Livro aponta corrupção de Sarney a Lula e ‘justiça’ FHC
Escrito pelo cientista político Eduardo Graeff, secretário-geral da Presidência na era Fernando Henrique, obra, em inglês, atribui desvios à tradição patrimonialista e à cultura de transgressões. Mas será que houve no texto um exercício de memória seletiva?
Ilustração Observatório |
De acordo com o ex-colaborador de FHC, a cultura de transgressões brasileira remonta à tradição patrimonialista ibérica, que faz com que agentes de governo tenham dificuldades em distinguir o público do privado. E nossos governantes, em vez de ocupantes transitórios do poder, seriam "Donos do Poder", como bem argumentou Raymundo Faoro, em sua obra máxima.
José Sarney, primeiro presidente civil desde a ditadura, teria aberto as porteiras da corrupção, após 21 anos de atividade política represada pelo regime militar. E assim teve um governo marcado por escândalos, como o dos "Anões do Orçamento", muito embora Graeff reconheça que Sarney só caiu em desgraça em função do fracasso no combate inflacionário. Sobre Collor, que veio depois, Graeff fala pouco mais do que o óbvio. Depois de incensado como "caçador de marajás" por boa parte da mídia, ele sofreu o impeachment em função das sobras de campanha e do que esquema PC.
Ilustração Observatório |
Bom, mas quando chega a era FHC, o Brasil se transforma no reino de ética pura e todos os escândalos, como os que atingiram André Lara Resende, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Eduardo Jorge, são injustiças decorrentes da prática do denuncismo. Ainda que eles tenham sido, de fato, inocentados nos processos judiciais que sofreram, terá sido mesmo a era FHC um hiato de honestidade no Brasil?
Apenas para relembrar:
- Ricardo Sergio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, que construiu consórcios na privatização das teles, dizia agir no "limite da irresponsabilidade".
- Benjamin Steunbruch, amigo e empregador de Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC, comprou a CSN e a Vale, de onde depois foi expelido, com o apoio ostensivo dos fundos de pensão.
- Partidos como PMDB e PFL, atual DEM, participaram ativamente da administração tucana, dominando setores estratégicos, como Transportes e Minas e Energia, o que alimentou o argumento de que o governo FHC, se não roubava, deixava roubar.Bom, e quando chega a era Lula, o Brasil se torna o reino da corrupção explícita e escancarada, com exemplos fartos, como o mensalão e de outros escândalos.
Na apresentação, Graeff diz que um dos objetivos do livro é fazer justiça a FHC, que teria sido alvo de um denuncismo irresponsável e politicamente dirigido. No fim, conclui que a sociedade já não aceita mais, passivamente, todas as denúncias que lhe são servidas.
Talvez porque saiba que o discurso anticorrupção no Brasil é hipócrita.
Observatório - Resumindo: FHC é um "santo".
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