Por Paulo Moreira Leite
Ilustração do Blog |
Basicamente, Dilma manteve a opção que herdou de Lula, de manter o país no ritmo de crescimento possível. Lula não para de elogiar seu governo e isso também pesa. Em seu devido tempo, Lula não tinha outro Lula com igual popularidade para apoiá-lo, certo?
Jânio de Freitas faz uma observação lúcida:
A aprovação de Dilma Rousseff é a negação do marquetismo como fator básico e decisivo para o êxito na opinião pública. A conduta de Dilma Rousseff ficou aquém, em tudo, do mínimo recomendável pelo marketing político. Nada de artifícios para criar eventos e situações que levem a demoradas e comentadas aparições nos telejornais, com bis nas primeiras páginas do dia seguinte.”
Mas há reações estranhas. Leia uma crítica em tom de lamento: “a presidente não anunciou medidas de impacto, não patrocinou reformas, não apresentou um plano de governo.”
É engraçado ler, em tom próximo ao desânimo, o que deveria ter sido uma observação em tom elogioso: ”Medidas de estímulo à economia evitaram reflexos mais graves no consumo e na taxa de desemprego.” Lamenta-se ainda que, depois da posse, Dilma “precisou apenas corrigir rumos. Beneficiou-se do crescimento econômico acumulado nos anos anteriores e da ligação estreita com o padrinho eleitoral.”
Por fim, uma observação final: a boa avaliação era “previsível”. Como é?
Não sou advogado de Dilma e tenho críticas ao primeiro ano de governo. A principal é que o Planalto perdeu uma grande oportunidade para encontrar uma solução definitiva para o financiamento da saúde pública, o que teria sido possível com a maioria que possui no Congresso e aquele sopro de tolerância que acompanha todo mandato O km.
Considero que, como regra geral, o espírito crítico e a independência são recursos indispensáveis para toda avaliação política séria.
Mas eu acho que os analistas deveriam ter aprendido uma boa lição dos cursos básicos de Ciência Política — a disposição para não perder contato com a realidade, única forma de evitar que ela seja confundida com nossos desejos. A critica exagerada, muitas vezes, transforma-se em pedantismo.
O espírito crítico inclui a capacidade de autocrítica, também. E independência deve valer para todo tipo de pressão que pode desviar um trabalho honesto de avaliação e julgamento.
Se uma presidente consegue ter a maior aprovação da história “sem medidas de impacto,” sem patrocinar “reformas,” sem apresentar “um plano de governo” é porque, talvez, quem sabe, não houvesse necessidade tão urgente assim de “medidas de impacto”, nem de “reformas” nem de um “plano de governo”.
Quem fala que a presidente apenas “corrigiu rumos” e assim mesmo chegou aos 59% de aprovação parece admitir, sem perceber, que talvez não houvesse necessidade de inventar muita coisa no primeiro ano de governo.
Minha impressão é que Dilma fez um governo do tamanho certo para ela, para o país e para a herança que recebeu. Num capítulo em que muitos anunciavam uma postura desastrosa, deu as respostas necessárias ao afastar ministros que não podiam permanecer no governo.
A julgar pelo que se disse e se pensou sobre Dilma, há um ano, talvez fosse o caso de constatar que, para seus críticos, seu governo é uma decepção positiva. Concorda?
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