segunda-feira, 16 de abril de 2012

Significados das eleições em São Paulo


Por Rodolpho Motta Lima, no Direto da Redação

Há uma grande preocupação, em determinados meios, no sentido de fazer com que as eleições   para a Prefeitura de São Paulo assumam uma dimensão nacional. Quem pensa assim, já antevendo uma vitória do candidato tucano José Serra, argumenta que essa seria uma considerável  derrota para o Governo Federal e seus procedimentos políticos. Será?  

Penso que não se pode negar  importância a um processo que envolve a capital do mais forte estado da Federação – economicamente falando - e que há muito se configura um reduto  igualmente forte do tucanato,  segmento político-partidário  de oposição às políticas do Governo Lula agora continuadas pela presidenta Dilma, mas que – apegado ferrenhamente à cartilha do neoliberalismo - , não aponta para as soluções de que o país necessita no campo social.

Mas que novidade haveria na eleição de Serra e que alterações significativas no quadro político nacional tal resultado, se houver, provocaria? Convenhamos: nada mudaria. Esse já vem sendo o quadro habitual. Lula e Dilma já foram eleitos com esse cenário. E agora mesmo se registram índices de popularidade da Presidenta jamais alcançados. Mudança poderá ocorrer, isso sim, se as eleições vierem a alterar o continuísmo tucano (com  linhas auxiliares fisiológicas do tipo Kassab)  e a introduzir  na política paulistana uma saudável oxigenação. 

A meu ver, e essa é uma posição ideológica, não é apenas na face econômica que o pensamento neoliberal dos tucanos se revela contrária aos maiores interesses nacionais. A forma como seus políticos de ponta encaram problemas sociais como casos de polícia mostra claramente o desprezo que, próprio de quem se considera elite – uma espécie de grupo predestinado pelos deuses a ser “diferenciado” - nutre pelos marginalizados, pelos empobrecidos. Recentes episódios são um bom exemplo das soluções  que o conservadorismo de sempre imagina para as tensões sociais.

Alguém – talvez querendo  tirar de foco o assunto do que realmente interessa -  poderia falar em competência administrativa, em eficiência na gestão da coisa pública, e tantas outras expressões que têm justificado, para muitos, os votos atribuídos a essa direita disfarçada de liberal, em São Paulo e em outros estados. Será mesmo essa  uma razão considerável? Não vivo em São Paulo, mas percebo , há anos, que os problemas são os mesmos – trânsito caótico, enchentes frequentes, violência que rivaliza com a que presenciamos aqui no Rio, etc - , sem que se apresentem soluções.  
  
Antes que me atribuam um bairrismo que não possuo, deixo claro que, também no Rio, onde nasci e onde vivo, os males são muito parecidos com os de São Paulo, seja no campo político, seja no campo ideológico, com muita demagogia cercando algumas medidas de repercussão nacional e o mesmo desapego pelos menos favorecidos. Corremos mesmo aqui o risco de a situação ficar pior ainda, se, por artes do direitismo e dos evangélicos, a dobradinha Maia/Garotinho chegar ao poder. Mas este é assunto para outra coluna.

Como um  último recurso para estabelecer virtudes que os diferenciariam, os tucanos utilizam também a estratégia maniqueísta de imputar aos outros a pecha de corruptos, colocando-se como arautos da probidade e da decência. Num dos últimos domingos, o Globo publicou artigo de FHC em que ele formula uma visão crítica das práticas sociais nocivas e traça os rumos desejados para a moralidade na política. Palavras que todos assinaríamos. Só que foram  produzidas  como se estivesse apenas nos outros a convivência com os malfeitos.  Como se não houvesse existido também um mensalão tucano (o mineiro, de que poucos falam),como se o PSDB não tivesse feito as mesmas alianças espúrias que critica no PT,como se o seu aliado histórico – o DEM – não estivesse envolvido em maracutaias escandalosas que contrariam o espírito republicano, como se o Amaury Ribeiro Jr. não tivesse  escrito e documentado a “Privataria Tucana”...

Voltando ao início, uma possível eleição do candidato Serra nada trará de novo, além do desalento do “dejà vu”.  No fundo no fundo, o de que carecemos todos, paulistas ou cariocas, é de um processo de renovação política que realmente venha para impor novos rumos ao comando da coisa pública, que só vale se for realmente gerida  para o povo.

Quem sabe, o pleito paulistano nos reserve a surpresa de uma renovação. São Paulo  é importante, sim, muito importante no cenário nacional. E poderá contribuir  de forma ainda mais efetiva para o desenvolvimento do país  se seus cidadãos compreenderem a grande responsabilidade que têm no processo nacional da redenção social que todos desejamos.


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