segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A oportunidade de Marta

Por Marco Damiani_247
O sonho de uma noite de inverno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o de fazer o PT paulistano engolir a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, a prefeito de São Paulo – foi interrompido por dois alarmes estridentes que soaram, respectivamente, no domingo 4 e na segunda-feira 5. Primeiro, na contra-mão do desejo de Lula, o PT aprovou em seu IV Congresso a inclusão do mecanismo de prévias eleitorais para definir candidatos a cargos majoritários onde houver mais de um postulante. O ex-presidente preferia pular essa parte e levar o partido, pela cúpula, a aceitar suas indicações. Menos de 24 horas depois da votação entre os petistas, a primeira pesquisa Datafolha sobre a sucessão municipal paulistana tirou definitivamente a cabeça de Lula do travesseiro. Contra 1% e 2% de intenções de voto para o seu pupilo Haddad, dependendo do cenário traçado, a senadora Marta Suplicy surgiu com entre 29% e 31% das preferências.
Depois de se declarar “sensibilizada” pelo resultado – Marta apareceu na frente dos adversários em todas as simulações realizadas, tanto espotâneas quanto estimuladas –, ela alfinetou sem muita dó: “Eu sempre tive 30 por cento, ele (Haddad) sempre teve 2 por cento”, cravou.
Os aliados da senadora, como o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza, esfregaram as mãos com a notícia. “A pesquisa foi boa para desmistificar a impressão de que Marta tem rejeição alta”, destacou ele. De fato, a senadora, nesse quesito, obteve um desempenho melhor do que o ex-governador José Serra, a quem bateu por 14 pontos porcentuais na pesquisa.
Marta, que usa a estratégia de se colocar como candidata natural do partido e disse ao 247 que irá “até o fim” com sua intenção de concorrer, inicialmente não queria as prévias. Porém, se não ocorrerem as desistências dos pré-candidatos Jilmar Tatto e Carlos Zaratini em seu benefício – o que não está no horizonte agora –, ela aceita enfrentar esse julgamento partidário. E também desta vez como favorita. “Não acho que o resultado tenha se dado por recall, mas sim porque eu deixei uma obra nessa cidade, que muitas pessoas percebem em seu dia-a-dia”, afirmou ela.
Adversário da senadora dentro do PT, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aluizio Mercadante, ainda tentou, logo após a divulgação do Datafolha, suavizar os efeitos do levantamento dentro do partido em São Paulo, mas não pareceu ter sido muito convincente. “A pesquisa é um ponto importante, mas a sensibilidade do presidente Lula, a visão dele, a longa experiência de disputa de eleição, isso é uma coisa que a nossa militância respeita muito", disse Mercadante. Mas as alterações no estatuto do partido, aprovadas no último fim de semana em Brasília, mostram o contrário. Embora Lula tenha articulado para que o novo texto determinasse o fim das prévias, o partido decidiu manter as consultas internas em caso de mais de um candidato a cargo majoritário e só abriu a possibilidade para que 2/3 do diretório decida se haverá prévias. Ainda assim, nesse caso, quem decide são os delegados do partido, e não os dirigentes.
O próprio presidente do diretório paulistano do PT, vereador Antonio Donato, acredita que o candidato será definido por prévias. A primeira disputa interna está agendada para 27 de novembro. “Tem muita conversa e muita possibilidade de evoluir (para uma indicação única), mas o cenário hoje é de prévia", avaliou. Embora afirme que a pesquisa Datafolha não tira nenhum pré-candidato da disputa, Donato comemorou o resultado como “uma situação muito boa” para o PT.
Não se conhecia, até o final do dia, nenhuma declaração do ministro Haddad sobre o resultado da pesquisa. De Lula, igualmente não se ouviu frase, ficando no ar sua iniciativa de, a exemplo do que pretende fazer em São Paulo, tirar do bolso do colete o nome do economista Marcio Pochman como candidato do PT em Campinas. Logo em Campinas, onde o partido tem o atual prefeito em exercício, Demétrio Vilarga, entre seus quadros. Pelo jeito, a continuar com esses sonhos, Lula corre o risco de passar a ter pesadelos em torno das eleições municipais do próximo ano.

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