Neto fala sobre polêmicas e mídia à IMPRENSA |
Enquanto se dirige ao estúdio da rádio Bandeirantes para fazer sua entrada no “SP Acontece”, comandado pelo amigo José Luiz Datena, o comentarista esportivo Neto aponta o nome de um conhecido treinador gaúcho piscando no “bina” do seu celular.
“Tá vendo, os caras que me ligam” – comenta, antes de atender à ligação: “Ah, é? Quem é? O São Paulo? Não sabia não...” Uma hora depois, divulga no programa televisivo da casa, o "Jogo Aberto", que Nilmar, atacante do Villareal, da Espanha, negociava com o clube do Morumbi.
Fiando-se nos amigos e contatos que fez no “mundo da bola”, onde atuou como atleta profissional por 15 anos, vem se destacando na carreira de comentarista, ora pelos furos - “Meu grande “golaço” foi adiantar a vinda do Ronaldo Fenômeno para o Corinthians” -, ora pelas polêmicas - “Eu gosto de uma confusão, velho. Confusão é bom pra ‘c...’. Agita a vida”.
Também já deu sua “bola fora”, quando garantiu a contratação do holandês Clarence Seedorf pelo Timão, fato que nunca se consumou, além de render uma discussão pública com o apresentador do "Globo Esporte", Tiago Leifert. “Eu errei, devia ter falado que estava em negociação. Perdi a dividida com o Tiago”, admite.
Entre erros e acertos, assim como à época dos gramados, a disposição de falar o que pensa do ex-craque corintiano continuando atraindo fãs. Segundo divulgado pela imprensa no final do ano passado, o nome de Neto mais uma vez teria sido “ventilado” nos bastidores da TV Globo. “Dizem que o Marcos Mora, que é diretor lá, gosta do meu estilo”, frisa. Mas, se convidado, iria? Sobre o futuro, Neto tem seus planos...
Em entrevista exclusiva à IMPRENSA, o comentarista aponta falhas da imprensa esportiva, passa a limpo suas desavenças públicas – só mais recentemente, com Leifert, o ex-goleiro Marcos, além dos jornalistas Luciano do Valle e Benjamin Back - e antecipa que deixará a carreira em 2016. Quer tentar realizar seu maior sonho: presidir o Sport Club Corinthians Paulista.
A MÍDIA
IMPRENSA - A mídia esportiva tem o poder de sustentar fama e derrubar jogador?
NETO - Nossa Senhora! Eu acho que a mídia tem muito esse poder. Eu não fui convocado para a seleção de 90, não disputei duas copas do mundo, por causa da mídia e dos jornalistas cariocas. Nós, aqui de SP, falamos muito mais do futebol carioca do que eles da gente.
Isso tem a ver com a proximidade maior com a CBF?
Sim, a relação da mídia carioca com a CBF ajuda nisso. Eles têm muito mais o poder de arrebentar com o jogadores de São Paulo, sempre foi assim. Se o Rogério Ceni jogasse no Flamengo ou no Fluminense, ou no Vasco, ele seria eternizado na seleção brasileira.
Por ter sido ídolo do Corinthians, você já sofreu ou sofre alguma restrição de acesso aos clubes rivais?
Olha, tenho muito pouco problema com dirigentes. Tenho muito acesso no São Paulo, no Palmeiras, no Santos, com dirigentes e jogadores. Para falar a verdade, às vezes, eu tenho mais facilidade em clubes rivais, do que no Corinthians.
Tem gente no Corinthians que tenta dificultar seu acesso?
Ah, eu acho que tem. Por exemplo, acho que a assessoria de imprensa do Corinthians fica muito brava quando eu tenho informações que eles têm colocar no site: “ah, não é verdade”. E, depois, eles têm que reconhecer que é verdade...
“Eu fui o único que teve coragem de falar para o Marcos
que ele tinha que se aposentar. Aí, ele ficou bravo, entendeu?”
Como jogador, você brigou com vários técnicos, não aceitava ficar no banco, gostava da noite e tinha problemas de peso. Como se sente, hoje, para criticar atletas indisciplinados?
Às vezes, eu fico envergonhado de fazer uma crítica por tudo isso que você falou. Aí, eu passo batido (risos). Sabe o que eu faço? Eu tiro um sarro: “Como é que pode um cara ir pra noite?” Mas, tem outra coisa também... Eu critico, por exemplo, o Adriano [atacante do Corinthians], não porque ele saiu à noite, mas porque ele não ter ido treinar. Eu tive um monte de defeitos, mas nunca deixei de treinar.
A mídia esportiva é careta, quando o jogador comete um deslize de comportamento?
De certa forma, a mídia só espera esse tipo de coisa. Não espera um bom jogo. Ela espera “m...”.
AS POLÊMICAS
Em 2010, você teve uma discussão pública com o ex-goleiro palmeirense, Marcos, que está negociando com a Band, para ser comentarista. Você vê algum problema de trabalhar com ele?
Outro dia, o Zé Emílio [Ambrósio, diretor de esportes e jornalismo da emissora] me ligou, perguntando isso. Eu disse: “contrata na hora”! Pouca gente teve a coragem de falar para ele que tinha que parar de jogar futebol. Aí, ele ficou bravo, entendeu? E falou tudo aquilo... Mas, o mais legal é que o Marcos me encontrou e pediu desculpas para os meus pais, o que foi “do caralho”. Eu gostaria muito que a Band o contratasse.
Mais ou menos na mesma época, uma discussão ao vivo entre você e o jornalista Benjamin Back levou-o a pedir demissão da Band. Como foi aquilo?
Existem pessoas que são insignificantes para mim. No caso do Marcos, eu fiquei chateado, mas no caso dessa pessoa, não. Nem sei se posso falar o nome, porque eu estou processando ele na Justiça.
“O Andrés [Sánchez, presidente licenciado do clube] falou que
não tenho capacidade de presidir o Corinthians”.
Teve o episódio também em que o Luciano do Valle criticou ao vivo alguns jornalistas “sem diploma”, e você estava na lista. Aquilo pegou você de surpresa?
Isso aí foi o seguinte... Quando teve aquele 3 a 1 do Corinthians contra o Sport [pela final da Copa do Brasil, em 2008], o presidente do Sport falou que os torcedores do clube foram maltratados aqui em São Paulo, e não era verdade. Aí eu chamei ele de mentiroso no ar. Aí o seu Tatá Muniz [Otávio Muniz, jornalista], que trabalhava lá com o Luciano, encheu a cabeça dele, e o Luciano falou de mim, do Flávio Prado, do Milton Neves e do [Oscar Roberto de] Godói. O único que não era diplomado era eu. O Flávio Prado é professor, é diplomado. Mas, quando o Luciano pediu desculpas, acabou o problema. O maior responsável, pouca gente sabe, foi o Tatá Muniz.
E o problema com o Tiago Leifert?
Um amigo meu tava na casa do Faustão, na pizzaria dele, e me ligou: “o Seedorf acertou com o Corinthians”. Eu não deveria ter falado como eu falei: devia ter falado que eles estavam em negociação, que existiu mesmo. Aí eu fui babaca, de entrar no barulho de discutir com o Leifert que tinha comentado o assunto no programa dele [o apresentador qualificou a notícia de “boato”, no Globo Esporte]. Mas, eu acho que errei muito mais do que ele. Acho que ele é um menino que revolucionou o esporte da Globo. Não conheço muito ele, mas sei disso...
A impressão que dá é que você não vive sem polêmica. É uma opção de vida?
Cara, eu acho que eu giro em torno de polêmica. Eu acho que eu não ia ser feliz, nem seria o que eu fui como jogador ou o que eu sou como comentarista e como gente. É uma opção de vida, sim. Mesmo estando errado às vezes, tendo que pedir desculpas, tendo que botar o rabo entre as pernas, eu gosto de uma confusão. Confusão é bom pra “c...”, velho. Agita a vida.
O FUTURO
Ano passado, saiu na imprensa que a Globo estaria interessada em te contratar. Você recebeu algum contato?
Eu nunca recebi um convite da Globo. Eu não conheço o Marcos Mora, mas dizem que é um cara que gosta muito do meu estilo. Só que também existe uma rejeição por eu, muitas vezes, passar dos limites. Se eu falar para você que não tenho vontade de um dia trabalhar lá, seria mentira.
Você atenuaria o discurso para se adaptar a um padrão mais comedido, se fosse preciso?
É “foda” isso aí, né (risos)? Essa pergunta é inevitável. Cara, eu acho que eu nunca vou trabalhar na Globo. Eu já sonhei com isso: o Galvão Bueno falando: “Bem, amigos da Rede Globo. E aí Neto?”. Mas, aí eu falei: “Pô, Galvão, você quer comentar no meu lugar, então, comenta você”. Eu acho que a Globo não está preparada para me ter. Olha só o que eu estou dizendo. Eu que deveria estar preparado para a Globo (risos).
Você já disse que quer ser presidente do Corinthians. Vai largar a profissão de comentarista?
Sim, quero trabalhar até 2016. Depois, vou me preparar para ser presidente do Corinthians. Não sei se eu tenho capacidade para isso. O Andrés [Sánchez, presidente licenciado do clube] falou que não tenho, mas tem muita gente próxima de mim que falou que eu tenho.
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