O jogo
democrático impõe liberdade para todos os lados exporem suas opiniões. Essa é a
maior defesa do jornalista Kennedy Alencar ao comentar as críticas feitas à
imprensa no caso “mensalão”. Para o jornalista, a imprensa não errou neste
caso, que é de fato um episódio grave e deve ser apurado. Ele ainda observou
que a imprensa deve ter liberdade para fazer o seu trabalho e, para eventuais
exageros existe “um sistema legal que permite reparação”.
Em entrevista concedida à IMPRENSA, o jornalista falou sobre o assunto que ajudou a tornar público quando ainda era repórter especial da Folha de S.Paulo. Alencar não aceita condescendência na apuração do Mensalão, ainda mais porque envolve um partido que sempre teve como sua principal bandeira a ética. De todo modo, defende que as críticas à imprensa são tão importantes ao jogo democrático quanto às críticas políticas.
IMPRENSA: A
imprensa errou na cobertura do Mensalão?
Kennedy Alencar: Claro que a
imprensa não errou, claro que não foi uma invenção. O mensalão é o esquema de
corrupção mais grave da história do governo Lula e do PT e há uma situação
forte, descrita pela Procuradoria Geral da República do uso do dinheiro público
ligado ao “valerioduto”. Então é um caso grave e eu não acho que a imprensa
tenha errado.
Os críticos dizem que a Veja tinha conhecimento das
relações entre Demóstenes e Cachoeira. Como você vê essa crítica?
Eu não sei se a revista Veja sabia da relação do Cachoeira com o Demóstenes, o que eu acompanhei até agora sobre esse caso eu não vi nenhuma prova, pelo menos não vi nadaque apontasse que a Veja sabia da relação do Demóstenes [Torres] com o [Carlinhos] Cachoeira. Eu não posso falar isso. Eu não consigo enxergar um problema que atinja a revista.
Eu não sei se a revista Veja sabia da relação do Cachoeira com o Demóstenes, o que eu acompanhei até agora sobre esse caso eu não vi nenhuma prova, pelo menos não vi nadaque apontasse que a Veja sabia da relação do Demóstenes [Torres] com o [Carlinhos] Cachoeira. Eu não posso falar isso. Eu não consigo enxergar um problema que atinja a revista.
Você conhece o termo PIG? Qual sua opinião sobre
esse modo de denominar parte da imprensa?
PIG, significa Partido da Imprensa Golpista, popularizado pela Internet,
nas redes sociais. Eu acho o seguinte: em uma democracia, os veículos
privados que não são concessão pública têm o direito de ter a linha editorial
que eles julgam mais adequada. Quando se trata de uma concessão pública, por
força legal, tem que estabelecer alguns critérios. O meio privado, ou seja uma
revista, tem direito de emitir a opinião dele. Acho que em uma democracia é
importante que haja uma revista como a Veja e é importante que existam os blogs para que eles façam a crítica à
imprensa e emitam a opinião deles. Eu não vejo nenhum problema nisso, acho que
são consequências de um regime democrático que temos hoje e que permite a livre
circulação de ideias. As pessoas têm o direito de emitir opinião.
Na sua opinião não houve exagero na cobertura?
Olha eu não vi nenhum exagero de modo geral, no atacado. Talvez possa se
dizer que houve exagero de uma ou outra matéria? Mas olha, durante o episódio
do mensalão eu trabalhei na Folha de S. Paulo, como repórter especial. Hoje eu sou só um colunista da
Folha.com, comentarista da CBN e trabalho na Rede TV! e não posso dizer para
você que não houve durante o episódio uma reportagem ou outra imprecisa, mas
isso é da natureza do jornalismo. O que eu não vejo é exagero, como o PT vê. O
PT tenta classificar o mensalão como uma farsa, quer relativizar a importância
do mensalão. É claro que, em uma democracia, o PT tem o direito de defender as
posições dele e lutar para que essa fotografia histórica seja mais adequada ao
partido. Não vejo problema do partido fazer isso, só não concordo com o PT.
Acho que a imprensa tem direito de retratar como retratou como uma
situação grave, não cabe ter condescendência. Até porque o PT é um partido que,
quando nasceu, defendia muito claramente a ética na política e cobrava dos
demais políticos um padrão ético que hoje, quando cobrado, o incomoda.
Essa posição do PT de algum modo é uma reação à
aproximação do julgamento?
Há uma chance concreta de o julgamento acontecer este ano, a partir daí
o PT vai fazer um cálculo. Agora, o PT tem pouco poder de influência sobre
isso. É um assunto interno do Supremo Tribunal Federal. Tem o presidente
novo, o Carlos Ayres Britto, que já cobrou do ministro revisor, o Ricardo
Lewandosvky, que apresente seu relatório. Assim que a revisão terminar, o
presidente sinalizou que pretende colocar para votar. Eu não vejo como o PT
possa fazer uma pressão sobre o Supremo para julgar antes ou depois. Pode
torcer, criticar pode.
O que podemos tirar deste episódio?
Em uma democracia a imprensa tem que ter liberdade para fazer o trabalho
dela como tem que fazer. Se há exageros, a gente tem um sistema legal que
permite reparação para eventuais exageros. Acho que os políticos, de qualquer
partido, têm o direito de criticar a imprensa. Não vejo o menor problema de a
imprensa ser criticada também. Uma democracia é isso. O Brasil não tem risco
nenhum de cerceamento à liberdade, a Comissão da Verdade mostra isso, tem
liberdade de pensamento no Brasil. E isso é muito bom para quem concorda e
discorda da revista Veja, para quem
concorda e discorda dos blogs.
do Portal Imprensa
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