por Marco Lucena no Brasil 247
Nunca simpatizei com o clima de oba-oba que toma conta das passeatas. Lembro-me da época de escola, quando muitos foram para as passeatas do “fora - Collor” ou contra privatizações da Vale e da CSN, para “zoar” ou pra ver as meninas das outras escolas. Na fase estudantil é tudo relevado. O pior é ver “burro-velhos” fazendo o mesmo papel depois de crescidinhos. Outro dia esbarrei com um movimento da FUP (Federação Única dos Petroleiros) em uma rua do Rio de Janeiro. Ao indagar uma participante sobre qual Sindicato ela fazia parte, ela me disse: “olha aqui na minha camisa, é esse que está escrito”. Ou seja, ela não sabia nem do que se tratava o movimento, muito menos sobre Sindicato. Depois outras pessoas me disseram que é comum eles lotarem ônibus com “sem-terra” ou outras pessoas que estão sem ocupação, para fazer número e bater palmas nesse tipo de movimento, em troca de lanches ou almoço. Sem comentários, talvez a tal participante nem soubesse ler.
É verdade que as passeatas nos enchem de motivação e dão a ideia de que estamos contribuindo ativamente para melhorar algo. Elas têm o papel de chamar a atenção para determinado fato, isso é inegável. Porém, acredito serem necessários dois requisitos básicos para a efetividade de qualquer movimento. O primeiro, identificação com o objeto da passeata. Não posso participar de uma passeata contra a pena de morte se considero que a pena de morte é o melhor caminho, e vice-versa. O segundo, devo ter comportamento compatível com o que estou defendendo na passeata. O primeiro filme Tropa de Elite ilustrou bem essa situação, onde as próprias pessoas que compravam drogas, financiando o poderio dos traficantes, ao perder um dos colegas por assassinato, vestiram camisas brancas e fizeram passeatas pela paz. Não adianta eu me identificar com a paz e contribuir para o poderio de traficantes de drogas e de armas.
O percentual de respondentes no estudo abaixo, realizado pelo IBOPE (O Estudo – Cidadania Sustentável: um chamado para a ação), mostra claramente que ainda estamos longe de ter comportamento compatível com o que defendemos.
Intenção: Separar lixo para reciclagem é uma obrigação da sociedade. (92%)
Hábito: Na minha casa separo lixo para a reciclagem. (61%)
Intenção: Pilhas e baterias são extremamente prejudiciais ao meio ambiente. (85%)
Hábito: Jogo baterias usadas em lixo comum. (32%)
Intenção: Pirataria é um crime contra a indústria e contra a sociedade. (68%)
Hábito: Nunca comprei um produto pirata. (30%)
Intenção: Os fabricantes devem prevenir possíveis problemas ao meio ambiente. (89%)
Intenção: Vale a pena pagar mais caro por um produto que não agrida o meio ambiente. (85%)
Hábito: Só compro produto de fabricantes que não agridem o meio-ambiente, ainda que mais caro. (52%)
Da mesma forma, se perguntarmos quem está indignado com a corrupção no Brasil, teremos muito próximo de 100% de respostas. Mas como seria se perguntássemos quem age com lisura em todas as suas ações do dia a dia? Desastre total.... afinal, jogamos lixo no chão, compramos produtos piratas, cortamos pelo acostamento, estacionamos em fila dupla, furamos fila no trânsito etc. Qual a diferença entre a pessoa que imprime uma apostila do filho na impressora da empresa e um deputado que pega uma passagem de avião pro filho na conta da câmara? Só uma: OPORTUNIDADE.
"Enfim, faz parte da hipocrisia humana olhar os defeitos dos outros e não enxergar os seus próprios. Os nossos representantes são o espelho dos eleitores e não gostamos da imagem refletida no espelho. Só há corrupção na vida pública, porque nós somos corruptos e ensinamos os nossos filhos a serem assim. Para completar, muitos afirmam que os corruptos só estão no PT e usam as tais passeatas como trampolim político. Certamente são pessoas que se estivessem no poder, fariam igual ou mesmo pior do que os atuais políticos fazem." Janv - retirado da Internet
Não chegaria ao exagero de dizer que a corrupção está no DNA do brasileiro, como alguns afirmam. Temos é que nos livrar da cultura de levar vantagem, começando pelas ações cotidianas. Portanto é necessário um grande exercício de reflexão e conscientização antes de se pensar em passeatas!
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