A Folha de hoje traz dois artigos que tratam das privatizações. Aécio
Neves, o provável presidenciável tucano em 2014, defende de forma apaixonada a
venda das estatais no reinado de FHC. Já o economista Bresser Pereira, que
recentemente se desfiliou do PSDB, elogia a atitude corajosa da presidenta
Cristina Kirchner de reestatizar a empresa de petróleo da Argentina, a YPF.
Enquanto o primeiro revela toda a sua mentalidade colonizada, o segundo
demonstra preocupação com a questão da soberania nacional. Para o senador
mineiro, a entrega do patrimônio público inseriu o Brasil no paraíso da
globalização neoliberal. “Há 250 milhões de celulares em uso no país”, festeja,
bajulando FHC pela “coragem de desencadear o processo de privatização da
telefonia”.
Tentativa de castrar o debate
Ele nada fala sobre os péssimos serviços prestados pelas teles, a
maioria multinacionais, hoje recordistas de queixas no Procon. Ele também não
critica estas empresas, que reduziram os investimentos no país e aumentaram as
remessas de lucros para salvar suas matrizes na falida Europa. O artigo serve
apenas para elogiar “a coragem” do PSDB e para demonizar os críticos da
privatização.
Maroto, o mineiro conclui o seu artigo afirmando que “as restrições
ideológicas à privatização são, hoje, página virada na história do país. Vide,
por exemplo, as concessões iniciadas, ainda que tardiamente, para a administração
dos aeroportos. Incoerências à parte, resultados como esse deveriam inspirar
quem tem responsabilidade de governar”. Pura conversa mole!
O debate sobre o tema não está encerrado. Além de analisar os prejuízos
causados pela entrega de estatais em áreas estratégicas, é preciso apurar a
roubalheira que contaminou todo o processo. O livro “A privataria tucana”, do
jornalista Amaury Ribeiro, dá importantes pistas sobre a lavagem do dinheiro da
corrupção. Aécio Neves teme que este debate seja retomado no Brasil.
“A Argentina tem razão”
Na Argentina, a presidenta Cristina Kirchner teve a coragem de reabrir a
ferida. Diante da rapinagem da Repsol, que não perfurou um poço de petróleo nos
últimos anos e aumentou a remessa de lucros para a Espanha, o governo do país
vizinho reestatizou este setor estratégico. Bresser Pereira, no extremo oposto
ao de Aécio Neves, não tem dúvida de que “a Argentina tem razão”.
Apesar da gritaria do governo espanhol, dos rentistas e de “alguns
jornalistas”, o ex-tucano é taxativo. “Não faz sentido deixar sob controle de
empresa estrangeira um setor estratégico para o desenvolvimento do país como é
o petróleo, especialmente quando essa empresa, em vez de reinvestir seus lucros
e aumentar a produção, os remetia para a matriz espanhola”.
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