Mais uma vez o colunista de O Globo, Merval Pereira (na foto de fardão ao lado de tucanos de alta linhagem), se supera, claro que para baixo. Agora, em comentário sob o título “Pela Liberdade de Expressão”, o jornalista imortal aborda o tema de forma simplória e tendenciosa.
Ao atacar governos latinoamericanos que julga
estarem criando restrições à liberdade de imprensa e de expressão,
Pereira abre as baterias, para variar, contra a Presidenta argentina Cristina
Kirchner.
Aí o colunista de O Globo menciona o que considera
“expropriação” da fábrica de papel que estava sob controle do grupo Clarin.
Encerra o parágrafo afirmando que a medida faz parte de “uma já longa disputa
pelo controle da informação pelo governo de Cristina Kirchner, prosseguindo o
projeto que foi iniciado no governo de seu falecido marido Nestor Kirchner”.
Nesta visível demonstração de desacreditar a
Presidenta, como se ela não tivesse iniciativa própria, o jornalista imortal
omitiu um fato relevante que ajuda a entender melhor o acontecimento.
A fábrica de papel na época da ditadura era de
propriedade de empresários que foram reprimidos com extrema violência, um deles
assassinado, pelo general Rafael Videla, hoje cumprindo pena de prisão perpétua
pelos crimes cometidos neste período, inclusive sumiço de bebês entregues a
famílias vinculadas à repressão. A fábrica de papel mudou de proprietário a
força e caiu nas mãos do grupo Clarin.
Merval Pereira não mencionou o fato, limitando-se a
protestar repetindo os argumentos apresentados pela Sociedade Interamericana de
Imprensa e, claro, pelo grupo Clarin. E quem tiver curiosidade deve
consultar a Biblioteca Nacional para verificar qual foi a posição de O Globo
sobre a ditadura argentina.
Em relação ao Equador, o perdão de Rafael
Correa de uma multa alta decretada pela Justiça contra o jornal El
Universal e um ex-editorialista por difamação ao presidente foi considerado por
Pereira, não como um ato de grandeza, mas de fraqueza, para atender à pressão
internacional. Pereira culpa Correa por tudo, como se decisão da Justiça
dependesse dele, dando a entender que o Poder Judiciário no Equador não é
autônomo.
Em outro trecho, o colunista não faz por menos e sai
em defesa incondicional da revista Veja e do chefe de sucursal de
Brasília, Policarpo Junior, envolvido com Carlos Cachoeira de lama.
E, pasmem, Merval Pereira considera ameaça à
liberdade de expressão a tentativa de levar a grande imprensa, representada
pela revista Veja, à investigaçao na CPI do Cachoeira.
Quer dizer que convocar um jornalista da cúpula de
uma revista para esclarecer fatos, inclusive mais de 200 telefonemas trocados
com Cachoeira de lama, atenta contra liberdade de expressão?
E parece que o Deputado Miro Teixeira pensa blindar
Policarpo Jr, sob a alegação de preservaçao do sigilo da fonte. Se fizer
isso, Teixeira estará se equivocando feio. Fica alinhado com Merval
Perera,
Policarpo é chefe da sucursal e não repórter que
teria Cachoeira como fonte. Como bem lembrou recentemente o atual Ministro do
Trabalho, Brizola Neto, em sua coluna “Tijolaço”, Policarpo “é alguem, que pelo
seu cargo, tem relações diretas com a administração empresarial da revista”.
Tem trechos de papos telefônicos em que Cachoeira de
lama falando com Claudio Abreu, um mafioso do time do meliante, fica feliz com
matérias da revista Veja, inclusive a que resultou na queda de Luiz Antonio
Pagot chefe da diretoria geral do Departamento Nacional de Infraestrutura e
Transportes (Dnit), que estava atrapalhando os negócios da construtora Delta.
Coincidência?
A Polícia Federal localizou o vínculo ao fazer o
grampo, permitido pela Justiça, de Cachoeira de lama. Seria absolutamente
normal a convocação de Policarpo, da mesma forma que o dono da publicação,
Roberto Civita, em função da gravidade do caso. Nada a ver com algo atentatório
à liberdade de expressão.
Como o poder de manipulação da mídia de mercado é
forte, amanhã, se acontecer a convocação de Policarpo pela CPI, protestos
vão surgir vindos de diversos lados, não só de Merval Pereira como da
Sociedadde Interamericana de Imprensa, por exemplo. Se a CPI for séria mesmo
terá de convocar Policarpo e muito mais gente considerada acima de qualquer
suspeita, como o governador Sergio Cabral.
No artigo, Merval destila ódio contra a
“democratização da comunicação” atribuindo a ideia ao Partido dos
Trabalhadores.
Merval desconhece que a democratização dos meios de
comunicação é algo em debate há vários anos por inúmeras entidades
representativas dos movimentos sociais.
O PT tem todo o direito de apoiar, como outros
partidos e parlamentares, como, por exemplo, Brizola Neto, que já se posicionou
nesse sentido em sua coluna na internet em várias ocasiões.
Mas se o leitor imagina que as observações do
jornalista imortal pararam por aí em matéria de manilpuação,
engana-se O colunista reviveu, por exemplo, a proposta do Conselho
Nacional de Jornalismo, atribuindo a ideia, mais uma vez erradamente, ao governo
Lula. A proposta, repudiada antes mesmo de ser debatida, foi uma
iniciativa da diretoria da Federação Nacional de Jornalistas e não do govenro
Lula, como “informou” (só pode ser entre aspas mesmo) Merval Pereria.
Não por acaso, na mesma edição de sexta-feira, 4 de
maio, o jornal O Globo publicava na página internacional um artiguete, estilo
tijolaço, com o título “Cerco”, apresentando o resultado de uma reunião em
Santiago do Chile de associações patronais midiáticas de seis países, entre
eles o Brasil, representado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ). Foi
divulgado então um documento sobre “o agravamento do cerco à liberdade de
imprensa” e assim sucessivamente.
E também, não por acaso, logo abaixo do comentário
aparece matéria procedente de Caracas mostrando que “Chávez tem fratura no
fêmur, diz jornalista”. A tônica da “notícia” repete a de outros dias com base
nas elocubrações do blogueiro venezuelano Nelson Bocaranda, um jornalista
vinculado aos movimentos anticastristas de Miami.
Por sinal, Bocaranda de vez em quando “informa”com
base no que escreveu Merval Pereira sobre a doença de Chávez e vice-versa. Os
dois se entendem muito bem, só falta agora Bocaranda aparecer no Brasil
convidado pelo Instituto Millenium e, quem sabe, proferir uma palestra no Clube
Militar, como faz de vez em quando Merval Pereira e é aplaudisíssimo
pelos militares da reserva que tinham postos de comando durante a ditadura,
alguns deles executores do esquema da repressão.
Por estas e muitas outras, a democratizaçao dos meios
de comunicação é uma necessidade, exatamente para que os brasileiros possam ter
mais e mais veículos para se informar e formar opinião. Até porque, como o
acesso à informação é um direito humano, tudo deve ser feito para o seu
aperfeiçoamento, quer queira ou não Merval Pereira e o patronato midiático
manipulador.
Na verdade, Pereira mistura propositalmente as
bolas. O que ele defende mesmo é a liberdade de empresa e não a de imprensa.
Desta forma vai tentando enganar incautos, seguindo a linha de seu jornal e das
Organizações com o mesmo nome.
Mário Augusto Jakobskind É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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