Por Ricardo Kotscho
Bastavam
41, mas foram 56 votos a favor da cassação do mandato do senador Demóstenes
Torres, eleito pelo DEM de Goiás. Agora só resta descobrir quem foram os 19
senadores que votaram contra a cassação. Ou seja, acharam que ele era inocente
e não fez nada de errado nas suas relaçoes especiais com o contraventor
Carlinhos Cachoeira. Cinco outros ficaram na dúvida e se abstiveram de votar,
beneficiando o denunciado. Só um, Cloris Fecury (DEM-MA), faltou à sessão.
Embora o voto seja secreto,
gostaria muito de saber quem são, o que pensam e o que levou quase um quarto
dos nossos representantes no Senado Federal a votar pela manutenção do mandato
de Demóstenes Torres, depois de tudo o que foi investigado e provado contra ele
pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Devem pensar e agir como ele.
Restaram, portanto, 19 outros Demóstenes.
Ao ouvir a bem fundamentada
acusação feita pelo relator da comissão de ética, Humberto Costa (PT-PE), e os
argumentos usados nos discursos dos senadores que se manifestaram na tribuna,
todos a favor da cassação e em defesa da credibilidade da instituição, fiquei
me perguntando: como Demóstenes conseguiu enganar os jornalistas e seus colegas
parlamentares por tanto tempo, desde que assumiu seu primeiro mandato em 2003?
Entre muitas outras, este episódio
nos ensinou uma singela lição: os advogados, por melhores e mais caros que
sejam, não podem tudo. Quatro meses após o escândalo estourar, graças a um tal
de rádio Nextel descoberto pela Polícia Federal, Demóstenes foi cassado e Carlinhos
Cachoeira continua preso. Não fosse isso, e Demóstenes continuaria pontificando
no Senado até 2018.
Já no desespero, sabendo que nem
mesmo Antonio Carlos Almeida Castro, o Kakay, seria capaz de salvá-lo,
Demóstenes tomou o lugar do advogado na tribuna para fazer a sua própria
defesa. Depois de aparentar a humildade dos injustiçados e perseguidos,
partiu para o ataque contra o relator Humberto Costa, querendo provar que são
todos iguais.
Demóstenes não soube cair de pé.
No final do seu discurso, foi duas vezes ingrato. Primeiro rifou o parceiro
Carlinhos Cachoeira e depois se queixou da imprensa _ justamente as duas
entidades que tanto o ajudaram a se tornar o paladino da ética, o maior e o
último dos homens públicos honestos na República.
Foram três horas que vão ficar na
história das nossas instituições democráticas. O Senado Federal lavou a alma e
a sociedade brasileira ressuscitou por alguns instantes velhas esperanças de um
dia poder viver num Brasil mais decente e mais justo.
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