Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho
Ilustração do Observatório |
Mesmo num dia como hoje, por exemplo, em que acordei mais poético, não poderia deixar de registrar o flagrante da hipocrisia tucana publicado na "Folha" desta quinta-feira de final de 2011.
Ilustre desconhecido até outro dia, o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP), líder dos tucanos na Câmara Federal, notabilizou-se este ano por estar sempre de plantão diante dos microfones (desbancou até o impagável Álvaro Dias) para denunciar os malfeitos do governo.
Duarte Nogueira não perdoa: até ontem, já tinha feito 41 pedidos de investigação contra ministros e servidores públicos alvos de denúncias de irregularidades variadas.
Entre os denunciados, estava Pedro Novais, ex-ministro de Turismo, acusado de pagar com dinheiro público a empregada doméstica e o chofer da família. Ao pedir para Novais ser investigado, Duarte Nogueira caprichou na valentia:
"Uma denúncia de prática de ilegalidade ou imoralidade por um ministro de Estado é gravíssima e não pode ser deixada de lado pelos poderes constituídos para ser esquecida pelo tempo".
Pois, sim, claro, o deputado tem toda razão. E não é que ele foi flagrado esta semana fazendo exatamente a mesma coisa?
Repórteres da "Folha" descobriram que José Paulo Alves Ferreira, mais conhecido como Paulo Pedra, contratado em julho como secretário parlamentar pelo gabinete do deputado tucano, está trabalhando em Ribeirão Preto como motorista particular da família Duarte Nogueira.
Leva os filhos da excelência ao colégio, à aula de inglês, aos ensaios de uma banda de música... Confrontado com os fatos, o bravo líder oposicionista, que é um leão na tribuna e diante dos microfones, virou um gatinho na hora de explicar o caso do secretário parlamentar transformado em chofer particular, dizendo "não ver nada demais nisso".
Duarte Nogueira admitiu que Paulo Pedra, "às vezes dá uma cobertura", mas ressalvou: "de forma alguma isso tem o sentido de ele descumprir o trabalho no escritório político". Segundo o tucano, o secretário só atende seus filhos "fora do horário comercial".
No mínimo, já que não vai acontecer nada mesmo com o deputado, o líder do PSDB deveria pedir desculpas à família de Pedro Novais.
Na mesma edição do jornal, ficamos sabendo que, ao ter seus poderes esvaziados pelos ministros Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski, o Conselho Nacional de Justiça estava investigando 216 mil magistrados e servidores do Juduciário, tendo encontrado 3,4 mil movimentações financeiras suspeitas.
Desde que a corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon, resolveu levantar a toga da Justiça, a cada dia o país é supreendido por novas revelações sobre o que se passa nos nossos tribunais. A imagem não é nada bonita.
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