Por Rodrigo Cavalcante
Equipe
Prof. David Fleischer, da UNB Foto: Daiane Souza |
A onda de demissões de ministros no Governo Dilma, desencadeada por denúncias publicadas nos principais jornais e revistas do País, é apenas um dos pontos que demonstram a relevância da relação entre imprensa e a presidente neste primeiro ano de governo - o que levou a Revista IMPRENSA a tratar o assunto em sua próxima edição.
Ainda assim, a chamada "faxina ministerial" figura entre os "grandes acontecimentos" do ano brasileiro. Não por acaso. Se, por um lado, trouxe a mesmice da corrupção que se alastra no Estado brasileiro, por outro, expôs uma presidente, ao menos, objetiva na tomada de decisões e intolerante diante do deslizes éticos de sua equipe, na comparação com o antecessor.
Confira abaixo um trecho da entrevista com o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), o brasilianista David Fleischer, onde fala sobre a postura de Dilma nos episódios e compara o governo da presidente com o de Lula, em termos éticos, e aposta que "mais uns cinco ou seis" caiam na reforma ministerial programada para janeiro.
IMPRENSA - Como o sr. tem visto a relação entre Dilma e a imprensa nos episódios da "faxina ministerial"?
David Fleischer - Hoje, a imprensa tem feito seu papel através do jornalismo investigativo. Foi ela que ajudou a botar esses caras para fora. Mas, pessoalmente, acho também que Dilma soube usar a imprensa muito bem. No caso do ministro [Alfredo] Nascimento, dos Transportes, ela disse numa sexta-feira: 'Eu tenho confiança no cara'. Na quarta-feira, ele caiu. A mesma coisa aconteceu com o ministro da Agricultura [Wagner Rossi]. Numa sexta-feira, ela falou: 'Eu tenho confiança no cara'. Na quarta, ele caiu. Foi uma senha que Dilma deu para a imprensa, para dizer: 'Liquida o cara!'. E a imprensa liquidou. Esta foi minha impressão.
A faxina foi uma forma de procurar eliminar a chamada "herança maldita" do Lula?
Eu não sei se ela procurou isso, mas, coincidentemente, todos os seis que já caíram eram lulistas, gente que Lula tinha posto em cima dela. Ela não gostou de alguns, mas engoliu a seco e aceitou, afinal, devia tudo a Lula, que a elegeu. Então, agora aos poucos, ela está colocando seu próprio logotipo no governo.
A presidência falhou ao aceitar colocar estes ministros no poder?
Não sei se a palavra "falhar" é a palavra certa. Digamos que ela acertou a contragosto. Não tinha como não aceitar; faz parte do jogo.
Dilma e o Governo Dilma são mais éticos que Lula e o Governo Lula?
Esta é uma pergunta interessante. Você tem oito anos de [Fernando Henrique] Cardoso e oito anos de Lula. Os dois tiveram problemas graves de corrupção, mas fingiam que não enxergavam. Tanto um, quanto o outro, o modus operandi era olhar para o outro lado, fingir que não estava vendo. A Dilma, ao contrário, enxergava bem e, mais ou menos rápido, substituiu as pessoas. O único que ela demorou um pouco mais foi o Palocci, e dizem que ela admite que demorou demais. Mas, Palocci era um pouco diferente, porque era o chefe da Casa Civil, um homem extremamente poderoso. De qualquer forma, ela tem reagido mais à altura do que os outros dois. Esse ministro dos Transportes [Alfredo Nascimento] deu muito tanto trabalho para [Fernando Henrique] Cardoso e para Lula também. Com a Dilma, é um pouco diferente, porque ela teve um test drive de quase cinco anos como ministra da Casa Civil, então, ela viu a coisa e todos os podres por dentro. Na Casa Civil, você vê tudo.
Como deve ser a postura da presidente na reforma ministerial programada para janeiro? Ela deve esperar o ano que vem, caso a situação de outros ministros se agrave?
Na reforma, vão dançar mais uns cinco ou seis. Mas, vai ser o seguinte: 'Você vai sair mais cedo para você iniciar sua campanha logo'. Foi assim que Lula agiu no início de 2004, mas não adiantou. Como diz o Jorge Hage [ministro-chefe da Controladoria Geral da República], o ministério dos Transportes tem corrupção no DNA. Se pintar ou explodir alguma outra coisa, ela vai agir da mesma maneira que vem agindo. Inclusive, parece que ela estava esperando para trocar o ministro dos Esportes na reforma, mas, apesar de comunista, não deu pra segurar (risos).
Fonte: Portal Imprensa
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