quarta-feira, 11 de abril de 2012

CPI e mensalão vão dominar a campanha


Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho

Ilustração do Blog
Começa com alto teor explosivo a campanha eleitoral deste ano. Calma, não é nada que tenha a ver com o futuro das nossas cidades.

O que está em jogo neste momento, a menos de seis meses das eleições municipais, é uma feroz disputa política entre o PT, seus aliados e o que restou da oposição, tendo como palco o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

De um lado, o PT decidiu jogar tudo na instalação da CPI do Cachoeira, que deverá ser formada pela Câmara e Senado até o final desta semana.

De outro, crescem as pressões na mídia e no próprio Judiciário para que o STF julgue o caso do mensalão ainda no primeiro semestre.

Os dois assuntos já dominam o noticiário político, deixando pouco espaço para a discussão sobre as questões municipais envolvidas na disputa eleitoral.

A campanha está nacionalizada e radicalizada desde já, antes mesmo que haja uma definição do cenário eleitoral em várias cidades importantes.

Na terça-feira quente de Brasília, enquanto era instalada a Comissão de Ética que abriu processo para investigar o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), e os presidentes da Câmara e do Senado decidiam formar a CPI mista do Cachoeira, do outro lado da praça dos Três Poderes o ministro Gilmar Mendes resolveu assumir o comando das operações para que o STF priorize o mensalão.

Ligado a Demóstenes Torres por antigos laços de amizade, Mendes sugeriu até suspender a pauta do STF para que a corte inicie logo o julgamento do mensalão. Depois de admitir que a pressão pelo julgamento é "muito grande", sem dizer de onde parte esta pressão, o ex-presidente do STF afirmou que "se quisermos votar este ano, tem que ser no primeiro semestre".

O governo Dilma e o PT ainda estavam em dúvida sobre a conveniência da instalação de uma CPI no meio da campanha eleitoral, correndo paralelamente ao processo do mensalão, mas a definição partiu do ex-presidente Lula, segundo declarou à Folha o seu assessor Paulo Okamoto:
"A princípio, Lula é a favor que haja CPI. O que ouvi ele dizer é que está com os poucos cabelos em pé com tudo o que há sobre o caso. Se for verdade o que a imprensa está dizendo, Marconi entregou o Estado para Cachoeira".

Marconi é Marconi Perillo, governador de Goiás, o principal alvo do PT na CPI mista que vai investigar as ligações suprapartidárias do "empresário de jogos" Carlos Cachoeira, personagem central da Operação Monte Carlo desencadeada pela Polícia Federal, que levou o contraventor à prisão e seu amigo Demóstenes ao cadafalso.

Mesmo sabendo que nas gravações da PF também aparecem personagens importantes do próprio partido, como o governador de Brasília, Agnelo Queiroz, e o deputado goiano Rubens Otoni, o PT resolveu correr o risco porque uma CPI sempre atrai o interesse da opinião pública e pode dividir o noticiário com o julgamento do mensalão.

É a volta do velho grito de guerra do "nós contra eles" adotado pelo PT e por Lula nas últimas campanhas, que pode colocar fogo na disputa municipal.

O que importa nesta guerra não é o futuro de Demóstenes Torres ou mesmo dos denunciados no caso do mensalão, mas a hegemonia política, já com os olhos em 2014. Para o governo e o PT, quanto mais desgastada estiver a oposição, mais tranquila será a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

É jogo jogado, como diria o Cachoeira. Senhoras e senhores, façam as suas apostas.


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