quarta-feira, 21 de março de 2012

Agnelo desabafa ao 247: “Queriam me emparedar”


Foto: Elza Fiúza/AGÊNCIA BRASIL
por Leonardo Attuch _247 No dia 1º de janeiro de 2011, dia da posse da presidente Dilma Rousseff, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz teve uma conversa reservada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem mantém até hoje uma relação de fraterna amizade. “De todos os novos governadores, você é o que vai encarar a missão mais difícil”, anteviu Lula. Decorridos quase 15 meses de governo, Agnelo dá razão ao amigo. “Eu sabia que seria difícil, mas nunca imaginava que seria alvo de tantos ataques”, disse ele ao 247.

Numa longa entrevista exclusiva, em que falou por mais de duas horas, Agnelo Queiroz abordou vários problemas do GDF, como a precária situação dos transportes e da saúde, bem como o caos administrativo que encontrou após a crise deflagrada pela Operação Caixa de Pandora (leia mais no Brasília 247). Mas a conversa também ganhou um tom de desabafo. “Nós enfrentamos aqui interesses muito poderosos”, disse ele. “Alguns achavam que eram donos de Brasília e tratavam o Distrito Federal como uma capitania hereditária”.

Como exemplo, o governador cita a licitação para renovação dos ônibus. Em Brasília, desde sempre há um duopólio entre as famílias Canhedo e Constantino. Uma se tornou dona da Vasp, que depois faliu, e outra controla a Gol. Ou seja: a capital federal é a única cidade do mundo em que empresas de ônibus ruins dão origem a companhias de aviação. “Decidimos enfrentar um problema que os antecessores ignoravam”, diz ele. No edital de licitação que já está na rua, a rede de transportes públicos foi dividida em cinco bacias. “Nenhuma empresa aqui poderá ter mais que 20% do serviço de ônibus”.

Na área de tecnologia da informação, onde os contratos com o GDF também fizeram brotar grandes empresas, Agnelo mexeu em outro vespeiro. “Encontramos mais de R$ 750 milhões em recursos desviados nos últimos anos e enviamos tudo para o Ministério Público”, disse ele. Ao todo, mais de 13 mil contratos foram alvo de auditorias e várias empresas, que forneciam produtos ou serviços para o GDF, foram declaradas inidôneas – a partir de agora, não poderão mais atuar para o setor público. Com a revisão dos contratos, diz ele, Brasília voltou a ter superávit primário em 2011.

"Ou recua ou não governa"

Em meio a esse processo de ajuste, Agnelo Queiroz enfrentou também uma maré de denúncias. “Tentaram atingir a mim, a minha família e isso sempre abala quem tem valores e dignidade”, diz ele. “Mas sabíamos que o pano de fundo era a reforma que estávamos e ainda estamos propondo para o GDF”. Segundo o governador, havia uma mensagem implícita nos ataques: ou ele recuaria, ou não conseguiria governar.

De acordo com o governador, os ataques são fruto de uma campanha orquestrada, mas também inconsistente. “Volta e meia pegam casos em que eu já fui julgado e inocentado, como a história da Anvisa”, diz ele. Nesta semana, por exemplo, Agnelo foi acusado de favorecer laboratórios farmacêuticos enquanto foi diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Uma investigação da Polícia Civil de Minas Gerais apreendeu uma agenda, onde havia a anotação do nome Agnelo, ao lado do número 50. “Eu adoraria que fizessem uma perícia grafotécnica neste documento”, diz ele. “Está na cara que é uma coisa armada”.

Na crise, o governador afirma que conseguiu fortalecer a coesão da sua base de sustentação na Câmara Distrital, que foi ampliada para 18 partidos. Além disso, os aliados que vislumbraram a oportunidade de se viabilizar como alternativas de poder já teriam submergido novamente, de acordo com o governador. “A natureza humana sempre dá vazão a oportunismos, mas isso já passou”, diz ele. E uma prova do fortalecimento do governo teria sido a posse do novo secretário da Casa Civil, Swedenbeger Barbosa, que contou com a presença de vários ministros da equipe de Dilma. Agnelo espera, em breve, anunciar uma grande parceria com o governo federal na área de transportes – será um dos maiores investimentos da história do Distrito Federal em mobilidade urbana.

Página virada

Superada a maré de denúncias, o governo espera abrir agora uma nova fase do seu governo, com uma agenda positiva de inaugurações e realizações. Entre elas, ele cita a erradicação da pobreza extrema e do analfabetismo no Distrito Federal, a inauguração de vários centros de saúde, a implantação de escolas em tempo integral, a criação de um dos maiores programas do País de tablets em salas de aula e, ainda, a conclusão do estádio Mané Garrincha, cujas obras terminam no dia 31 de dezembro deste ano. Como o estádio é o mais adiantado do País, Brasília ganhou destaque na Copa de 2014. Será sede de sete jogos e de, possivelmente, três da seleção brasileira. Além disso, a capital federal abrirá a Copa das Confederações, no ano que vem, e sediará o torneio de futebol dos jogos olímpicos de 2016. “Conseguimos aproveitar a oportunidade de transformar Brasília numa vitrine do País”, diz ele.

O governador tem consciência de que 2011 foi o ano mais difícil da sua vida, mas espera dias melhores. Diz que houve uma tentativa de emparedá-lo e obrigá-lo a ceder diante de interesses poderosos, há muito tempo arraigados na capital federal. Mas, hoje, quem o encontra já não vê mais um governador nas cordas. Agnelo quer briga e diz que vai continuar seu enfrentamento (leia mais no Brasília 247).

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