quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Uma foto e a datenização do debate político


O Provocador

A divulgação da histórica foto de Dilma Rousseff durante interrogatório na sede da Auditoria Militar do Rio de Janeiro serve para aprofundar o entendimento do impacto causado pela velocidade e virulência com que as opiniões se espalham nas redes sociais.

A foto deixou de ser inédita por ocasião do lançamento da biografia da presidente escrita pelo jornalista Ricardo Batista Amaral. Mostra a então militante, aos 22 anos, após três semanas de tortura, com semblante altivo, enquanto, ao fundo, os oficiais que a interrogavam escondem o rosto com a mão. Vergonha? Uma imagem poderosa.

A foto foi reproduzida pela revista Época e, em poucas horas, invadiu a internet.  Até aí, tudo bem. Mostra a força que as novas mídias possuem. Incensadas como espaço altamente democrático e difícil de censurar, as redes sociais deram uma didática demonstração do que é poder opinar por trás de um laptop ou smartphone, muitas vezes sob o conforto covarde do anonimato.

As pessoas ficam muito corajosas nessa situação.  Duvido que fossem tão enfáticas e bélicas mesmo que numa mesa de bar. Mas, certamente, dizem o que pensam, o que não é pouco para quem acabara de olhar uma fotografia tirada em 1970, auge da repressão da ditadura militar que estabeleceu uma censura implacável e cerceou todos os direitos básicos da cidadania.

Incrível o baixo nível dos comentários que vi, numa rápida pesquisa. Não vale a pena reproduzi-los aqui, por questão de higiene. Mas garanto: não faltaram piadinhas infantis, sem graça mesmo, claramente preconceituosas e misóginas, frases raivosas, toscas. Uma inversão de valores assustadora e doentia.
Mais que revelar um profundo desconhecimento da história deste país, o bestiário que tomou conta da internet atesta a vitória do humorismo CQC e a datenização do debate político. Simples assim.

Não vou ser estúpido de colocar a culpa por esse lamaçal ideológico nas novas plataformas tecnológicas. Nem me permitirei simplismos sociológicos sobre a origem econômica desses meliantes da opinião. Até porque é impossível identificar o extrato intelectual dessa gente que se esconde atrás de um teclado.
Hoje em dia, como diria o profeta do obscurantismo Luiz Carlos Prates, comentarista da RBS, “qualquer miséravel tem um carro”. Não bastasse a elite branca estar em seus melhores dias, sem ter do que reclamar. Maldito governo Lula. E sua sucessora, essa ex-terrorista que até hoje não perdeu a dignidade.

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