segunda-feira, 11 de junho de 2012

Para diretor da "Caros Amigos", "mídia burguesa exagera mensalão para vender"


Hamilton Octavio de Souza
Com a proximidade do julgamento do mensalão, aguardado para agosto, IMPRENSA discutiu a cobertura jornalística do caso em sua última edição de junho. Considerado por parte da mídia como o “maior escândalo político da história republicana do país” e, por outra ala, como parte de um exagero calculado para atacar o governo Lula - sendo, na visão de alguns, um mero factóide -, IMPRENSA falou com profissionais de diferentes veículos e de posições editoriais e ideológicas claramente destoantes.

Diretor de redação da revista Caros Amigos, Hamilton Octavio de Souza explica como a publicação tem abordado o assunto - “Há vários mensalões e não acontece nada com nenhum deles” -, ataca a chamada grande imprensa, que, segundo ele, amplifica a relevância dos fatos para ter mais audiência, e defende que personagens centrais do episódio como José Dirceu e José Genoíno, são “meros bagrinhos da história”.

IMPRENSA - Parte da mídia defende que o mensalão foi o maior escândalo da história política do país. O que acha disso?
HAMILTON OCTAVIO DE SOUZA - A maior parte da imprensa burguesa trabalha tentando vender o máximo de escândalos, porque depende disto para garantir a audiência e aumentar seu lucro com venda em banca. O grande crime no Brasil, desde o Brasil Colônia, é que as elites e aqueles que têm acesso à máquina pública e o empresariado, principalmente, que se apropria dos recursos públicos. No fundo, esta imprensa nunca quer levar isso às últimas consequências porque isso pegaria gente aliada dela. Você acha que eles querem prender os ministros do Supremo? Ou os grandes empresários desse país, envolvidos em todos esses escândalos? Enquanto isso, você tem um monte de ladrão de galinha na cadeia...

Como vocês têm trabalhado o caso mensalão na Caros Amigos? Vocês não consideram um episódio de nítida corrupção alastrada na esfera do Estado?
Sim, não só ele, mas todos eles. Teve o mensalão envolvendo o [ex-governador de Minas Gerais] Eduardo Azeredo, do PSDB. Teve o outro mensalão, que envolve o esquema do Cachoeira, que tem o pessoal do DEM, do PSDB, do PT. Há vários mensalões, e não acontece nada com nenhum deles.

A seu ver, a cúpula do PT sofreu uma condenação a priori por parte da imprensa?
Não só nesse caso, como em outros. A imprensa faz esse papel de pré-julgar ou de tratar de forma emocional e moralista algo que faz parte do sistema. Ou seja, você tem um sistema que patrocina a corrupção o tempo todo, em 400, 500 municípios do país, e isso faz parte do sistema eleitoral, das licitações públicas. Se você quiser realmente acabar com o sistema de corrupção, você vai ter que acabar com o sistema. Enquanto continuar existindo, qualquer um que continuar no governo, vai estar envolvido.

Parte da imprensa usa o termo PIG. Como você vê isso?
Não costumo falar de PIG, porque é simples demais. Eu costumo trabalhar do conceito de imprensa de classe, que pertence à classe dominante, que está a serviço do capital, que inclui toda a imprensa que defende os interesses do capital nacional ou estrangeiro. Toda a grande imprensa brasileira defende o Consenso de Washington, eles têm o mesmo programa. Esta imprensa não pode dizer que não participou do golpe de 1964, por exemplo. Toda vez que se tenta avançar para uma democracia mais ampla no Brasil, em que amplos setores da sociedade possam realmente ter direitos assegurados, essa mídia, que é da burguesia, normalmente adota posturas no sentido de golpear o processo de avanço democrático. Ela é golpista também no sentido de ir contra os direitos dos trabalhadores.

A seu ver, a cúpula do PT foi perseguida injustamente no caso mensalão?
Eles, do PT, cometeram o erro de entrar num esquema que todos os outros partidos já faziam parte. Eles transformaram o PT num partido igual aos outros.

No caso do mensalão, não há uma diferença básica, no sentido de se tratar de uma corrupção institucionalizada no seio do Estado?
Todos os partidos que compõem o governo fazem isso. Tinha um acordo no governo anterior do Alckmin em que ele fez um acordo com vários deputados da Assembleia de não constituir nenhuma CEI - Comissão Especial de Inquérito. Aí, eu não sei se o pagamento é mensal, se é parcelado, mas em todos esses governos têm acertos de toma lá da cá, de favorecimentos, de composição em troca de dinheiro e cargos. A diferença do mensalão é que teria uma mesada em função de determinadas votações. Não vejo tanta diferença. Eu considero nomes como [José] Genoíno e [José]Dirceu os bagrinhos na história, espécies de corretores que entraram no esquema, que não são os grandes favorecidos do esquema de corrupção. São bagrinhos, porque não levaram o grosso da grana.

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