Hamilton Octavio de Souza |
Com a proximidade do julgamento do mensalão, aguardado para agosto,
IMPRENSA discutiu a cobertura jornalística do caso em sua última edição de
junho. Considerado por parte da mídia como o “maior escândalo político da
história republicana do país” e, por outra ala, como parte de um exagero
calculado para atacar o governo Lula - sendo, na visão de alguns, um mero
factóide -, IMPRENSA falou com profissionais de diferentes veículos e de
posições editoriais e ideológicas claramente destoantes.
Diretor de redação da revista Caros Amigos, Hamilton Octavio de
Souza explica como a publicação tem abordado o assunto - “Há vários mensalões e
não acontece nada com nenhum deles” -, ataca a chamada grande imprensa, que,
segundo ele, amplifica a relevância dos fatos para ter mais audiência, e
defende que personagens centrais do episódio como José Dirceu e José Genoíno,
são “meros bagrinhos da história”.
IMPRENSA - Parte da mídia defende que o mensalão foi o maior escândalo
da história política do país. O que acha disso?
HAMILTON OCTAVIO DE SOUZA - A maior parte da
imprensa burguesa trabalha tentando vender o máximo de escândalos, porque
depende disto para garantir a audiência e aumentar seu lucro com venda em
banca. O grande crime no Brasil, desde o Brasil Colônia, é que as elites e
aqueles que têm acesso à máquina pública e o empresariado, principalmente, que
se apropria dos recursos públicos. No fundo, esta imprensa nunca quer levar isso
às últimas consequências porque isso pegaria gente aliada dela. Você acha que
eles querem prender os ministros do Supremo? Ou os grandes empresários desse
país, envolvidos em todos esses escândalos? Enquanto isso, você tem um monte de
ladrão de galinha na cadeia...
Como vocês têm trabalhado o caso mensalão na Caros Amigos? Vocês
não consideram um episódio de nítida corrupção alastrada na esfera do Estado?
Sim, não só ele, mas todos eles. Teve o mensalão envolvendo o
[ex-governador de Minas Gerais] Eduardo Azeredo, do PSDB. Teve o outro
mensalão, que envolve o esquema do Cachoeira, que tem o pessoal do DEM, do
PSDB, do PT. Há vários mensalões, e não acontece nada com nenhum deles.
A seu ver, a cúpula do PT sofreu uma condenação a priori por parte da
imprensa?
Não só nesse caso, como em outros. A imprensa faz esse papel de
pré-julgar ou de tratar de forma emocional e moralista algo que faz parte do
sistema. Ou seja, você tem um sistema que patrocina a corrupção o tempo todo,
em 400, 500 municípios do país, e isso faz parte do sistema eleitoral, das
licitações públicas. Se você quiser realmente acabar com o sistema de
corrupção, você vai ter que acabar com o sistema. Enquanto continuar existindo,
qualquer um que continuar no governo, vai estar envolvido.
Parte da imprensa usa o termo PIG. Como você vê isso?
Não costumo falar de PIG, porque é simples demais. Eu costumo trabalhar
do conceito de imprensa de classe, que pertence à classe dominante, que está a
serviço do capital, que inclui toda a imprensa que defende os interesses do
capital nacional ou estrangeiro. Toda a grande imprensa brasileira defende o
Consenso de Washington, eles têm o mesmo programa. Esta imprensa não pode dizer
que não participou do golpe de 1964, por exemplo. Toda vez que se tenta avançar
para uma democracia mais ampla no Brasil, em que amplos setores da sociedade
possam realmente ter direitos assegurados, essa mídia, que é da burguesia,
normalmente adota posturas no sentido de golpear o processo de avanço democrático.
Ela é golpista também no sentido de ir contra os direitos dos trabalhadores.
A seu ver, a cúpula do PT foi perseguida injustamente no caso mensalão?
Eles, do PT, cometeram o erro de entrar num esquema que todos os outros
partidos já faziam parte. Eles transformaram o PT num partido igual aos outros.
No caso do mensalão, não há uma diferença básica, no sentido de se
tratar de uma corrupção institucionalizada no seio do Estado?
Todos os partidos que compõem o governo fazem isso. Tinha um acordo no governo
anterior do Alckmin em que ele fez um acordo com vários deputados da Assembleia
de não constituir nenhuma CEI - Comissão Especial de Inquérito. Aí, eu não sei
se o pagamento é mensal, se é parcelado, mas em todos esses governos têm
acertos de toma lá da cá, de favorecimentos, de composição em troca de dinheiro
e cargos. A diferença do mensalão é que teria uma mesada em função de
determinadas votações. Não vejo tanta diferença. Eu considero nomes como [José]
Genoíno e [José]Dirceu os bagrinhos na história, espécies de corretores que
entraram no esquema, que não são os grandes favorecidos do esquema de
corrupção. São bagrinhos, porque não levaram o grosso da grana.
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