Por Rodrigo Cavalcante
Eq. Fatos e versões
Assim eu também quero! O inclíto empresário Abílio Diniz, ex-todo poderoso dono do Pão de Açucar, resolve sair um dia de casa e comprar, sem gastar um tostão dele, seu maior concorrente no Brasil, o Carrefour. Não se dá ao trabalho sequer de consultar o seu sócio majoritário, o grupo Casino, maior concorrente do Carrefour na França.
E quem vai bancar a farra? Sim, somos todos nós, com o sagrado dinheiro dos trabalhadores brasileiros guardado no BNDES. Que maravilha!
Deu para entender? Não? Pois é, o moderno capitalismo brasileiro é assim mesmo: o BNDES, com dinheiro da poupança dos trabalhadores, anunciou que pretende liberar R$ 4 bilhões _ ou seja, 85% da grana necessária para a concretização do monumental negócio _ para que Abílio Diniz possa controlar 32% do varejo nacional, caso saia vencedor da briga com o Casino, que promete lutar por seus direitos nos tribunais internacionais de comércio.
É briga de cachorro grande. Em seu "Comunicado ao Mercado" publicado nesta quarta-feira com destaque nos principais jornais, o grupo Casino denuncia o modus-operandi do empresário brasileiro nas negociações com o Carrefour:
"Trata-se de proposta estruturada em conjunto, em segredo e de forma ilegal, com o objetivo de frustrar as disposições do acordo de acionistas que regem a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD) e, indiretamente, expropriar do Casino os direitos de controle adquiridos e pagos no ano de 2005".
Em lugar da concorrência, que já era cada vez menor no setor, teremos agora o assustador oligopólio do monstro "CarrePão", com todas as condições de jogar os preços dos fornecedores para baixo e o dos consumidores para cima, fechar lojas, demitir funcionários, pintar e bordar _ e tudo isso financiado com dinheiro público.
Em seu artigo "E nós com isso?", minha amiga Eliane Cantanhede lembra que a sigla BNDES quer dizer Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Desenvolvimento social de quem?
Só se for daquelas figurinhas carimbadas das colunas sociais que mostram as festas dos amigos do poder, seus castelos, suas princesas e seus jatinhos, à venda em revistas coloridas nas gôndolas junto aos caixas dos supermercados.
Se por acaso o Cade aprovar este verdadeiro atentado à economia popular, se tudo der certo para Abílio Diniz como ele está planejando, um belo dia ele poderá acordar e, ao sair de casa, em vez de ir às compras, simplesmente resolver não vender mais comida, mas apenas tablets, em suas milhares de lojas.
Boa parte do Brasil correrá o sério risco de morrer de fome por não ter mais onde comprar comida.
Parece absurdo? Pois é, como escrevi na semana passada, tem certas coisas que parecem mesmo inacreditáveis, mas no Brasil têm precedente.
Ricardo Kotscho
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