por Bob Fernandes
Nas redes sociais, e também nos comentários neste blog, internautas estão se estapeando há dias. Não pelo Palmeiras ou Corinthians, Bahia ou Vitória, um Flamengo x Vasco ou por um “GreNal do Século”. O motivo dos tabefes virtuais é a disputa Globo x Record, ou Record x Globo, em torno do Panamericano de Guadalajara.
Record e Globo não estão no cardápio televisivo do nosso e de outros hotéis no México, mas basta uma passada d’olhos na internet e nas redes sociais para receber detalhes dessa batalha cotidiana.
No caso das TVs, seja aberta ou fechada, quem tem direitos exclusivos é a Record, que aqui está com uma armata tão fornida quanto foi a da Globo na África do Sul, com mais de 200 profissionais.
(Muitos deles, assim como no caso da Globo, excelentes e consagrados profissionais).
Ao que dizem dirigentes olímpicos, para contornar a ausência dos direitos em 2012, a Globo estaria montado uma Cidade Maravilhosa em Londres.
Murmura-se, de Londres ao Jardim Ângela e à Rocinha: atletas que comparecerem à tal Cidade terão acesso à Fonte da Juventude, à Pedra Filosofal ou às Horcruxes que, como sabemos, são pedaços da alma do Voldemort, aquele do Harry Potter.
Enquanto Londres e a Pedra ou as Horcruxes não vêm, a Globo ningunea Guadalajara; “Ningunear” é um maravilhoso verbo do mexicanês das ruas. Significa ignorar, desconhecer, fazer de conta que não vê ou que não existe.
Por pressão das redes socais, pela avalanche de críticas que recebe desde a abertura dos Jogos, a Globo não terá como seguir ninguneando Guadalajara tanto assim; nem restringir-se a um ou outro migué com uma foto ou fato.
Espera-se que não digam ser esse, esportivamente, um “Pan de segunda”. Por imposições do trilhardário mundo do Negócio Esporte, o Pan é assim, é isso aí, como foi também o do Rio; aquele mesmo alardeado pela mesma Globo, quando teve os direitos, como o maior espetáculo da Terra.
(E nem se fale naqueles “desafios” dominicais nas areias de Copacabana etcetera).
Dito isso, vamos ao outro lado dessa batalha, a Record no Pan.
Pelo chumbo que vaza das redes sociais e de comentaristas nas idem, a Record estaria Galvanizando certos momentos de Glória, alguns daqueles em que nossos heróis alcançam o Olimpo - ou mesmo em certos instantes em que chegam apenas à beira do barranco.
Disseco “Galvanizar” assim como o fiz com “Ningunear”. Galvanizar: admitido em caso único e excepcional como Galvãonizar, pode ser, a um só tempo, verbo, sujeito, substantivo, adjetivo… qualquer construção ou figura que caiba no escaninho da gramática.
Galvanizar pode ser, por exemplo, um pleonástico berro descomunal. Algumas vezes -talvez muitas-berro desproporcional em relação ao sujeito, ao objeto ou feito que o provocou.
Quem Galvaniza pode ter o maior talento, pode ser muito bom, tecnicamente excelente - como o é o próprio inspirador do verbo, adjetivo, substantivo etcetera -, mas a questão não é o Galvão e, sim, o Nizar, o que é dito a mais do que pede o Feito, ou a menos do que exigiria o Fato… a questão, enfim, é o Galvanizar.
Galvanizar, ensinam os mestres, vem a ser um neologismo por sufixação. Atenção: sufixação, não sufocação.
Galvanizar pode ser, também, falar em nome de. Falar em nome dos brasileiros, evocar, falar em nome da Pátria, por exemplo. Como muitos são céticos, recomendo uma ida ao “Dicionário online em português”.
Com a palavra, o Dicionário:
- Galvanizar: Eletrizar por meio de uma pilha.
- Animar, dar movimento, dar uma espécie de vida artificial a…(Tá assim no dicionário. Cliquem lá, por favor, e confiram).
- Animar, dar movimento, dar uma espécie de vida artificial a…(Tá assim no dicionário. Cliquem lá, por favor, e confiram).
Ainda o Dicionário:… “Com suas palavras ele Galvaniza as massas”.
Galvanizar (infinitivo) enquanto verbo é transitivo direto, e regular. O gerúndio é “Galvanizando”, que seria a definição para certas transmissões esportivas nos instantes da chegada dos nossos heróis ao Olimpo; ou mesmo ao barranco.
E temos ainda o Particípio Passado. No Particípio Passado, “Galvanizado”.
Galvanizado se dá quando, desde cedo, algo ou alguém é tomado, incorpora toda aquela “energia da pilha”, todo aquele Himalaia de convicções, de certezas graníticas; mesmo aquelas que viram pó ou são desmentidas pelo lance seguinte.
Sempre que houver olor de Glória um locutor Galvanizado evocará a Pátria amada. (Ainda que, subjacente, em nome da audiência e dos negócios…. mas isso, sabemos, é mero detalhe).
Como se vê no dicionário, Galvanizar permite todas as conjugações chegando, inclusive, ao Imperativo Afirmativo e ao Imperativo Negativo, o que vem a ser o cerne da nossa questão de hoje: o Pan e a batalha Globo x Record. Ou Record x Globo.
No Imperativo Afirmativo se conjuga “Galvaniza Tu, Galvanize Você, Galvanizemos Nós…” e assim por diante. Já no Imperativo Negativo, conjuga-se, ou se deveria conjugar, assim:
- Não Galvanizes Tu, Não Galvanize Você, Não Galvanizemos Nós…
- Não Galvanizes Tu, Não Galvanize Você, Não Galvanizemos Nós…
Dito tanto a respeito da Galvanização que divide e sacode o país a cada grande evento esportivo, ainda que na sentida ausência de seu inspirador, mas nem sempre de emuladores, vamos a outra importante, decisiva descoberta em terras mexicanas.
A conversar outro dia com amigos comuns de Octavio Paz e Carlos Fuentes, amigos que tentaram em vão refazer a amizade estremecida entre ambos antes que o Prêmio Nobel se fosse (1998), brotou algo espantoso. Surpreendente mesmo.
Os amigos dos premiados romancistas Paz e Fuentes discorriam sobre a origem, a inspiração para uma das mais, se não a mais útil e importante palavra, de tão múltiplos significados no cotidiano da língua española.
Palavra essa que vem a ser “Bueno”…
…Bem, Amigos, tendo hoje conversado sobre a Galvanização em eventos esportivos, tratemos do “Bueno” em uma outra ocasião.
do Para descutir o Brasil
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