terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tiroteio progressista

Por Rodrigo Cavalcante

Ministro Negromonte enfrenta bombardeio dentro do PP; os ataques partem de aliados do ex-titular do Ministério das Cidades Márcio Fortes

Dias atrás, logo após a demissão do ministro Nelson Jobim (Defesa), recebemos um e-mail, repassado, atribuído ao ex-ministro José Dirceu, dizendo que o ministro Mário Negromonte (Cidades) seria o próximo a ser 'defenestrado'. Os motivos, segundo o texto: "(...) a Dilma não o suporta e nem o recebe em audiência, além de ter umas denúncias cabeludas que podem chegar às páginas dos jornais, empurrando o moço morro abaixo (...)".
Pode ser que José Dirceu tenha informações privilegiadas, mas as evidências mostram que também ele, de alguma forma, ouviu os estampidos do fogo cruzado em que Negromonte está envolvido. O que ele diz apenas faz parte do tiroteio em que se transformou a disputa interna pelo controle do PP, um partido com 41 deputados federais e cinco senadores, lugar comum nos corredores de Brasília.
A briga interna, marcada por muitos tititis e estica e agarra, vem desde que Negromonte assumiu o ministério. O primeiro tiro saiu quando a revista IstoÉ publicou que no Ministério das Cidades tinha um esquema para ajudar doadores de campanha. As denúncias eram inconsistentes, mas com força suficiente para adubar a fofocaria que viceja num ambiente político como o nosso, em que a picaretagem, na grande maioria das vezes, prevalece sobre a essência mais sublime do que deveria ser a razão da política de estado, o interesse público.

DENÚNCIAS FROUXAS
Como ministro, na Bahia, Negromonte sempre esteve bem. Festejado aonde vai, ganhou novos aliados, como o prefeito João Henrique, e boa fatia daqueles que estavam com o carlismo, depois mudaram para Geddel e tiveram que buscar novos ninhos para não ficar longe do poder (não conseguem). Mas, em Brasília, sempre teve uma trajetória tumultuada.
No primeiro tiro que ecoou forte (no fim do primeiro semestre) divulgou-se que o Ministério das Cidades favorecia empresas doadoras de campanha através do secretário nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, eventualmente tesoureiro do PP, Leodegar Tiscoski.
Negromonte se disse "enojado" e "indignado", foi à Câmara, se explicou, afirmou que se houve tais erros, não eram do tempo dele, que tornou-se ministro de janeiro para cá. Aparentemente se saiu bem, assunto esquecido.
Nem bem se refez, a Veja (desta semana) tornou-se base para novo disparo. Com a reportagem intitulada Mesada de 30.000, acusa Negromonte de estar cooptando aliados, dentro do PP, oferecendo um mensalão de R$ 30 mil para deputados do partido que passem a defendê-lo na briga com a ala do antecessor, Márcio Fortes.
Diz o texto que parlamentares do PP procuraram a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para relatar "uma sucessão de eventos estranhos" que estariam se passando no interior do Ministério. E aponta o suposto caso do mensalão, ao preço de R$ 30 mil mensais, além dos favores habituais no governo.
Denúncia frouxa, sem denunciante, sem cara, na base do 'ouvi dizer', muito diferente do mensalão original, o que derrubou José Dirceu da Casa Civil, que tinha cara, a de Roberto Jefferson, com carteira de identidade e endereço conhecido. Também, mais uma vez, Negromonte negou categoricamente e a coisa morreu aí.
A GÊNESE DA BRIGA
A gênese dos infortúnios do ministro está na campanha eleitoral. O PP, embora controlasse o Ministério das Cidades na era Lula, se dividiu na hora da campanha de Dilma. O presidente, senador Francisco Dornelles, muito próximo de Aécio Neves, de quem é parente, queria Serra. Os gaúchos, puxados pelo deputado José Otávio Germano, também. Negromonte liderou a ala pró-Dilma. E, a partir daí, julgou-se credenciado a ser ministro. Chegou ao Ministério não como consequência natural. Dilma queria manter Márcio Fortes, com quem trabalhou, quando era ministra, na elaboração do Programa Minha Casa Minha Vida. Mas Negromonte, ancorado nos que apoiaram a agora presidenta, deletou Fortes e se impôs (daí a versão de que Dilma não o suporta).
Márcio Fortes nunca aceitou. Saiu do Ministério resmungando. E o PP se dividiu. Num primeiro momento, o grupo dele se articulou internamente e o pernambucano Dudu da Fonte, o principal líder "fortista" emplacou a 2ª vice-presidência da mesa. Na sequência, derrubou Nelson Meurer (PR), aliado do ministro, da liderança da bancada. Agora quer o Ministério.
Fortes se diz equidistante. Fala que desde a saída do Ministério mantém-se longe também da vida partidária. Ninguém acredita.
E, no Planalto, o convencimento geral é de que tudo é guerra interna. A própria Dilma já disse estar informada do caso.
E os inimigos de Negromonte, com o primarismo das denúncias, acabam ajudando-o. Se ele pensasse em cometer deslizes éticos, agora mesmo é que não os cometerá. Por isso ele não cai.

de Levi Vasconcelos

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