quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Humberto Costa exalta “cara própria” de Dilma

Para líder do PT no Senado, a presidente, apesar de estar no primeiro ano de um governo de continuidade, conseguiu imprimir um ritmo seu à gestão, ensinando que “dar continuidade não significa ser igual”; leia primeira parte da entrevista
 
 
Por Gilberto Prazeres _PE247

Líder do PT no Senado, o pernambucano Humberto Costa afirma que a alta popularidade que o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) alcançou (mais de 70%, segundo recente pesquisa) é um sinal de que o Brasil assimilou e gostou do “jeito Dilma” de governar. O parlamentar entende que, apesar de estar no primeiro ano de um governo de continuidade, a sua correligionária conseguiu dar uma cara própria à administração do País, focando no acompanhamento da gestão. “Acho que o Brasil está entendendo que dar continuidade não significa ser igual. Essa é a grande questão”, definiu o petista. 
Na primeira parte desta entrevista ao PE247, Humberto Costa volta a defender a abertura de um processo de investigação sobre os fatos denunciados no livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que relata o envolvimento dirigentes tucanos num esquema pesado de lavagem de dinheiro proveniente das privatizações das teles. Contudo, o petista entende que a instalação de uma CPI poderia apenas gerar um embate que, normalmente, se restringe a um instrumento de disputa política. “Muitas vezes não se faz investigação, apenas o enfrentamento”, ressalta.



O senhor foi a primeira voz do governista a cobrar a abertura de um processo de investigação sobre os fatos denunciados no livro A Privataria Tucana. Haverá um esforço governista para apuração do que está relatado na publicação, inclusive, para instalação de CPI?
Na verdade, eu apenas cobrei dos órgãos de controle, do Ministério Público, da Polícia Federal a abertura de um processo de investigação sobre essa questão. O livro que foi publicado (A Privataria Tucana) contém não só denúncias extremamente graves, como todas essas denúncias estão fartamente documentadas. São documentos oficiais do Brasil e do exterior e que comprovam o que é relatado pelo jornalista. Mas sem que se faça algum tipo de pré-julgamento, não quero fazer isso aqui. Mas, da mesma forma como a oposição cobra investigação sobre tudo, às vezes até uma pequena nota em um jornal, é adequado que, num caso como esse, que envolve bilhões e bilhões de dólares nós tenhamos também uma investigação para o esclarecimento da verdade.

O processo de coleta de assinaturas para uma CPI da Privataria foi iniciado pelo deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). As bancadas de governo, na Câmara e no Senado, vão se mobilizar nesse sentido?
Não. Na verdade, nós temos um questionamento sobre esse instrumento da CPI, porque, muitas vezes, ele se transforma num instrumento de disputa política. Muitas vezes não se faz investigação, apenas o enfrentamento. De modo que, em princípio, a nossa ideia é que o Ministério Público, que a Receita Federal, os órgãos que têm essa função possam fazer esse tipo de investigação e esclareçam a população sobre isso. Se, de fato, houver comprovação da gravidade das denúncias, os eventuais responsáveis sejam punidos.

A oposição acusa a ala governista de tentar usar o boom ocasionado pela publicação de A Privataria Tucana para esvaziar as denúncias contra o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel...
Não! De forma alguma! Até porque eu fui uma das poucas pessoas que tratou dessa questão. Não houve nenhum movimento para tentar esvaziar denúncias contra quem quer que seja. E nós enfrentamos, até agora, todas as denúncias de peito aberto. Os ministros foram ao Congresso Nacional para se explicar. Vários deles saíram porque perderam as condições políticas de permanecerem no Governo. Então, nós não temos o que temer , nem tentar desviar o foco de nada. Objetivamente, o que a oposição precisa responder é se isso que está relatado no livro é verdade ou não.

O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), lançou uma nota condenando as denúncias contidas no livro e anunciando que processará o Amaury Ribeiro Júnior. Contudo, o dirigente , no mesmo texto, não defende explicitamente o ex-governador de São Paulo José Serra. Isso é sintomático?
Eu não sei. Eu não acompanho as disputas internas de outros partidos.

Mas sintomático no sentido que não há defesa sobre a provável ligação de Serra com o esquema, denunciado no livro, das privatizações das teles?
O que eu sei advém das informações que eu li no livro. Não vi ainda o outro lado. Por isso, inclusive, eu tenho feito essa cobrança de abertura de investigação de forma muito parcimoniosa, muito tranquila. Sem fazer nenhuma acusação, sem nenhum julgamento prévio. Mas, se o próprio PSDB não faz essa defesa, ou isso reflete as disputas internas ou o partido não tem a certeza absoluta de que aquilo ali não seja verdade.

Recentemente, uma pesquisa apontou que a presidente Dilma Rousseff tem, em seu primeiro ano de Governo, uma aprovação que ultrapassa a casa dos 70%. E num ano conturbado pela saída de vários ministros. Ao que o senhor atribui essa aprovação tão alta?
Atribuo à competência com a qual ela vem governando o Brasil. Atribuo também ao cumprimento estrito de todos os compromissos que ela assumiu durante a campanha eleitoral do ano passado. Ela assumiu que daria continuidade ao governo do ex-presidente Lula. Todos os programas sociais, as obras de infraestrutura, a política externa, a política econômica foram continuadas. Naturalmente, que ela também promoveu inovações. E isso pesa para a aprovação da população. Sem dúvida, um aspecto que conta muito para essa confiança que a população deposita nela é a condução do processo econômico. Mesmo diante de uma crise de proporções enormes, como a que estamos vendo no mundo, Dilma tem sido ousada, determinada, tem mantido a inflação sobre controle, tem proposto a manutenção do equilíbrio fiscal... Tem promovido mudanças na forma como o governo encara o combate à inflação. No Brasil, sempre que se falava em combate à inflação se falava em aumento das taxas de juros. E, no governo dela, estamos vendo a redução progressiva dessas taxas. Então, a soma disso tudo tem dado a ela essa credibilidade junto à população.

No final desse primeiro ano já dá para dizer que o governo Dilma tem a cara dela? Uma cara própria?
Sim. Acho que ele tem o estilo dela, que é diferente do estilo do ex-presidente Lula. Ela é, digamos assim, muito mais estimulada pelo acompanhamento da gestão, pela tomada de decisão, pelo controle dos prazos. Não que Lula não fizesse, mas isso é o que ela mais gosta de fazer. E, de certa forma, isso dá um perfil diferente nessa questão do contato com a população, das viagens, enfim. Acho que o Brasil está entendendo que dar continuidade não significa ser igual. Essa é a grande questão.

Assim como Lula, Dilma vem estimulando o consumo que resulta, na maioria das vezes, na ampliação da abertura de crédito. Isso não pode, como em outros paises do mundo, gerar um endividamento demasiado da população?
Não. Na verdade, o governo brasileiro tem sido muito responsável nessa questão. Tem trabalhado para não perder receitas, mas, ao mesmo tempo, tem trabalhado para que o crescimento do País seja sustentado. Um crescimento que não se dá pelo artifício da inflação. Então, isso faz com que nosso crescimento dependa da nossa capacidade de produzir. E nossa produção tem que pagar salário, gerar emprego... Então, as pessoas que estão se endividando estão fazendo isso porque se sentem em condição de fazê-lo. Não acredito tenhamos, no Brasil, uma crise feito a que abalou os Estados Unidos. É uma situação bem diferente.

Algumas montadoras de automóveis, como a Volkswagen, estão no aguardo de novo regime automotivo para anunciar prováveis novas plantas em Estados do Nordeste, incluindo em Pernambuco. Realmente, poderemos ver a replicação do que ocorreu com a Fiat?
No caso da Fiat é um pouco diferente das outras questões. Nesse caso, eu tive, inclusive, a oportunidade de ter sido o relator da Medida Provisória (MP) que garantiu os benefícios fiscais à Fiat. Na verdade, era uma abertura de um novo prazo para que empresas automotivas interessadas em investir no Nordeste gozassem dos mesmos benefícios que existiam em 1998, quando a Ford se instalou na Bahia. Então, é uma outra questão. No caso de outras empresas, isso vai depender muito desse novo regime automotivo que está em fase de conclusão do Ministério de Desenvolvimento Econômico . Acredito que esse novo regime vai dar tratamento diferenciado às diversas regiões do País. Inclusive, para que essas empresas se estabeleçam em regiões que não têm um dinamismo econômico. Acho que, em muito breve, esse novo regime será lançado. Caberá às empresas tomar a sua decisão de levar seus investimentos para essas áreas.

Mas o senhor não teme que a discussão sobre um novo regime possa ter um rumo semelhante à travada sobre a partilha dos royalties do Pré-sal, quando alguns Estados se sentiram lesados?
Não. Em Pernambuco mesmo, há um política de incentivos que não é igual para todo mundo. Quem investe em determinadas regiões do Interior do Estado tem benefícios maiores. Isso acontece em países que pretendem reduzir suas desigualdades. Isso é usado na China, foi usado em outros lugares. É necessário que o Brasil tenha um política industrial, mesmo que, de início, esteja restrita a esse regime automotivo.

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