Há uma grande preocupação, em determinados meios, no sentido de fazer com que as eleições para a Prefeitura de São Paulo assumam uma dimensão nacional. Quem pensa assim, já antevendo uma vitória do candidato tucano José Serra, argumenta que essa seria uma considerável derrota para o Governo Federal e seus procedimentos políticos. Será?
Penso que não se pode negar importância a um
processo que envolve a capital do mais forte estado da Federação –
economicamente falando - e que há muito se configura um reduto igualmente
forte do tucanato, segmento político-partidário de oposição às
políticas do Governo Lula agora continuadas pela presidenta Dilma, mas que –
apegado ferrenhamente à cartilha do neoliberalismo - , não aponta para as
soluções de que o país necessita no campo social.
Mas que novidade haveria na eleição de Serra e que
alterações significativas no quadro político nacional tal resultado, se houver,
provocaria? Convenhamos: nada mudaria. Esse já vem sendo o quadro habitual.
Lula e Dilma já foram eleitos com esse cenário. E agora mesmo se registram
índices de popularidade da Presidenta jamais alcançados. Mudança poderá
ocorrer, isso sim, se as eleições vierem a alterar o continuísmo tucano (com
linhas auxiliares fisiológicas do tipo Kassab) e a introduzir
na política paulistana uma saudável oxigenação.
A meu ver, e essa é uma posição ideológica, não é
apenas na face econômica que o pensamento neoliberal dos tucanos se revela
contrária aos maiores interesses nacionais. A forma como seus políticos de
ponta encaram problemas sociais como casos de polícia mostra claramente o
desprezo que, próprio de quem se considera elite – uma espécie de grupo
predestinado pelos deuses a ser “diferenciado” - nutre pelos marginalizados,
pelos empobrecidos. Recentes episódios são um bom exemplo das soluções
que o conservadorismo de sempre imagina para as tensões sociais.
Alguém – talvez querendo tirar de foco o
assunto do que realmente interessa - poderia falar em competência
administrativa, em eficiência na gestão da coisa pública, e tantas outras
expressões que têm justificado, para muitos, os votos atribuídos a essa direita
disfarçada de liberal, em São Paulo e em outros estados. Será mesmo essa
uma razão considerável? Não vivo em São Paulo, mas percebo , há anos, que os
problemas são os mesmos – trânsito caótico, enchentes frequentes, violência que
rivaliza com a que presenciamos aqui no Rio, etc - , sem que se apresentem
soluções.
Antes que me atribuam um bairrismo que não possuo,
deixo claro que, também no Rio, onde nasci e onde vivo, os males são muito
parecidos com os de São Paulo, seja no campo político, seja no campo
ideológico, com muita demagogia cercando algumas medidas de repercussão
nacional e o mesmo desapego pelos menos favorecidos. Corremos mesmo aqui o
risco de a situação ficar pior ainda, se, por artes do direitismo e dos
evangélicos, a dobradinha Maia/Garotinho chegar ao poder. Mas este é assunto
para outra coluna.
Como um último recurso para estabelecer
virtudes que os diferenciariam, os tucanos utilizam também a estratégia
maniqueísta de imputar aos outros a pecha de corruptos, colocando-se como
arautos da probidade e da decência. Num dos últimos domingos, o Globo publicou
artigo de FHC em que ele formula uma visão crítica das práticas sociais nocivas
e traça os rumos desejados para a moralidade na política. Palavras que todos
assinaríamos. Só que foram produzidas como se estivesse apenas nos
outros a convivência com os malfeitos. Como se não houvesse existido
também um mensalão tucano (o mineiro, de que poucos falam),como se o PSDB não
tivesse feito as mesmas alianças espúrias que critica no PT,como se o seu
aliado histórico – o DEM – não estivesse envolvido em maracutaias escandalosas
que contrariam o espírito republicano, como se o Amaury Ribeiro Jr. não
tivesse escrito e documentado a “Privataria Tucana”...
Voltando ao início, uma possível eleição do
candidato Serra nada trará de novo, além do desalento do “dejà vu”. No
fundo no fundo, o de que carecemos todos, paulistas ou cariocas, é de um
processo de renovação política que realmente venha para impor novos rumos ao
comando da coisa pública, que só vale se for realmente gerida para o
povo.
Quem sabe, o pleito paulistano nos reserve a
surpresa de uma renovação. São Paulo é importante, sim, muito importante
no cenário nacional. E poderá contribuir de forma ainda mais efetiva para
o desenvolvimento do país se seus cidadãos compreenderem a grande
responsabilidade que têm no processo nacional da redenção social que todos
desejamos.
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