sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Luiz Fernando Emediato: 'O Serra, para desgraça dele, tem muitos inimigos dentro do próprio PSDB'


Editor da Geração Editorial fala ao InvestNordeste sobre as repercussões do livro A Privataria Tucana

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Ao conceder entrevista exclusiva ao Portal InvestNordeste, Luiz Fernando Emediato, jornalista e editor da Ge-ração Editorial, disse animado que estava tudo bem e que melhor não poderia estar com o livro A Privataria Tucana "bombando". O livro, do jornalista Amaury Ribeiro, tem batido inúmeros recordes de vendas em todo o país. Vendeu até o momento 120 mil exemplares em apenas 15 dias. E espera-se, segundo Emediato, vender mais. "Em primeiro lugar, os leitores sempre estão ávidos para ler sobre denúncias a respeito de políticos e empresários que desviaram dinheiro público ou ganharam dinheiro, de maneira ilegal ou pouco ética, em negócios obscuros", afirma o editor sobre o sucesso do livro. A editora vai faturar R$ 8 milhões em 2011 e pretende crescer 50% em 2012.

InvestNordeste - O que fez a Geração Editora abraçar o projeto do livro A Privataria Tucana?
Luiz Fernando Emediato
- Assim como Amaury Ribeiro, sou jornalista, trabalhei no Jornal do Brasil, no Estado de S. Paulo e no SBT, ganhei o prêmio Esso de Jornalismo, além de outros prêmios. Eu e o Amaury temos as mesmas posições no jornalismo. Eu o conhecia há muitos anos. Sabia que era não apenas um excelente jorna-lista, mas um homem íntegro, um idealista, um repórter à moda antiga (infelizmente a moda antiga é a melhor, o jornalismo investigativo sério está decadente na chamada grande imprensa de hoje). Então, quando houve toda aquela polêmica na campanha presidencial, em que ele foi acusado, injustamente, de estar fazendo um dossiê contra o Serra, a soldo do PT, eu concluí no ato que era uma calúnia, que o tal dossiê só podia ser o famoso livro dele, que já estava virando uma lenda. Ele estava trabalhando no livro desde 2002 e alguns de nós já achávamos que isso era história, que esse livro jamais sairia. Então eu telefonei para ele, perguntei se o livro existia mesmo e ele respondeu: sim, e será de sua editora, se você quiser. Eu quis, e assim foi. Bem simples.


IN - A primeira edição de A Privataria Tucana foi recorde de vendas. Vocês esperavam este sucesso todo? Quantos exemplares foram vendidos até o momento? Quantos ainda serão impressos? Vocês têm dados de vendas no Nordeste?
LFE
- Depois que li o livro do Amaury eu conclui imediatamente que era livro para mais de 100 mil exemplares, "Honoráveis Bandidos", de nossa editora, já vendeu 120 mil exemplares, só que em dois anos. Imaginei que o livro do Amaury venderia 100 mil só no primeiro ano. Mas o livro rompeu todas as previsões e vendeu 120 mil exemplares em 15 dias! Deve passar do meio milhão de exemplares. É o maior fenômeno editorial brasileiro de todos os tempos, nenhum outro livro vendeu tanto assim, de largada. Desses 120 mil exemplares, entregamos 70 mil até hoje, dia 22, os restantes 50 mil serão entregues apenas no dia 3 de janeiro, estão sendo impressos, sob encomenda de várias livrarias. Acho que em janeiro teremos de fazer nova impressão, além desses 50 mil que chegarão na primeira semana. Desses 120 mil, mais ou menos 25 mil estão abastecendo livrarias do Nordeste.



IN - A que vocês devem este sucesso?
LFE
- Em primeiro lugar, os leitores sempre estão ávidos para ler sobre denúncias a respeito de políticos e em-presários que desviaram dinheiro público ou ganharam dinheiro, de maneira ilegal ou pouco ética, em negócios obscuros. No caso presente, a isso se somou uma vontade de militantes da esquerda de lavar a alma com uma denúncia séria envolvendo o PSDB, a oposição, pois há anos que o governo Lula e o governo Dilma são denun-ciados, justa ou injustamente, pelos tais "malfeitos". O PSDB estava então blindado contra essas denúncias. Também há uma curiosidade do público em geral e dos próprios tucanos, para saber o que pessoas ligadas ao José Serra andaram fazendo na calada da noite. O Serra, para desgraça dele, tem muitos inimigos dentro do próprio PSDB, por causa de seu estilo desagregador. Ele passa como um trator sobre qualquer adversário, mesmo quando é um adversário "leal" do partido dele mesmo. Então, o Serra está pagando por seus próprios atos, e não só pelos atos de sua filha, genro, primo e amigos.



IN - Como você avalia o papel das redes sociais e dos blogs no que diz respeito à popularização do livro e o consequente sucesso de vendas?
LFE
- É inegável que o sucesso desse livro advém da Internet, dos blogs, das redes sociais, e pela primeira vez podemos ter certeza, de maneira avassaladora, que a mídia brasileira a partir de agora tem dois períodos: o pré e o pós Privataria Tucana. Agora sim, temos certeza de que existe uma nova mídia e uma velha mídia, sendo que a velha mídia é a dos jornalões e revista semanais. Um jornalão pega no domingo, com muita boa vontade, 400 mil exemplares, com talvez 1 milhão de leitores, sendo que nem todos lerão o jornal inteiro. Os blogs e redes sociais pegam um assunto e replicam retumbantemente para milhões, milhões de internautas, gente que faz diferença. E isso só vai crescer. Isso vale para divulgar livros, ideias, críticas, convocar manifestações, tudo. É só ver o que está acontecendo nos países árabes. A imprensa em papel e até a das televisões está num beco aparentemente sem saída. Estão perdendo importância a cada dia.



IN - A CPI da Privataria foi protocolada nesta quarta-feira (21) pela Câmara dos Deputados. Você acredita que se houver uma CPI no Congresso as vendas do livro podem aumentar? Há alguma meta específica de vendas ou uma expectativa em relação a isso?
LFE
- A CPI da Privataria foi proposta pelo deputado Protógenes, com número recorde de assinaturas, inclusive de tucanos, mas precisa ser instalada. Vão fazer tudo, até gente do PT e do governo, para que ela não seja instalada, porque ela perturba o andamento do governo, pode não estar na agenda, e perturba grandes inte-resses econômicos e políticos. Haverá uma força enorme contra ela. É importante, portanto, que nos mante-nhamos mobilizados para gritar bem alto se isso começar a acontecer.



IN - Como o ano fecha para a editora em números? Quais as expectativas de vendas e lançamentos para 2012?
LFE
- A editora fecha com um crescimento incrível. Éramos uma editora pequena, agora somos de porte médio. Faturamos R$ 8 milhões em 2011 e queremos crescer mais 50% em 2012. Vem aí mais um livro-bomba, "San-guessugas do Brasil", do jornalista Lúcio Vaz. E mais um livro bomba-atômica do Amaury Ribeiro Júnior, mas desse não podemos falar nem o título nem o tema, por razões de segurança. Ele teria que andar de carro blin-dado, colete à prova de balas e guarda-costas, se divulgássemos.



IN - E você, como editor de tantos livros-bomba, não tem medo?
LFE
- Tenho, mas esta é nossa missão. Eu ando de carro blindado, até porque já fui assaltado quatro vezes e sequestrado uma. Mas veja só: eu também sou escritor e em meu livro "Trevas no Paraíso" há historias escritas nos anos 70, em plena ditadura militar, com títulos tipo "De como estrangular um general". Enquanto amigos meus eram presos, torturados e assassinados, alguns foram presos com a Dilma, então uma menina, e colegas meus, como Vladimir Herzog, eram torturados até a morte, ainda assim eu escrevia. Por sorte, fui preso, mas nunca fui torturado e sobrevivi para contar aquelas histórias, Hoje em dia escrevo menos, mas publico mais. É nosso carma, nossa missão.



Luiz Fernando Emediato é jornalista e escritor vencedor de vários prêmios literários e dos prêmios Esso de Jornalismo e Rei de Espanha de Jornalismo Internacional. Criador do Caderno 2 de O Estado de S. Paulo e responsável pela introdução do "âncora" na televisão brasileira. Autor de "Trevas no Paraíso", "Geração Aban-donada", entre outros livros. É editor da Geração Editorial.

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