por Franco Ahmad
Foto: Fabrício Escandiuzz |
O Portal
terra revela que antes mesmo do prazo final para filiação de políticos que
pretendem concorrer a cargos eletivos no ano que vem, o Partido Social
Democrático (PSD) tem recebido um grande número filiações e já conta com a
terceira maior bancada no Congresso Nacional.
Segundo
o Portal, são 52 deputados, a maioria vinda do DEM, além de dois senadores,
segundo afirma o líder da legenda na Câmara, o deputado federal paulista
Guilherme Campos. Com isso, o partido passa o PSDB, que passaria a ter 51
deputados, e fica atrás apenas do PT, com 88 deputados, e do PMDB, com 78. No
entanto, especula-se a saída de cinco peemedebistas da legenda para se filiar
ao partido criado pelo prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.
Nos
Estados, o partido conta com dois governadores, seis vice-governadores e
centenas de deputados federais, segundo afirma a própria legenda. Campos diz
que existe ainda muita movimentação na Câmara entre os parlamentares. Na
legislatura atual, que tomou posse no começo do ano, foram eleitos 88 deputados
do PT, 78 do PMDB, 52 do PSDB, 44 do PP e 43 do DEM. "Tem movimentação em
todos eles. Vamos ter que esperar o resultado final para ver que tamanho e a
composição que a bancada vai adotar na Câmara", afirma.
Analistas
ouvidos pelo Portal Terra especulam que o partido pode se tornar grande a ponto
de disputar a presidência da República e rachar o curral eleitoral petista em
regiões como o Nordeste.
PSD = Partido Só da Dilma
O líder da legenda diz o partido vai desempenhar um papel independente na Câmara dos Deputados. No entanto, nem todos acreditam na independência. "O PSD é o Partido Só da Dilma", brinca o professor de ciência política licenciado da Universidade Federal de Brasília e consultor de empresas Paulo Kramer.
Para
ele o surgimento do PSD como uma das maiores bancadas, antes de qualquer
eleição, mostra problemas na legislação eleitoral brasileira. "É uma coisa
espantosa, que reflete o irrealismo da nossa legislação eleitoral e partidária,
o fato de um partido que não tem um voto ter mais de 50 deputados e dois
senadores".
Já o
mestre em ciências sociais e pesquisador associado do Núcleo de Pesquisas em
Políticas Públicas da USP (NUPP) Edison Nunes diz que Kassab realizou uma
manobra muito astuta, do ponto de vista estratégico, ao criar o PSD, já que seu
antigo partido, o DEM, não tinha muita expressão em São Paulo e ele não tinha
espaço ou cacife político para surgir como liderança nacional entre os
caciques. O sentimento de alienação, segundo Nunes, parece ter sido o mesmo
entre os novos filiados. "Quando se arrasta 10% dos deputados, deve haver
um sentimento de relativa alienação desses deputados quanto ao sistema
decisório no parlamento."
Nunes
faz uma análise mais ampla e diz que o surgimento do PSD é um reflexo do
fenômeno de despolitização pela qual passam os partidos brasileiros, a não ser
em casos de disputa eleitoral. "É um sistema de competição, que tem como
realidade prática, fundamentalmente, a moeda administrativa", diz ele se
referindo as medidas aprovadas no Legislativo, que se resumem as orientações
gerais de saúde e educação, por exemplo, deixando de lado as discussões
verdadeiramente políticas. "O que resulta disso é que você tem uma
sobrevalorização da atividade de metas administrativas, e não políticas",
completa.
Kramer
diz que apesar do PSD acomodar muitas lideranças oposicionistas que estavam
insatisfeitas em seus antigos partidos, a legenda será uma terceira via, mais
amena, na base política da presidente Dilma, uma vez que ela sofre muitas
pressões de seu próprio partido, o PT, e do PMDB, principal aliado. "O
PSD acomoda, ou promete acomodar, outras situações, inclusive a do José Serra,
caso ele não venha a ser preterido pela máquina do seu partido para concorrer a
governador ou presidente da República. É um partido que, apesar de não ter
nenhum voto, ainda tem muito futuro, tendo em vista os interesses que ele
promete acomodar, tanto da parte do governo, quando da parte da oposição."
Segundo
Kramer, o PSD não seria um partido despolitizado, mas sim uma "moldura
vazia na qual os políticos colocam o quadro que querem", um PMDB escancarado,
"refletindo ai o destino do PMDB que é essa federação frouxa de interesses
de oligarquias regionais", critica.
Já
Edison Nunes prefere deixar o julgamento moral de lado e atribui o surgimento
de novos partidos, como o PSD, a uma saída legítima e racional para os
políticos sem espaço, já que o "sistema estimula isso". "O
político que não faz parte da base aliada fica com a margem de manobra
restrita. Daí a necessidade, de tempos em tempos, de fazer um rearranjo de quem
vai sistematicamente sendo excluído desse núcleo. Uma das formas é criar uma
nova sigla."
O PSD e a presidência
"O partido do Kassab pode gerar, a curto prazo, ambições muito maiores. Suponha que ele se relacione com algum governador do Nordeste que hoje é aliado de alguma sigla federal. É capaz que ele faça um nome para disputar a presidência da República. Isso seria um problema grande para o PT, porque racha o curral eleitoral. Seria uma jogada, do ponto de vista estratégico, muito brilhante", especula Nunes.
Ele
diz que o partido se assemelha um pouco ao PMDB, mas não deve ofuscar o
principal aliado do governo federal pelo histórico de pactos e alianças.
"Dificilmente podemos pensar que ele vai substituir o PMDB, mas ele pode
sim trazer uma proposta de disputa do Executivo federal que, de repente, pode
ser exitosa.
A realidade, que sempre
é mais criativa do que nós analistas, mostra que a solidez desmancha",
metaforiza. Segundo ele, Kassab percebeu que existe uma terceira ou quarta via
de disputa ao governo federal após a expressiva votação de Marina Silva
(ex-PV).
Com informações do Portal Terra
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