras cidades, que não possuem o serviço. "Não dá para continuar pagando pela falta de compromisso do estado com a saúde. Nós deveríamos receber R$ 2 milhões por mês do governo do estado. Não é favor não. O dinheiro vem do Ministério da Saúde para ser repassado", observou.

A prefeita ressaltou que já entrou com uma ação judicial em conjunto com o Ministério Público (MP) para garantir o repasse dos recursos. No entanto, ela frisou que já se passaram seis meses e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) não se posicionou. Segundo Micarla, a governadora Rosalba Ciarlini prometeu, no início do mandato, destinar R$ 4 milhões para a construção de UPA's. "Várias vezes procuramos o ex-secretário Domício Arruda, tivemos reuniões. Mas, até agora, Natal não recebeu nenhum centavo", destacou.

Micarla apelou para que Rosalba Ciarlini, que apoiará a candidatura do deputado federal Rogério Marinho (PSDB) a prefeito de Natal, deixe a política de lado em prol de uma saúde de qualidade para a população natalense. "Faço um apelo à governadora para que possa olhar para a cidade sem pré-julgamento. Que deixe as questões políticas de lado. O povo de Natal não pode ser penalizado. Os nossos munícipes não podem pagar pelo sucateamento da saúde do estado", enfatizou Micarla de Sousa.

Ao comentar as dificuldades, a gestora apontou que a situação difícil pela qual passa a saúde do estado tem consequências em Natal. As demandas de outros municípios, frisou ela, estão sendo atendidas em Natal por falta de estrutura no interior. A prefeita disse ainda que, devido à falta de repasses do governo do estado, está tendo que relocar recursos de outras áreas para atender a demanda. A área que sofreu mais reduções, de acordo com o que a pevista informou, foi a infraestrutura. "Eu tive que trocar paralelepípedos para cuidar dasaúde do nosso povo", afirmou.

Logo no início da tarde, o jornal contatou o assessor de imprensa do governo, Alexandre Mulantinho, para ouvir o outro lado. No entanto, até o fechamento dessa edição nenhuma resposta foi enviada à redação.

Fonte: DN 



Ex-diretor da Abril e Globo responde aos ataques de Reinaldo Azevedo


Dente lupus, cornu taurus petit

Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

E lá vem Reinaldo Azevedo de novo.

Eis que me contam que ele me atacou. Dou um Google, e é verdade. Não deveria responder, mas, em respeito aos eventuais leitores do Diário que tenham lido o texto dele, esclareço algumas coisas:

1) Jamais pedi sua cabeça. Ele afirma que pedi, obliquamente, ao criticá-lo em dois textos. É uma interpretação absurdamente pessoal. Eu estaria pedindo a cabeça de toda pessoa de quem discordasse, e ele, aliás, também. Mas entendo, não obstante, que o debate progredirá quando não houver articulistas que sejam tão raivosos e tão levianos e tão inconsequentes como ele e seu coirmão Diogo Mainardi.

2) Ele diz que sou da turma de Nassif, Paulo Henrique Amorim e Leonardo Attuch. Dos três, conheço pessoalmente apenas Attuch, dos tempos em que trabalhamos juntos na Exame. Já deixei claro em alguns textos o quanto me incomoda, sobretudo em Paulo Henrique mas não só nele, o uso da expressão “PIG”, tão nociva quanto “petralha”.

Não pertenço a turma nenhuma: sou um blogueiro independente. Votei em Fernando Henrique várias vezes, em Lula uma. Optei por Dilma nas últimas eleições porque Serra é Serra, primeiro, e depois porque entendo que o Brasil precisa de um governo que dê foco ao combate à desigualdade social.

3) Reinaldo Azevedo diz que não li Horácio. Essa é uma afirmação que nem minha mulher poderia confirmar ou desmentir, e mostra o nível das afirmações de Reinaldo. Dente lupus, cornu taurus petit. O lobo ataca com dentes, o touro com os chifres, segundo Horácio. Reinaldo Azevedo ataca com o que tem: um ódio cego de alguém fanatizado. “Raiva é uma forma momentânea de loucura”, escreveu Horácio. E quando a raiva é presente em cada instante, como em Reinaldo Azevedo?

4) Afirma que quis ser diretor da Veja. Já escrevi sobre isso no livro “Minha Tribo”, e em resumo o que aconteceu foi o seguinte: fui cogitado, no final dos anos 1990, para dirigir a Veja. Quem me contou a história, com detalhes, foi meu chefe de então,  JR Guzzo. Acabei não sendo a escolha final. Na época, isso não me doeu – eu estava na melhor fase de minha carreira, como diretor da Exame. Bom salário, bons bônus, boa equipe. (Uma outra preterição, sim, mais tarde, esta administrativa e não editorial, me machucou. E acabou provocando, indiretamente, minha saída da Abril. Mas isso ficou muito para trás e tento olhar para a frente. Fiquei muito feliz ao reatar laços com a Abril na forma de colaborador de algumas revistas.)

5) Diz que vai me dar leitores ao falar de mim. Horácio se envergonharia se alguém que de fato o leu fosse tomado de um espasmo de tamanha presunção. Aproveito para esclarecer: não trouxe. Vi agora as estatísticas do Diário e a média de leitura é rigorosamente a mesma.

6) Reinaldo Azevedo diz que bajulei Roberto Civita ao dizer que ele não é Murdoch. Dei minhas razões lá, e não me pesou ao escrever interesse nenhum porque, aos 56 anos, como já disse várias vezes, JAMAIS voltaria a ser executivo de uma empresa. Não tenho mais vontade, não tenho mais motivação, não tenho mais idade. E graças a Deus não preciso de dinheiro: fiz um bom pé de meia. Fazer um site de notícias – independente como o Diário — ao retornar ao Brasil? Aí, sim, meus olhos podem brilhar. Se a Reinaldo Azevedo eu ter dito que Roberto Marinho está muito mais para Murdoch do que Roberto Civita soou realmente como bajulação, talvez seja porque ele próprio esteja em dúvida.

7)  Por fim: prometo não dar seguimento a este “debate”. Os leitores do Diário não merecem. E eu tenho coisas mais importantes a tratar.


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Mino Carta nega que tenha apoiado a ditadura


Foto: Edição/247
Por Brasil247 – Na semana passada, pela primeira vez em sua história, a revista Veja admitiu seu apoio ao regime militar, num artigo escrito pelo sociólogo Demétrio Magnoli (leia mais aqui). Nesta semana, outro Demétrio, Mino Carta, rebate, dizendo que nunca apoiou os generais. Magnoli dizia que Mino, no comando de Veja, bajulava os ditadores. Leia, abaixo, a resposta de Mino:

De volta ao passado

É do conhecimento até do mundo mineral que nunca escrevi uma única, escassa linha para louvar os torturadores da ditadura, estivessem eles a serviço da Operação Bandeirantes ou do DOI-Codi. Ou no Rio, na Barão de Mesquita. E nunca suspeitei que a esta altura da minha longa carreira jornalística me colheria a traçar as linhas acima. Meu desempenho é conhecido, meus comportamentos também. Mesmo assim, há quem se abale a inventar histórias a meu respeito. Alguém que, obviamente, fica abaixo do mundo mineral.
Não me faltaram detratores vida adentro, ninguém, contudo, conseguiu provar coisa alguma que me desabonasse. Os atuais superam-se. Um deles se diz jornalista, outro acadêmico. Pannunzio & Magnoli, binômio perfeito para uma dupla do picadeiro, na hipótese mais generosa de uma farsa cinematográfica. Esmeram-se para demonstrar exatamente o que soletro há tempo: a mídia nativa prima tanto por sua mediocridade técnica quanto por sua invejável capacidade de inventar, omitir e mentir.

Afirmam que no meu tempo de diretor de redação de Veja defendi a pena de morte contra “terrorristas”, além de enaltecer o excelente trabalho da Oban. Outro inquisidor se associa, colunista e blogueiro, de sobrenome Azevedo. E me aponta, além do já dito, como um singular profissional que não aceita interferência do patrão. Incrível: arrogo-me mandar mais do que o próprio. Normal que ele me escale para o seu auto de fé. O Brasil é o único país do meu conhecimento onde os profissionais chamam de colega o dono da casa.

Não há nas calúnias que me alvejam o mais pálido resquício de verdade factual. Os textos que me atribuem para baseá-las nascem de uma mistificação. Pinçados ao acaso e fora do contexto, um somente é de minha autoria e nada diz que me incrimine. E pouparei os leitores de disquisições sobre minha repulsa visceral, antes ainda que moral, à prisão sem mandado, à tortura e à pena de morte. Quando o Estadão foi pioneiro na publicação de um artigo assinado Magnoli, limitei-me a escrever um breve texto para o site de CartaCapital, destinado a contar a história de outra peça de humorismo, escrita em 1970 por um certo Lenildo Tabosa Pessoa, redator, vejam só, do Estadão, e intitulada O Senhor Demetrio. Ou seja, eu mesmo, marcado no batismo por nome tão pesado.

Lenildo pretendia publicar seu texto no jornal, os patrões, Julio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita, não deixaram. Surgiu em matéria paga o retrato de um hipócrita pretensamente refinado que, como Arlequim da política, servia ao mesmo tempo Máfia e Kremlin. O senhor Demetrio, de codinome Mino. Diga-se que Lenildo encontraria eco três anos depois no programa global de um facínora chamado Amaral Neto, também identificado como Amoral Nato, que repetia Lenildo no vídeo. Como se vê, tom e letra das calúnias estão sujeitos a mudanças ideológicas.

Ao negarem espaço nas páginas da sua responsabilidade à diatribe de Lenildo, os herdeiros do doutor Julinho quiseram respeitar a memória do meu pai, que trabalhou no Estadão por 16 anos, e meu honesto e leal desempenho na criação daEdição de Esporte e do Jornal da Tarde. O Estadão, evidentemente, não é mais o mesmo. Lenildo e Amaral Neto me tinham como perigoso subversivo de esquerda. Em compensação, hoje sou acusado de ter dirigido naquele mesmo 1970 uma Veja entregue “à bajulação, subserviência e propaganda da ditadura”. É espantoso, mas a semanal da Abril em 1970 era submetida à censura exercida na redação por militares. Eu gostaria de saber o que acham os senhores Pannunzio, Magnoli e Azevedo a respeito de quem na mídia brasileira se perfilava illo tempore ao lado da ditadura. Ou seja, quase todos.

Quem, de fato foi censurado? Os alternativos, então chamados nanicos, em peso, do Pasquim aOpinião, que depois se tornariaMovimento, sem exclusão de O São Paulo, o jornal da Cúria paulistana regida por dom Paulo Evaristo Arns. A Veja, primeiro por militares, depois por policiais civis no período Médici. Com Geisel, passou a ser censurada diariamente, de terça a sexta, nas dependências da Polícia Federal em São Paulo, e aos sábados, à época dia de fechamento, na própria residência de censores investidos do direito a um fim de semana aprazível. Enquanto isso, Geisel exigia que os alternativos submetessem seu material às tesouras censórias em Brasília, toda terça-feira.

Sim, o Estadão também foi censurado e com ele o Jornal da Tarde. A punição resultava de uma briga em família. O jornal apoiara o golpe, mas sonhava com a devolução do poder a um civil, desde que se chamasse Carlos Lacerda. Este não deixava por menos nas suas aventuras oníricas. O Estadão acabou sob censura, retirada contudo em janeiro de 1975, no quadro das celebrações do centenário do jornal. Carlos Lacerda foi cassado. Diga-se que ao Estadãopermitia-se preencher os espaços vagos deixados pelos cortes com versos de Camões, em geral bem escolhidos, e ao Jornal da Tarde com receitas de bolo, às vezes discutíveis. O resto da mídia não sofreu censura. Não era preciso.

Quando me chamam para fazer palestras em cursos de jornalismo, sempre me surpreendo ao verificar que o enredo que acabo de alinhavar é ignorado pelos alunos e por muitos professores. Acham que a censura foi ampla, geral e irrestrita. Meus críticos botões observam que me surpreendo à toa. Pois não se trata de futuros Pannunzios, Magnolis e Azevedos? No caso deste senhor Reinaldo, vale acentuar uma nossa específica diferença. Não me refiro ao fato de que eu reputo Antonio Gramsci um grande pensador, enquanto ele o define como terrorista. A questão é outra.

Ocorre que, ao trabalhar e ao fazer estágios na Europa, entendi de vez que patrão é patrão e empregado é empregado, e que para dirigir redações o profissional é chamado por causa de sua exclusiva competência. Ao contrário do que se dá no Brasil, por lá não há diretores por direito divino. Por isso, ao deixar o Jornal da Tarde para tomar o comando dos preparativos do lançamento de Veja, me senti em condições de exigir certas garantias.

No Estadão tivera um excelente relacionamento com a família Mesquita, fortalecido pela lembrança que cultivavam de meu pai, iniciador da reforma do jornal que Claudio Abramo aprofundou e completou. Gozei na casa então ainda do doutor Julinho, filho do fundador, de grande autonomia, aquela que facilitou a criação de um diário de estilo muito próprio, arrojado na diagramação, em busca de qualidade literária no texto. Estava claro, porém, que a linha política seria a da família. Com os Mesquita me dei muito bem, foram de longe meus melhores patrões, talvez os remanescentes não percebam que por eles tenho afeto, embora, saído doEstadão, não me preocupasse em mostrar que minhas ideias não coincidiam com as deles.

Convidado finalmente pelos Civita para a empreitada de Veja, solicitei uma liberdade de ação diversa daquela de que gozara no Jornal da Tarde. Só aceitaria o convite se os donos da Abril, uma vez definida a fórmula da publicação, se portassem como leitores a cada edição, passível de discussão está claro, mas a posteriori, quer dizer, quando já nas bancas.

Pedido aceito. A primeira Veja, espécie de newsmagazine à brasileira, foi um fracasso. Além disso, já irritou os fardados por trazer na capa a foice e o martelo. A temperatura subiu com a segunda capa, a favor da Igreja politicamente engajada. A quinta, com a cobertura do congresso da UNE em Ibiúna, foi apreendida nas bancas. E também o foi aquela que celebrou a decretação do AI-5 no dia 13 de dezembro de 1968. Tempos difíceis. Mas a edição de mais nítido desafio aos algozes da ditadura é de mais ou menos um ano depois. A chamada de capa era simples e direta: “Torturas”, em letras de forma.

A história desta reportagem começou cerca de três meses antes, com uma investigação capilar conduzida por uma equipe de oito repórteres encabeçada por Raymundo Rodrigues Pereira. Foram levantados 150 casos, três deles nos detalhes mínimos. Emílio Garrastazu Médici acabava de ser escolhido para substituir a Junta Militar e pela pena do então coronel Octavio Costa acenava em discurso, pretensamente poético ao declinar a origem do novo ditador por dizê-lo vindo do Minuano, à necessidade do abrandamento da repressão. Raymundo e eu recorremos a um estratagema, e saímos com uma edição anódina para celebrar o vento gaúcho. Falávamos da posse, da composição do ministério, do discurso. Chamada de capa: “O Presidente Não Admite Torturas”.

Ofereço este número de Veja à aguda análise de Pannunzios, Magnolis, Azevedos e quejandos. (Nada a ver com queijo.) Bajulação e subserviência estão ali expostas da forma mais redonda. Naquele momento, a mídia foi atrás de Veja, e por três dias falou-se mais ou menos abertamente de tortura. Logo veio a proibição, que Veja ignorou. Na noite de sexta-feira a reportagem da equipe de Raymundo descia à gráfica para arrolar 150 irrefutáveis casos de tortura, dos quais três em detalhes. Ao mesmo tempo, eu mandava cortar os telefones da Abril para impedir ligações de quem pretendesse interferir, autoridades, patrões e intermediários. A edição foi apreendida nas bancas, e logo desembarcou na redação a censura dos militares.

Quando ouvi falar em distensão pela primeira vez, meados de 1972, pela boca do general Golbery, à época presidente da Dow Chemical no Brasil, pareceu-me possível alguma mudança na sucessão de Médici. De fato, Golbery, que vinha de conhecer, articulava na sombra a candidatura de Ernesto Geisel, títere sob medida para as suas artes de titereiro. Meados de 1973, assenta-se a candidatura obrigatória de Geisel. Alguns meses após, ministério em gestação, Golbery, futuro chefe da Casa Civil à revelia de Médici, me sugere uma conversa com o recém-convocado para a pasta da Justiça, Armando Falcão. Assunto: fim da censura em clima de distensão.
Conversei duas vezes com Falcão enquanto Roberto Civita entre janeiro e fevereiro de 1974 apontava em Hugh Hefner um notável filósofo da modernidade. Mal assumiu a pasta, dia 19 de março de 1974, Falcão chamou-me a Brasília para comunicar que a censura se ia naquele instante. Sublinhei: “Sem compromisso algum de nossa parte”. “Claro, claro”, proclamou, e me deu de presente seu livro de recente publicação, intitulado A Revolução Permanente. Mais tarde Golbery comentaria: “Falcão é o nosso Trotski”.

Três semanas após, a censura voltou, mais feroz do que antes. Duas reportagens causaram a costumeira irritação, fatal foi uma charge de Millôr Fernandes. Em revide, decretava-se que a censura seria executada em Brasília às terças-feiras. Fui visitar Golbery no dia seguinte, eu estava de veneta rebelde, levei meus dois filhos meninotes, e andei pela capital federal de limusine. No meu livro de próxima publicação, O Brasil, a sair pela Editora Record como O Castelo de Âmbar, descrevo assim a visita ao chefe da Casa Civil.

“A secretária do ministro, dona Lurdinha, senhora de modos caseiros, redonda rola sobre o carpete sem perder o sorriso, chega-se ao meu ouvido, murmura: “Veio também o senhor Roberto Civita, quer ser recebido mas não tem hora marcada”. Não deixo que o tempo se estique inutilmente, tomo a visão panorâmica da antessala e vejo Arci, entalado em uma poltrona com expressão perdida na paisagem da savana descortinada além das vidraças. “Que faz aqui?” E ouço meu próprio latido.

“Vici me contou que você viria, e eu gostaria…”
“Você não pediu audiência, não tem hora”, proclamo.


Ele insiste, à beira da imploração. O meu tom chama a atenção de Manuela e Gianni, encaram a cena sem entender o assunto, percebem porém que o pai está muito irritado, enquanto o outro tem jeito de pedinte. Lurdinha traz uma laranjada para as crianças e avisa que o general está à espera. Admito: “Você entra comigo, mas se compromete a não abrir a boca”. Ele promete.

Na conversa que se segue no gabinete da Casa Civil, o meu argumento é óbvio, Veja é uma revista semanal que encerra o trabalho na noite de sábado e vai às bancas às segundas-feiras, obrigá-la a submeter textos e fotos aos censores na terça significa inviabilizá-la. Pergunto a Golbery: “Os senhores pretendem que Veja simplesmente acabe?” Não, nada disso. “Então é preciso pôr em prática outro sistema.”

O chefe da Casa Civil entende e concorda. Diz: “Vá até o Ministério da Justiça, fale com Falcão, a Lurdinha já vai avisá-lo, diga a ele que vamos procurar uma saída até amanhã no máximo, a próxima edição tem de sair regularmente”.

Golbery fica de pé, hora da despedida. O general não conhecia o patrãozinho que até aquele momento cumpriu a promessa feita na antessala. E de supetão abre a boca: “General, se o senhor acha que devemos tomar alguma providência em relação ao Millôr Fernandes…”


Vici e Arci, ou seja, Victor Civita e Roberto Civita, assim se chamavam no castelo envidraçado à beira do Tietê, esgoto paulistano ao ar livre. Esse entrecho já o desenrolei em O Castelo de Âmbar sem merecer desmentido e o próprio Millôr o colocou no ar do seu blog logo após a publicação no final de 2000. Ao sair do gabinete de Golbery, eu disse a Roberto Civita “você é mesmo cretino”, como depois o definiria na conversa de despedida com o pai Victor, mas poderia dizer coisa muito pior. Quanto à minha saída da direção de Veja e de conselheiro board abriliano, descrevi o evento em editorial de poucas semanas atrás. Faço questão de salientar, apenas e ainda, que não fui demitido, e sim me demiti para não receber um único centavo das mãos de um Civita, nem que fosse a comissão pelo empréstimo de 50 milhões de dólares recebidos pela Abril da Caixa Econômica Federal, juntamente com o fim da censura, em troca da minha cabeça. A revista prontamente caiu nos braços do regime.

A partir daí, tive de inventar meus empregos para viver. Ou por outra, para viver com um salário infinitamente menor (insisto, infinitamente) do que aquele dos importantes da imprensa, e nem se fale daqueles da televisão. Ganham mais que os europeus e de muitos americanos. Em outro país, um jornalista com o meu passado não sofreria as calúnias de Pannunzios, Magnolis e Azevedos, e de vários que os precederam. Muito representativos de uma mídia que manipula, inventa, omite e mente. Observem os fatos e as mentiras da atualidade imediata, o caso criado pelo protagonismo de Gilmar Mendes e pela ferocidade delirante dos chapa-branca da casa-grande. Além do mais, há em tudo isso um traço profundo de infantilidade, um rasgo abissal, a provar o estágio primitivo da sociedade do privilégio, certa de que a senzala aplaude Dilma e Lula e mesmo assim se conforma, resignada, dentro dos seus habituais limites.

Os caluniadores são, antes de mais nada, covardes. Sentem as costas protegidas pela falta generalizada de memória, ou pela pronta inclinação ao esquecimento. Pela impunidade tradicional garantida por uma Justiça que não pune o rico e poderoso. Pelo respaldo do patrão comprometido com a manutenção do atraso em um país onde somente 36% da população conta com saneamento básico, e 50 mil pessoas morrem assassinadas ano após outro. Confiam no naufrágio da verdade factual, pela enésima vez, e que tudo acabe em pizza, como outrora se dizia, a começar pela CPI do Cachoeira e pela pantomima encenada por Gilmar Mendes. E que o tempo, vertiginoso e fulminante como sempre, se feche sobre os fatos, sobre mais uma grande vergonha, como o mar sobre um barco furado.

Sindicato questiona João Sayad sobre o desmonte da Rádio e TV Cultura


Sayad também foi questionado pelo SJSP
Na última quarta-feira (30/5), a direção do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo participou da reunião aberta da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa, que recebeu o presidente da Fundação Padre Anchieta, gestora da Rádio e TV Cultura, João Sayad. No encontro, o objetivo era obter esclarecimentos sobre o processo de desmonte pelo qual está passando a emissora pública paulista.

Segundo o portal Mundo Sindical, o desmonte é "fruto da visão gerencial tucana, que efetuou demissões em massa e enxugou o quadro de funcionários em detrimento da qualidade dos programas, realizados com baixos investimentos e com poucos profissionais."

Espaço

O assunto mais polêmico foi a cessão de espaço na programação de uma emissora pública, financiada com recursos do contribuinte, para o programa da TV Folha, grande grupo privado de comunicação. O Sindicato distribuiu boletim "denunciando a privataria tucana na Rádio e TV Cultura", além de fixar faixa "repudiando o desmonte" no auditório Teotonio Vilela onde ocorreu o encontro.

Reestruturação

Sayad procurou justificar o processo de "reestruturação" efetuada na sua gestão. "Tenho orgulho de ter resolvido os problemas trabalhistas da RTV Cultura", disse. O economista que foi indicado para o cargo pelo ex-governador José Serra (PSDB) mostrou-se satisfeito com os resultados, apesar dos baixos índices de audiência. 

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo José Augusto Camargo (Guto) foi o primeiro a questionar a cessão do espaço. "Além das demissões que ocorreram, me parece que ceder espaço para a TV Folha é inadequado. Há uma discordância de princípios quanto a isso. Quer dizer que o modelo de financiamento é com a venda de serviços? Afinal, qual o modelo que a TV Cultura quer representar?”, questionou.

Participantes

Também estiveram presentes as diretoras do Sindicato Telé Cardim e Ivani Sessa. O evento, presidido pelo deputado Simão Pedro (PT/SP), teve participação dos deputados João Paulo Rillo (PT), Beto Tricoli (PV), Carlos Giannazi (Psol), Sebastião Santos (PRB), Edson Ferrarini (PTB) e a deputada Leci Brandão (PC do B). Presença de diversas entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Intervozes, Centro de Estudos Barão de Itararé e Sindicato dos Radialistas, além de diversas representações de entidades ligadas aos meios de comunicação. 

Fonte: Portal Imprensa