por Leila Cordeiro, no Direto da Redação
É cada vez maior o número de telespectadores, e até de profissionais de TV, abismados com tantas baixarias, desmandos e irresponsabilidades observados em alguns programas da televisão aberta que nos fazem pensar que qualquer código de ética que pudesse existir já foi para o espaço há muito tempo.
Em julho de 2010, a veterana e premiada atriz Laura
Cardoso foi alvo de uma das maiores humilhações de sua vida sem nenhuma
explicação. Laura saía do lançamento de um livro num shopping em São Paulo,
quando uma pretensa humorista do programa Pânico a abordou pedindo uma
“entrevista”.
Muito educada e simpática, a atriz aceitou
conversar, mas jornalistas que estavam próximos a ela correram para avisá-la
sobre as más intenções da “falsa repórter” que queria, na verdade, “arrotar” em
seu rosto. Boquiaberta, Laura ficou perplexa com aquele absurdo e perguntou a
uma amiga, quase sem acreditar naquilo:
-Mas o que foi que eu fiz para ela querer fazer isso
comigo?
Quanta inocência da Laura, não? Ela que na época
tinha 82 anos, e mais de 50 como respeitada atriz, disse depois que
jamais poderia imaginar que num outro canal do mesmo veículo onde trabalhou em
produções tão bem feitas e memoráveis, poderia haver algo tão repugnante no ar
como essa coisa de “arrotar” sem mais nem menos no rosto das pessoas.
Diante disso, a tal “mulher arroto” acabou
“aposentada” pelo próprio Pânico que, apesar da irreverência muitas
vezes fora de controle, decidiu tirar a inconveniente personagem do ar.
E nunca mais se soube dessa moça, que se prestou a esse papelão.
Por esses dias recebi pela internet um texto de
Wagner Moura, também queixando-se de ter sido vítima de uma brincadeira de
muito mau gosto do mesmo Pânico, cujos integrantes o cercaram para dar uma
entrevista no meio da rua, na saída de uma premiação em São Paulo, e
esfregaram gel em sua cabeça. Wagner demonstrou toda sua indignação ao
escrever:
“Entrei num taxi. No caminho pra casa , eu
pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente
acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar
cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite
sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela
diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com
esse circo de horrores. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai
na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a
espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a
coisa tá feia.
O caso aconteceu em 2008 e alguns críticos estão
especulando que ele poderia ter voltado à tona, pelas mãos de concorrentes,
para desestabilizar a audiência do Pânico que mudou da Rede TV para a
Bandeirantes, alavancando seus números no domingo. E é aí que mora o problema.
Como um programa desse nível consegue ganhar tantos pontos na preferência
do público?
O lixo está aí, indiscutível, mas não podemos deixar
de analisar que se ele está com boa audiência é que tem gente assistindo e pelo
visto, muita gente. Será que é disso que o povão mais gosta, a
ridicularização do ser humano, o escracho, a bobagem explícita?
Essa é uma pergunta que deixo para os sociólogos de
plantão: como um programa do nível desse Pânico, fazendo o que faz há tantos
anos, consegue ser aplaudido por alguns setores da mídia e atrair um certo tipo
de público que acha tudo muito engraçado e criativo?
Talvez, se lá em 2008, o ator Wagner Moura, premiado
pela APCA, por sua atuação como Capitão Nascimento, em Tropa de Elite, tivesse
levado a ficção a sério, não teria sido vítima de falsos repórteres
cujo foco não é a a informação, mas a ridicularização e o constrangimento
do ser humano...
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