sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Haddad: "Possibilidade de aliança entre PT e PMDB no 1º turno é remota"


Marina Dias
De Brasília (DF)


Bacharel em Direito, mestre em Economia e doutor em Filosofia, o ministro da Educação, Fernando Haddad, tem o desafio de se tornar o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo em 2012. Mais do que isso: aos 48 anos, com fala serena e terno sempre alinhado, precisa ganhar musculatura para fazer campanha, conquistar a militância do partido e justificar todo o apoio que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff dão à sua candidatura.
Não é tarefa simples. Entretanto, na entrevista exclusiva que concedeu a Terra Magazine, em seu gabinete em Brasília, o ministro mostrou que já se articula com os dirigentes do PT em São Paulo e que tem consciência de que uma aliança com o PMDB no primeiro turno é uma "possibilidade remota".
Sobre ministério, Haddad fala com tranquilidade, valida-se de muitos dados e termos técnicos, ao estilo Dilma Rousseff, e mostra-se bem mais confortável do que quando o assunto em pauta é eleição.
Mesmo assim, o ministro diz que "já tem alguns anos" que conversa com o ex-presidente sobre uma possível candidatura em São Paulo, e que o partido está aberto a ajudá-lo no que for preciso.

Ministro Fernando Haddad já conversa com lideranças
e se articula como candidato do PT em São Paulo
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil


Confira a seguir as principais partes da entrevista

Terra Magazine - O senhor é ministro da Educação desde 2005. Acredita que o ProUni (Programa Universidade para Todos) foi a grande conquista de sua gestão?

Fernando Haddad - O ProUni é um programa de muita visibilidade e que vai atingir, até o final desse ano, a marca de um milhão de bolsas concedidas. Então, não há como negar a sua importância, sobretudo para aqueles que não tinham a possibilidade de acesso ao ensino superior. Agora, do ponto de vista estrutural, eu penso que a marca que nós vamos deixar é o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que promoveu a maior reforma educacional que o Brasil viveu e que atingiu desde a educação infantil à pós-graduação, passando pelo ensino fundamental, médio, expansão das universidades, fixação das metas de qualidade, criação de indicadores que são monitorados pela sociedade, enfim, um conjunto de ações aderido por 5.563 prefeitos e 27 governadores. O PDE, do qual o ProUni faz parte, é uma visão de conjunto e é o que, na minha opinião, vai ficar para a história da educação do país.

E o que ainda falta fazer?
Nós temos três projetos importantes no Congresso Nacional: o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), que foi aprovado na Câmara na quarta-feira (31) com mínimas alterações; a empresa pública de gestão dos hospitais, que vai garantir que 100% dos leitos dos hospitais sejam vinculados ao SUS (Sistema Único de Saúde); e o Plano Nacional de Educação (PNE), que institucionaliza a cultura do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) lançado em 2007, e projeta a educação brasileira para 2020. Se nós aprovarmos mais essas três iniciativas, eu diria que a reforma educacional que pretendíamos fazer prepara o país para os próximos dez anos.

Os problemas com o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) - prova roubada em 20
09 e os erros de impressão no gabarito em 2010 -, foram alvos de duras críticas para o MEC. Quem errou?
Quem errou já foi punido. O criminoso que furtou a prova do Enem em 2009 foi condenado a mais de cinco anos de prisão. E eu penso que se fez justiça num prazo relativamente curto. Pouco mais de um ano depois do crime, veio uma punição em primeira instância e o Ministério Público (MP) pediu pena mais severa, com a qual eu concordo, porque foi um crime contra o Estado e a juventude. E o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que sofreu um abalo muito grande em função dessa agressão, vem se restabilizando e, a meu ver, reencontrando seu caminho como um dos melhores institutos de pesquisa educacionais do mundo.

E os erros de impressão em 2010?
A gráfica assumiu. Ao contrário de 2009, a gráfica assumiu 100% dos prejuízos e reaplicou-se a prova para 0,1% dos candidatos que não tiveram a oportunidade de substituir seus cadernos de prova. Não houve necessidade de ação judicial.

O senhor sabe quem, se for candidato à Prefeitura de São Paulo em 2012, isso poderá ser usado contra o senhor na campanha.
Eu espero discutir o Enem com muita tranquilidade. Espero que seja um tema de campanha, porque nós colocamos três milhões de pessoas a mais para estudar nas universidades graças ao Enem. Primeiro, como porta de entrada do ProUni e, depois, como porta de entrada da expansão das universidades federais. Será excelente se esse assunto entrar em pauta.

Na última semana de agosto, a prova ABC (feita com seis mil alunos do 3º ano do ensino fundamental em todas as capitais do país) trouxe resultados negativos para a educação no Brasil. Somente 32% dos alunos tiveram o desempenho esperado. Como o senhor encara essa estatística e o que é preciso fazer para melhorá-la?
A qualidade da educação no Brasil vem melhorando segundo todos os indicadores. Acho incrível que ainda haja especialistas que neguem as evidências empíricas e recusem os números que não são do Ministério da Educação, mas de organismos internacionais, dando conta de que nós promovemos uma inflexão positiva da curva de qualidade da educação no país. Hoje, o que se discute é o ritmo da melhora e não a melhora propriamente dita.
A importância dessa prova ABC é a seguinte: ela revela que as desigualdades educacionais começam muito cedo, o que estimula os investimentos que o MEC decidiu fazer ainda em 2007 na educação infantil. Incluímos a educação infantil no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e criamos o inédito programa de expansão da rede física de creches e pré-escolas, o Pró-Infância, que a presidenta Dilma incluiu no PAC 2, ou seja, transformou num programa estratégico do seu governo, com o compromisso de convênio para a construção de mais 6 mil novas unidades até 2014. Não é a escola em si, é todo um preparo que tem que ser feito junto às famílias e junto aos estabelecimentos de educação infantil para que essas desigualdades não se reproduzam ao longo do ciclo educacional.

Sobre as eleições municipais em São Paulo: quando e como o ex-presidente Lula disse ao senhor que o queria como candidato do PT?
Na verdade, o presidente Lula é uma pessoa muito comprometida com a renovação do partido. Eu sempre faço menção a uma característica dele pouco notada, que é o fato de ele ter promovido muitos secretários nacionais, secretários executivos e assessores à condição de ministro, como Alexandre Padilha (Saúde), Orlando Silva (Esporte), eu mesmo, Izabela Teixeira (Meio Ambiente) e por aí vai... Para usar uma metáfora futebolística tão ao gosto dele: o presidente Lula é um olheiro, ele observa as pessoas e verifica como promover quem considera que está politicamente engajado, mas que tem a capacidade de executar com uma máquina pública tão debilitada como é a do Estado brasileiro. A partir desse momento, ele estimula para promover uma política renovada, arejada, oxigenada, com novas ideias, com novos quadros...

É isso que ele aposta no senhor.
Aí não seria adequado falar. Sobre mim, especificamente, ele é que tem que dizer. Mas o que eu noto é que ele tem uma satisfação pessoal em oferecer oportunidades para todos que considera capaz de renovar a política no Brasil.

E quando ele avisou que estava sendo "olheiro" do senhor?

Desde que ele me convidou para ministro.

Mas e para ser candidato em São Paulo?
Já tem alguns anos que a gente conversa sobre São Paulo. Mas, a partir do momento em que ele dá oportunidade para alguém que não tem a trajetória, digamos, tradicional na política, e oferece a condição de ser ministro do governo dele, o que ele está sinalizando, não é?

Assim como a presidente Dilma, o senhor teve uma carreira bastante administrativa. O que o senhor precisa ganhar ou aprender para se tornar um candidato - mais do que isso, o candidato de Lula e da presidente Dilma?
É uma trajetória completamente diferente da que eu vivi até aqui, então terei que passar por um processo de adaptação e aprendizado muito grande pela frente. Mas o que eu noto no PT é uma disposição em colaborar com isso. As pessoas com mais experiência em eleições, campanha, montagem de governo, estão se mostrando muito solícitas e disponíveis para conversar comigo. Você não procura um dirigente e ele desconversa. Ao contrário, ele diz: "independente do meu alinhamento com a sua candidatura, eu vou te ajudar". O clima é de cooperação.

Mas, pessoalmente, o que o senhor acha que precisa para ser um candidato?
Eu preciso fazer o que me dispus a fazer. Preciso participar das caravanas que estão sendo, para mim, mais que para os outros, muito importantes. Porque dos outros quatro pré-candidatos (senadores Marta e Eduardo Suplicy e os deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini), dois já foram candidatos à prefeitura - a Marta três vezes e o Eduardo, duas. Pessoas a quem já foi oferecida uma oportunidade no passado para a estreia. E sempre tem uma estreia.

E a aproximação com a militância?
Preciso disso e acho que as caravanas e discussões vão me ajudar.

O ex-presidente chamou os quatro pré-candidatos do PT para uma conversa reservada (exceto Eduardo Suplicy). O senhor foi o primeiro a ser recebido e fez a reunião mais demorada. Lula disse que iria costurar o apoio em torno do senhor naquela tarde?
Não. Nós não tratamos das outras candidaturas, nós falamos de São Paulo. Ele queria saber como andavam as conversas com os dirigentes, quis se apropriar do que estava acontecendo para poder ajudar. Acredito que foi uma conversa parecida com todos.

O ex-presidente falou alguma coisa sobre pedir para que a senadora Marta Suplicy permanecesse no Senado, assim como já pediu a presidente Dilma Rousseff?
Não. De maneira nenhuma.

E sobre a possibilidade de desistência dos outros candidatos, evitando assim as prévias internas no PT. O senhor e Lula já falaram sobre isso?
Não, não, ele nunca tratou disso. Nem naquele dia nem em nenhum outro, até porque ele sabe que não depende de uma única pessoa a realização ou não das prévias. É um processo complexo e dinâmico.

O senhor já está costurando o apoio em torno da sua candidatura com as lideranças do PT em São Paulo? Como estão as conversas?
Uma vez que uma das minhas colocações preliminares sobre essa pré-candidatura era a de que, de segunda a sexta-feira, eu estaria 100% envolvido nas minhas atividades do MEC, nos poucos momentos que tenho fora das caravanas, eu me dedico ao diálogo interno com os vereadores, deputados estaduais e federais, com os dirigentes do diretório municipal, estadual e nacional, para ouvir as expectativas dessas pessoas e me colocar como alguém que quer que o processo de escolha de um nome para 2012 termine em unidade.

Alguns dias depois de receber os pré-candidatos petistas, o ex-presidente recebeu o deputado federal Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo. O senhor acredita numa chapa única com Chalita, com o PT na cabeça?
Olha, nesse momento eu acredito que há uma grande possibilidade de PT e PMDB estarem juntos num segundo turno. Estarem juntos num primeiro turno é uma possibilidade remota.

Tem gente no PT que acha que é melhor ter dois candidatos, um do PT e um do PMDB, para minar o caminho do PSDB na capital; enquanto outros querem essa chapa única, como no governo federal. Com quem o senhor concorda?
São cálculos políticos que vão ser feitos no momento adequado. É importante estabelecer essas pontes desde logo para que haja unidade em torno de um mesmo plano para a cidade.

Se não foi sobre chapa única, então o que o senhor acha que Chalita foi falar com Lula?
Não participei da conversa, mas imagino que os dois falaram dessa ponte necessária, até pelo papel decente que o Chalita teve na campanha da presidente Dilma em 2010, de impedir que aquela campanha subterrânea, de difamação e calúnia, prosperasse no seio de pessoas que têm suas crenças, sua fé, que merecem todo o respeito, mas que estavam sendo influenciadas por propaganda enganosa e anônima.

Se a sua candidatura emplacar de vez no PT, quando o senhor irá deixar o Ministério da Educação para fazer campanha?
Quando falei com o presidente Lula e a presidenta Dilma sobre o assunto, eu assegurei que, enquanto tivesse condições de cumprir meu papel no ministério adequadamente, eu gostaria de permanecer no MEC, mas, evidentemente, é preciso ter muita responsabilidade e saber o momento correto de sair.

O ex-presidente Lula gostaria que o senhor saísse em campanha logo, enquanto a presidente Dilma prefere que o senhor fique um pouco mais no cargo...
Não houve esse tipo de conversa sobre datas, até porque seria prematuro. Temos ainda uns dois ou três meses de trabalho junto ao Congresso para o MEC e as caravanas, que ainda estão começando.

E quem será seu sucessor?
Isso cabe à presidenta escolher.

Acredita que o MEC ficará com um dos petistas que pleiteiam a candidatura à Prefeitura de São Paulo, como a senadora Marta Suplicy?
Realmente prefiro não comentar. Um assunto desses é uma prerrogativa quase que exclusiva do chefe do Executivo. Jamais fiz um movimento no sentido de ser convidado para ser ministro da Educação e tive a honra de ser convidado três vezes. Se eu não fiz por mim, imagina por outros. Isso seria deselegante com a presidenta. Quanto menos constrangimentos nós causarmos, melhor.

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