quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Jornal Nacional: a influência continua?


A substituição de Fátima Bernardes por Patrícia Poeta na bancada aponta para uma redefinição do principal telejornal brasileiro; a apresentadora do Fantástico leva beleza para os telespectadores, na tentativa de reverter um dos piores índices de audiência do JN, que tinha mais de 50 pontos no Ibope com Cid Moreira e Sérgio Chapelin; mas Patrícia tem credibilidade?


247 – A escolha da apresentadora do Fantástico para substituir Fátima Bernardes na bancada do Jornal Nacional acena para uma mudança no perfil do principal telejornal brasileiro. A chegada de Patrícia Poeta indica que o JN vai ter um caráter mais revistado, como o programa dominical, com jeito descontraído e até mais glamour. A decisão de levar para o lugar de Fátima a jornalista consagrada como “garota do tempo” pode ser uma manobra da TV Globo para alavancar a audiência do Jornal Nacional. Enquanto nos tempos áureos de Cid Moreira e Sérgio Chapelin, o JN registava mais de 50 pontos no Ibope, hoje a média é de 30 pontos (segundo a Record, 29).

Apesar de bastante vistosa, Patrícia não tem a trajetória de Fátima, que começou carreira na Globo como trainee, atuou em várias áreas de produção e reportagem até ascender à âncora, em 1998, ao lado do marido, William Bonner. A recém-anunciada âncora do Jornal Nacional começou carreira na Band em Porto Alegre, em 1997. Três anos depois, mudou-se para São Paulo para apresentar na Globo a previsão regional do tempo. Em 2001, casou com o então diretor da Globo Internacional, Amauri Soares, e tornou-se correspondente em Nova York. Sete anos depois, substitutiu Glória Maria no Fantástico.

Neste ano, Patrícia Poeta protagonizou uma gafe presidencial que virou meme na internet. Ela levou uma patada de Dilma Rousseff e ficou visivelmente constrangida no ar. Ao tratar das ações do Congresso Nacional, a jornalista perguntou: “Como é que a senhora controla esse toma-lá-dá-cá, cada vez mais sem cerimônias das bancadas?” À queima roupa, Dilma disparou: “Você me dá um exemplo do dá-cá que eu te explico o toma-lá”.

Mas a falta do jogo de cintura da jornalista não implicou reprovação dela no teste da direção da Globo. Justamente porque a emissora busca agradar à audiência de hoje com menos hard news – política e economia – e mais frivolidades. Patrícia Poeta faz o estilo jornalista-modelo, não por ser um exemplo de jornalista com carreira impecável, mas uma jornalista com pose de modelo.

Para o público Homer Simpson, como William Bonner definiu o telespectador médio em 2005, seria mais empolgante assistir a notícias bobas e leves do que entender, de fato, as grandes questões do País. Se Cid Moreira e Sérgio Chapelin emprestavam voz e seriedade às notícias do Jornal Nacional, foi William Bonner que se tornou ícone do jornalismo com personalidade da Globo. Primeiro, ao lado de Lillian Witte Fibe e, depois, com Fátima – este dueto, muito bem recebido em milhões de lares brasileiros. A despeito da popular dobradinha, os números da Globo caem ano após ano.

A aposta do JN em Patrícia Poeta lembra a estratégia das telenovelas, cada vez mais depositando fichas em mulheres bonitas às 19h e 21h. Como não ter beleza e “presença” às 20h? Nesse jornalismo que cultiva a aparência (afinal, é TV, oras!), Patrícia Poeta tem credibilidade?

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