Por Eder Fonseca
A TV Tupi quebrou depois que o "rei do Brasil", Assis Chateaubriand, teve uma trombose, em 1960, e ficou impossibilitado de fazer os seus achaques aos milionários para manter o seu império em pé, o qual a emissora paulista se destacava como o seu carro-chefe. Já a Excelsior, do homem mais rico do Brasil na época, o senhor Mário Wallace Simonsen - que era dono ainda de empresas como a Panair (aviação), a Celma (manutenção de turbinas e aeronaves), a Comal (maior exportadora de café do Brasil), a Rede Sirva-se (a primeira rede de supermercados do país), os Biscoitos Aymoré e outras - foi dilacerada pelo Regime Militar. A saudosa Manchete do ucraniano Adolpho Bloch foi para o buraco depois que o mesmo fechou os olhos para sempre em novembro de 1995.Agora deve ser a vez de a Rede TV! ir para o mesmo caminho, mas por incompetência. Sim, incompetência, porque em uma entrevista recente para a Veja SP, o senhor Amilcare Dallevo disse que a emissora paulista nunca faturou tanto, e eu não me admiro que ele esteja falando realmente a verdade, já que só o pregador R.R Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, despeja cerca de 4 milhões de reais mensais nos seus cofres, e fez recentemente um belo adiantamento de R$ 14 milhões à emissora. Mas se ela faturou tanto, por que deve milhões à turma do Pânico, a sua maior audiência até então? Por que mandou a apresentadora Rita Lisauskas embora no começo do ano, apenas porque a bela e competente jornalista reclamou no seu Facebook por simplesmente não receber o seu salário? Por que especula-se que ele mandará para casa 450 funcionários no próximos dias? Por que funcionários da antiga Manchete ainda querem receber dele, sendo que ele diz não ter nada mais a ver com essa questão? Por que ele, então, correu desesperado para pedir dinheiro ao banco Itaú para tentar saldar a dívida que ultrapassa 100 milhões de reais? Sem falar nos direitos que a emissora perdeu para a transmissão do UFC e do UEFA Europe League. Mas tenho que admitir uma coisa. Bom gosto ele tem para construir uma casa nababesca, e talvez por estar com a cabeça focada no levantar da nova e suntuosa residência (dois helipontos, 18 quartos, 14 banheiros, duas piscinas e um cinema com capacidade para 50 pessoas), se esqueceu de cuidar da sua jovem e decadente emissora.
Ironias à parte, o senhor Amilcare Dallevo é o exemplo mais notório, nesse momento, de como funciona a cabeça de vários empresários aqui no Brasil. Empresários não, melhor dizendo, patrões. Eu vejo isso acontecer a todo o momento no setor de calçados de Franca, no interior de São Paulo, já que moro na cidade. A maioria (claro, há exceções, poucas, mas há) está pouco se lixando para os seus funcionários e para suas empresas. Para eles, os empregados (como dizem com uma certa, arrogância nas altas rodas) são um mal necessário, uma espécie de escada, e quando os seus objetivos financeiros são alcançados (fazendas, carros importados, mansões, helicópteros, amantes 30 anos mais jovens a tiracolo e etc) dispensam as pessoas sem um pingo de dó fazendo a tal da rotatividade trabalhista, quando não fecham empresas na calada da noite tirando todo o maquinário. Ou seja, o trabalhador nas mãos desses homens está ferrados. Como o técnico de futebol Giovanni Trapattoni bem diz: "Quando você não serve mais para uma função, é como um peixe que está fedendo depois de sair da água, e pior, outro entra no seu lugar por um preço menor, desvalorizando a sua profissão, já que tem medo de lutar contra um sistema estabelecido. Assim a roda nunca gira ao contrário".
Vamos ser sinceros também: quem iria sentir falta da "Rede de TV que mais cresce no país" se ela fechasse amanhã? Uma emissora que no auge da audiência dá no máximo 2,5 no Ibope, é um pingo no oceano da TV brasileira, sem contar os programas horrorosos e popularescos que transmitem o pior do ser humano, para vender cremes alisantes até seguros de veículos. O único que se salva no meio dessa selva é o 'Leitura Dinâmica'. O resto é um caldeirão cheio de mau gosto e apelações. A Rede TV! queria ainda comprar o Campeonato Brasileiro de Futebol séries A e B, mas como pagariam os R$ 516 milhões, pedidos pelo Clube dos 13 e pela CBF, se nem mesmo pagou até hoje os 3 milhões de reais que deve para o polêmico estilista, apresentador e parlamentar Clodovil Hernandes, morto em 2009?
Com o panorama permanecendo assim, a Rede Globo ainda vai nadar de braçada por muitos e muitos anos na televisão aberta do Brasil, tanto em audiência como no bilionário bolo publicitário, mesmo tendo uma programação que segue o padrão estabelecido pelo gênio Walter Clark e pelo ainda poderoso e influente Boni há mais de trinta anos. A Band parece satisfeita em ser a quarta emissora do país; a Record, que ao invés de fazer uma programação diferente, segue o estilo da Vênus Platinada, sendo apelidada de Recópia nos círculos midiáticos; a Cultura e a Gazeta não incomodam nem um mosquito morto; o SBT, que tem o maior apresentador da televisão brasileira (Silvio Santos), mas que é um péssimo estrategista de televisão - muda a programação de horário como quem muda de roupa; e uma Rede TV! que apareceu como uma bomba, mas que hoje não passa de um traque à beira de falhar e que ainda bate no peito e fala grosso como se nada estivesse acontecendo. No exemplo do 'o piloto sumiu, mas fiquem todos calmos que vamos pousar em segurança', ou seja, um pânico total, sem trocadilhos, é claro.
Eder Fonseca é fundador do portal Panorama Mercantil.
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