quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O efeito Marta Suplicy é sentido em mais cinco capitais do país



por Paulo de Tarso Lyra no Correio Brasiliense

A pressão para que a senadora Marta Suplicy desista de concorrer à prefeitura de São Paulo e apoie a candidatura de Fernando Haddad abre o precedente para que as disputas em outros estados sejam solucionadas da mesma maneira. O efeito da doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acrescentou um novo componente às articulações internas do PT: o constrangimento de dizer não a um pedido de uma liderança tão expressiva que enfrenta um momento tão difícil. “À capacidade natural de Lula de articulação soma-se, agora, o componente emocional. Passou a ser muito mais difícil dizer não ao Lula”, confirmou ao Correio um ministro influente do governo Dilma.

O caso de Marta foi emblemático. Há pouco mais de um mês, o próprio Lula e a presidente Dilma Rousseff tinham conversado com a senadora para que ela abrisse mão da candidatura, o que praticamente eliminaria a possibilidade da realização de prévias em São Paulo. Na época, ela fez ouvidos moucos. “Se o PT quiser perder, basta lançar Haddad como candidato”, disse Marta, pouco depois do primeiro contato, durante uma das caravanas do partido com os pré-candidatos à prefeitura paulistana.

O cenário agora mudou. Dilma fez questão de conversar com Marta no aeroporto, antes de embarcar para a reunião do G-20, que ocorre em Cannes, na França. O recado de que esse seria o mesmo desejo do ex-presidente Lula foi dado um dia depois de Dilma visitá-lo no Hospital Sírio-Libanês, onde o ex-presidente se recuperava da primeira sessão de quimioterapia. Marta anuncia hoje a desistência da pré-candidatura. A pressão agora vai recair sobre os outros pré-candidatos, Jilmar Tatto e Carlos Zarattini.

O argumento está dado para outras capitais onde o PT insiste em disputas internas que poderão sangrar o partido ou deixá-lo em situação incômoda com os aliados. O provável mensageiro do recado de Lula será o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Ele já estava afinado com Lula e Dilma há um bom tempo, em busca da construção de consensos nas capitais. Amanhã, ele estará em Fortaleza para conversar com a prefeita Luizianne Lins, que ameaça descumprir a orientação da direção nacional.

Negociações

 
A visita de Falcão será antecedida do lançamento do livro do ex-ministro José Dirceu, Tempos de Planície. Em conversa por telefone com Lula, o todo-poderoso petista afirmou que “ele (Lula) sabe que pode contar comigo sempre”. Em 2004, Dirceu e o então presidente nacional do PT, José Genoino (SP), tentaram convencer, sem sucesso, Luizianne a desistir de candidatar-se à prefeitura. Hoje, ela apoia o secretário de governo Waldemir Catanho, a quem chama de “meu Obama”. Mas o PT quer manter a aliança com o governador do estado, Cid Gomes. Uma saída pode ser a construção da candidatura do deputado federal Artur Bruno.

Para o vice-presidente nacional do PT, deputado José Guimarães (CE), as negociações para fortalecer os consensos no partido após a doença de Lula dispensam a necessidade de reuniões formais. “Daqui por diante, esse será o caminho no partido, até como uma homenagem ao constante esforço do Lula pela nossa união”, concordou Guimarães.

Em Minas, a equação precisa ser resolvida. Atualmente, o partido está como vice na chapa do prefeito Marcio Lacerda, do PSB. No congresso da legenda foi acertada resolução recomendando alianças com os mesmos partidos que compõem o arco de parceiros no plano federal. O problema é que Lacerda também conta com o apoio do PSDB, e muitos petistas são contra a aproximação. Em 2008, o apoio a Lacerda foi costurado pelo então prefeito de Belo Horizonte e atual ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
Na época, Lula concordou, mas disse que Pimentel teria que construir um caminho dentro do PT para viabilizar a parceria. A exemplo de 2008, alguns petistas defendem a candidatura de Patrus Ananias.

O jogo nas capitais


O efeito Marta pode replicar em:
Porto Alegre
Parte do partido, principalmente a esquerda, defende a candidatura própria, possivelmente Raul Pont. Outra parte está seduzida pelos acenos dados pelo atual prefeito, José Fortunatti (PDT), em troca de apoio para 2014. Já o governador Tarso Genro negocia o apoio à candidatura da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB).

Belo Horizonte
A cidade é um problema desde a disputa municipal de 2008. A tendência é que o PT mantenha apoio ao atual prefeito, Márcio Lacerda (PSB), já que ele é do arco de alianças de esquerda. Mas falta saber qual o papel do PSDB de Aécio Neves na coligação. Uma parte dos petistas defende que o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, saia candidato.

Recife
O PT se digladia no estado em torno do atual prefeito, João da Costa (foto), que é mal avaliado politicamente, mas tem a máquina municipal, e o ex-prefeito João Paulo, com mais densidade eleitoral e menor chance para agregar. Como pano de fundo, há a briga do PT local com o governador Eduardo Campos, que reclama da invasão petista em suas bases eleitorais, especialmente Petrolina. Como vingança, transferiu o domicílio eleitoral do ministro Fernando Bezerra Coelho para o Recife.

Manaus
Setores do partido querem lançar candidatura própria para a prefeitura da capital. O PT nacional quer manter o apoio ao atual prefeito, Amazonino Mendes (PDT).

Fortaleza
A prefeita Luizianne Lins lançou o nome do secretário de governo Waldemir Catanho. O governador Cid Gomes (PSB) não aceita. A maioria das tendências do PT está ao lado de Cid, mas Luizianne ameaça romper a aliança. Um nome de consenso em construção é do deputado federal Artur Bruno (PT).

Nenhum comentário: