segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Médica e secretário de Saúde trocam acusações

por Noelle Oliveira, no Brasília 247


Uma médica com mais de 30 anos de serviço público no Distrito Federal é a nova delatora do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte que tem colocado o ex-ministro e atual governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz na mídia nacional.


A hematologista Jussara Oliveira aparece na revista “IstoÉ” desta semana afirmando ter sido usada pelo esquema de desvio de recursos do programa Segundo Tempo por meio da organização não governamental (ONG) Associação dos Voluntários, Pesquisadores e Portadores de Coagulopatias (Ajude-C), que ela dirige. A médica cita Rafael Barbosa, atual secretário de Saúde, e Ralcilene Santiago, chefe da Gerência de Regularização de Condomínios, vinculada ao gabinete do governador. 

Diz que eles a levaram até João Dias, ex-policial militar dono de duas ONGs e que responde na Justiça pelo desvio de R$ 3,2 milhões do Segundo Tempo. Ambos negam as acusações.

Jussara teve suas contas reprovadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e foi condenada a devolver aos cofres públicos mais de R$ 300 mil. Ela afirma que era amiga de Agnelo e de Rafael Barbosa desde a época em que os três faziam residência médica no Hospital de Base. Jussara conta que procurou Agnelo para conseguir recursos do programa Segundo Tempo para apoio a projetos envolvendo a prática esportiva no tratamento da hemofilia por meio da Ajude-C. O então ministro a teria encaminhado para Rafael Barbosa, que era secretário Nacional de Esporte Educacional e seu braço direito. “Ele, por sua vez, me conduziu aos outros personagens do esquema”, afirma a médica.

Ralcilene Santiago foi quem a apresentou ao pivô dos escândalos, segundo Jussara. “Eu não sabia como passar por todos aqueles procedimentos, o Agnelo me disse que aquelas pessoas me ajudariam, eu ia fazer o quê? Desconfiar do ministro?”, argumentou Jussara ao Brasília 247. Para o secretário de Saúde, Rafael Barbosa, as denúncias da médica são retaliação a investigações da Secretaria de Saúde, durante esta gestão, que envolvem o nome de Jussara.

Entre as medidas que teriam desagradado a Jussara está o fato de o marido da médica, Mário Sérgio de Almeida – um dos mais antigos endocrinologistas do Hospital de Base – ter tido a carga horária reduzida após ser flagrado, em outubro, atendendo em sua clínica particular em horários em que deveria estar trabalhando na rede pública. Na ocasião, Rafael Barbosa passou a carga horária do médico de 40 horas para 20 horas semanais. “Nós moralizamos a nossa gestão, acabamos com esquemas como o do marido dela, estamos tranquilos”, diz.

Em abril de 2011, reportagem da própria revista “IstoÉ” trouxe a ONG Ajude-C como uma das instituições investigadas em um esquema que, apenas em 2009, teria desviado mais de R$ 70 milhões destinados à compra de hemoderivados no DF. “Era essa médica que comprava os medicamentos”, acusa Barbosa. O secretário lembra que, diante das distorções, a Secretaria de Saúde decidiu recadastrar os hemofílicos. “Acabamos com o esquema dela, dos 470 pacientes que tinham recebido medicamentos no Hospital de Apoio em anos anteriores, menos de cem compareceram para se recadastrar, nós hoje temos 170 pacientes.”

Versões diferentes

Barbosa diz que foi procurado por Jussara, em 2010, para ajudá-la com as contas. “Eu falei para ela que não podia ajudá-la com nada”, afirma. A médica desmente a versão. “Eu o procurei, ele disse que os meninos iriam me ajudar, depois falei com o João Dias”, diz. “Quando vi que as coisas estavam estranhas não procurei mais nenhum deles.”

Quanto aos desvios envolvendo o tratamento de hemofílicos, a hematologista retruca as acusações. “Tudo isso foi averiguado pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas e nada foi constatado contra nós”, garante. Jussara diz que, desde o início de 2011, sente “perseguição” do governo com o trabalho que desenvolve junto aos hemofílicos. “Parece que eles já sabiam que isso iria acontecer, todo esse escândalo, e já queriam desmoralizar o nosso trabalho”, avalia. “Resolvi falar porque vi tudo isso estourando e eram justamente todas as pessoas que nos ajudaram.”

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