domingo, 18 de dezembro de 2011

É guerra: Merval ataca Amaury e Nassif rebate


O livro “Privataria tucana” continua fazendo estragos; agora, entre jornalistas; neste domingo, Merval Pereira, da Globo, detonou o livro de Amaury Ribeiro Júnior, a quem chamou de “propagandista da campanha petista” ; o blogueiro Luís Nassif, ex-colunista da Folha, saiu em defesa do colega

do Brasil 247 

Ilustração do Blog
O jornalista Merval Pereira conseguiu uma façanha rara: é o único membro da Academia Brasileira de Letras que nunca escreveu um livro. Chegou lá graças a uma compilação de colunas publicadas em O Globo. Na organização da família Marinho, Merval foi diretor de jornalismo, mas hoje é apenas articulista do jornal e da Globonews.

Neste domingo, ele fez um duro ataque ao jornalista Amaury Ribeiro Júnior, autor de “Privataria tucana”, a quem chamou de “propagandista da campanha petista”. Merval lembrou ainda que Amaury foi indiciado por diversos crimes e desqualificou todo o conteúdo do livro. Nossa opinião, no 247, é que, apesar de eventuais erros de apuração, o livro de Amaury não pode ser comparado a um novo dossiê Cayman. Ele comprova, com documentos, que Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro do PSDB, se beneficiou das privatizações – aliás, o mundo inteiro sabe, uma vez que, Ricardo Sérgio, quando grampeado, disse agir no “limite da irresponsabilidade” (clique aqui e saiba qual é a posição do 247 sobre “Privataria”).

Imediatamente após o ataque de Merval, Amaury Ribeiro Júnior contou com a defesa do blogueiro Luís Nassif, ex-colunista da Folha de S. Paulo. Nem precisava. A crítica de Merval fará com que o livro, em sexto lugar na lista de Mais Vendidos da Veja (leia mais aqui), venda ainda mais.

Leia, abaixo, a crítica de Merval Pereira:

O livro “Privataria tucana”, da Geração Editorial, de autoria de Amaury Ribeiro Jr, é um sucesso de propaganda política do chamado marketing viral, utilizando-se dos novos meios de comunicação e dos blogueiros chapa-branca para criar um clima de mistério em torno de suas denúncias supostamente bombásticas, baseadas em “documentos, muitos documentos”, como definiu um desses blogueiros em uma entrevista com o autor do livro.
Disseminou-se a idéia de que a chamada “imprensa tradicional” não deu destaque ao livro, ao contrário do mundo da internet, para proteger o ex-candidato tucano à presidência José Serra, que é o centro das denúncias.
Estariam os “jornalões” usando dois pesos e duas medidas em relação a Amaury Jr, pois enquanto acatam denúncias de bandidos contra o governo petista, alegam que ele está sendo processado e, portanto, não teria credibilidade?

É justamente o contrário. A chamada “grande imprensa”, por ter mais responsabilidade que os blogueiros ditos independentes, mas que, na maioria, são sustentados pela verba oficial e fazem propaganda política, demorou mais a entrar no assunto, ou simplesmente não entrará, por que precisava analisar com tranqüilidade o livro para verificar se ele realmente acrescenta dados novos às denúncias sobre as privatizações, e se tem provas.
Outros livros, como "O Chefe", de Ivo Patarra, com acusações gravíssimas contra o governo de Lula, também não tiveram repercussão na "grande imprensa" e, por motivos óbvios, foram ignorados pela blogosfera chapa-branca.

Desde que Pedro Collor denunciou as falcatruas de seu irmão presidente, há um padrão no comportamento da “grande imprensa”: as denúncias dos que participaram das falcatruas, sejam elas quais forem, têm a credibilidade do relato por dentro do crime.

Deputado cassado e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson desencadeou o escândalo do mensalão com o testemunho pessoal de quem esteve no centro das negociações, e transformou-se em um dos 38 réus do processo.

O ex-secretário de governo Durval Barbosa detonou a maior crise política da história de Brasília, com denúncias e gravações que culminaram com a prisão do então governador José Roberto Arruda e vários políticos.
E por aí vai. Já Amaury Ribeiro Jr. foi indiciado pela Polícia Federal por quatro crimes: violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso de documentos falsos e oferta de vantagem a testemunha, tendo participado, como membro da equipe de campanha da candidata do PT, de atos contra o adversário tucano.
O livro, portanto, continua sendo parte da sua atividade como propagandista da campanha petista, e evidentemente tem pouca credibilidade na origem.

E leia também a resposta de Luís Nassif:

Brizola Neto lembrou há dias que Merval Pereira era o repórter da tentativa de difamação (definida no Art. 139 do Código Penal, como tentativa de imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação) na referida reportagem do Globo. A acusação, estampada em primeira página, era de que o então candidato à Presidência da República, em 1989, fora fotografado ao lado do traficante Eureka, da Rocinha.

Não era.

O Globo foi condenado a dar direitos de respostas, mas continuou perseguindo o rapaz, na verdade, um líder comunitário chamado José Roque.

O texto abaixo é de Caio Túlio Costa, á época ombudsman da Folha. Funciona como um documento importante para ajudar as novas gerações a não cometerem os mesmos equívocos.

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Receitas para perseguir um candidato

São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1989

CAIO TÚLIO COSTA

Na disputada imprensa brasileira para saber quem persegue melhor um candidato, o jornal "O Globo" leva o melhor prêmio esta semana. O alvo foi Leonel Brizola, do PDT. A Folha também concorreu mas não conseguiu suplantar o desafiante carioca.

"O Globo" estava praticamente "fechado" na quinta-feira, na finalidade os preparativos para entrar nas rotinas, quando recebeu uma informação, via jornal "O Dia", de que a polícia havia estourado um ponto de tráfico e achara uma foto de Brizola abraçando um traficante. O jornal segurou sua primeira página e despachou equipe para o local.

Lá recolheu informações, dada por um detetive-inspetor da polícia, Horácio Reis, de que Brizola estava abraçando Eureka, um traficante. A noticia acompanhada da foto do abraço ganhou destaque na primeira página de sexta-feira : "polícia acha pôster de Brizola com traficante". A foto ocupava parte da cabeça do jornal e a legenda dizia que Brizola estava "sorrindo e abraçado com o traficante Eureka".

O jornal começou a ser impresso com a informação apenas na sua capa mas foi rapidamente providenciado um segundo clichê e ela também foi incluída nas páginas internas, na seção Grande Rio. Houve uma decisão de tratar o assunto como caso de polícia. "Registramos uma coisa que nos parecia escandalosa", disse a este colunista o diretor de Redação do "O Globo", Evandro Carlos de Andrade.

Quando o jornal surgiu nas bancas foi o maior estrago. O rapaz apareceu e disse que não é o traficante Eureka, chama-se José Roque Ferreira, tem 39 anos, foi candidato a vereador no Rio e preside a Associação de Moradores Morro do Telégrafo, em Mangueira. Esta última informação o próprio " O Globo" tinha na quinta-feira mas não deu importância, preferiu confiar no inspetor Horácio Reis. "Era a responsabilidade política de um policial", afirma Evandro. O diretor do jornal argumenta ainda da que "não se podia, em função do horário, fazer uma apuração rigorosa".

Agora o "O Globo" está sendo processado. Brizola entrou com queixa na Justiça comum (calúnia) e outra na Justiça Eleitoral. Quer direito de resposta. O "O Globo" terá que retratar-se uma vez provado que errou. Mas "O Globo" continua investigando a vida de José Roque (que desafiou a polícia a prendê-lo) e reafirmou na sua edição de ontem que o detetive-inspetor Horácio Reis tem certeza de que Roque é ligado ao comércio de entorpecentes. Conforme Evandro, "ainda fica alguma coisa no ar pela indicação do detetive-delegado".

Qual a razão de tudo isto? Por que um jornal se apressa em publicar determinados fatos contra alguém? Critério jornalístico não é uma resposta válida. O ombudsman do jornal espanhol "El País" costuma repetir um velho principio do jornalismo segundo quem uma única fonte é insuficiente para bem redigir uma notícia e é desastrosa para redigir uma boa reportagem.

No afã de atingir Brizola bastou a palavra de um inspetor da polícia carioca para levar o jornal a abrir na sua capa um assunto que "aparentava" ser quente. Tentou bater em Brizola e acabou batido, dada a repercussão do caso. E o candidato ganhou mais munição para sua campanha.

Sem reconhecer objetivamente que errou - na esperança de que ao guardar a decisão da Justiça o tempo passe e o assunto morra. "O Globo" perde ainda mais pontos. Não há demérito em recolher erros. Está certo, o jornal deu espaço ontem tanto para Brizola quanto para o rapaz ofendido, mostrou em título e chamada de capa que o secretário de Polícia Civil do Rio diz que não há informações sobre seu envolvimento com tráfico. No entanto, não reconheceu o erro porque ainda não se acha de todo errado apesar das evidências em contrário

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