Ao apostar na apresentadora, Jornal Nacional mistura jornalismo com entretenimento; porém, fontes de inspiração do telejornal no exterior - como BBC e CBS - mantêm como âncoras jornalistas com carreira brilhante como repórteres; primeiros números do Ibope apontam queda de audiência do JN
Por Brasil 247
A queda de audiência do Jornal Nacional, onde Patrícia Poeta desembarcou como âncora na semana passada, sinaliza que a credibilidade do principal telejornal brasileiro está em xeque. Desde o anúncio, ganhou ares de show a substituição de Fátima Bernardes pela ex-apresentadora do Fantástico. A coletiva sobre as mudanças na bancada do JN pareceu muito mais o lançamento de um sucesso de bilheterias, com declarações de pompa e glamour de celebridades.
Segundo o Ibope, o telejornal marcou a pior audiência do ano em uma segunda-feira – de 28,8 pontos. Com Fátima, o JN nunca ficou abaixo dos 30 pontos em início de semana – informa o instituto que afere o número de televisores ligados diariamente. Essa redução de telespectadores, que não é desprezível, pode indicar que o público não está interessado na fórmula jornalismo e entretenimento na TV – que parece ter sido a opção da Globo com a troca de Fátima por Patrícia.
O que espera o público do Jornal Nacional? Um telejornal mais revistado, com uma âncora menos jornalista e mais apresentadora (clique aqui para relembrar a experiência de Poeta)? Ou um jornal mais sério, com notícia e análises feita por jornalistas com bagagem (caso da própria Fátima, que fez carreira na TV Globo)?
Enquanto a Vênus Platinada vai na primeira opção, as emissoras estrangeiras que inspiraram o formato original do JN vão pelo outro caminho. A CBS, um dos principais canais de TV dos Estados Unidos, não abre mão do jornalista Scott Pelley 54, como ícone do diário The CBS Evening News. A carreira do âncora salta aos olhos de qualquer jornalista.
Pelley cobriu a Guerra do Golfo, direto de Bagdá, no início dos anos 90. Essa experiência foi passaporte para levá-lo a outras importantes coberturas para os EUA, como atentados no World Trade Center de 1993 e o ataque terrorista em Oklahoma City, planejado por um americano, dois anos depois. Perito em disputas eleitorais, o jornalista também tornou-se correspondente principal da Casa Branca de 1997 a 1999. O trânsito dele na área contribuiu que “furasse” algumas das histórias relacionadas a Bill Clinton e Monica Lewinsky, estagiária da Casa Branca que revelou um caso com o ex-presidente democrata.
Na BBC, o telejornal noturno Newsnight é o programa favorito de milhões de britânicos todas as noites. Já faz mais de duas décadas que o âncora é o jornalista Jeremy Paxman, 61. Ele começou na emissora em 1972 como trainee. Trilhou o jornalismo pelo rádio em cidades na costa inglesa até ir para a TV, em Londres. Durante cinco anos, foi correspondente na América Central, África e Oriente Médio.
A trajetória jornalística de Pelley e Paxman é fonte de credibilidade para os telespectadores. No dia a dia da televisão, eles acompanharam a “construção” de um formador de opinião, de um âncora consistente. Aos mais jovens, o respeito pelo peso desses jornalistas é transmitido por pais e parentes. E a receita de sucesso da CBS e da BBC com seus telejornais populares – e analíticos – é mantida.
No Brasil, o que os primeiros números do Ibope podem apontar é exatamente uma demanda dos telespectadores brasileiros por um jornalismo mais analítico da TV Globo, com uma âncora mais jornalista, como Paxman e Pelley.
Os próximos capítulos do que já virou uma novela global mostrarão se essa é uma tendência ou se Patrícia Poeta é a jornalista-apresentadora a que o Brasil quer assistir.
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