quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

‘Escândalo’ da coxinha vira hit de carnaval em BH

Presidente da Câmara Municipal, Léo Burguês, pede a advogado para retirar da internet música sobre as compras de salgados na mercearia de sua madrasta. Tarde demais: a marchinha invadiu as redes sociais e ganhou a simpatia da população da capital mineira, já fula da vida com os vereadores depois que eles se deram um aumento salarial superior a 60%

Por Heberth Xavier, especial para o 247
 
O carnaval de Belo Horizonte, que cresce a cada ano, já tem seu hit este ano: a marchinha “Na Coxinha da Madrasta”, composta pelo músico Flávio Henrique, invadiu as redes sociais, blogs e sites de música e vídeo. Pior para o presidente da Câmara Municipal da cidade, o vereador Léo Burguês (PSDB), personagem da marchinha depois que foi revelada a compra de quase R$ 62 mil em lanches e refeições da empresa Trevo Salgados Congelados. Detalhe: essa Trevo pertence à madrasta de Burguês. Somente em coxinhas, a Câmara (ou melhor, o contribuinte de BH) pagou R$ 1,5 mil por dia, desde 2009.

Flávio Henrique já lançou seis discos e é músico e compositor conhecido na capital mineira. Decidiu fazer a marchinha depois que percebeu que o ‘escândalo’ da coxinha havia se tornado um dos temas prediletos do belo-horizontino nas convesas de bar e redes sociais na internet. O músico estava em São Paulo quando foi surpreendido, no fim da semana passada, pela ligação do advogado de Léo Burguês, que estava de férias nos Estados Unidos. Flávio Henrique foi “aconselhado” a retirar da web a marchinha. Com receio de um processo judicial, obedeceu. Mas o estrago, para Burguês, já havia sido feito - ou melhor, a “censura” (como muita gente no Facebook gosta de tratar a história) só complicou a vida do presidente da Câmara.

A marchinha hoje é replicada por inúmeros internautas e nove em cada dez foliões da cidade apostam que será o grande sucesso a ser cantado nas ruas durante o carnaval. Pelo Facebook, Flávio Henrique esclareceu: “Quem vai julgar o Léo Burguês é a população, não sou eu. Eu estava repercutindo uma matéria. Não estou a serviço de ninguém, não ganhei um tostão para fazer isso. É para ser algo jocoso, só isso".

Também na rede social, Burguês, que antes estava evitando falar sobre o assunto para não aumentar ainda mais a polêmica, foi obrigado a sair da toca: “Não houve ameaça”, diz o vereador, negando qualquer tentativa de censura. “A letra possui conteúdo obsceno e, diante disso, solicitei que fosse retirada.” 

Quarta-feira (1º de fevereiro), em entrevista à rádio Itatiaia, ele também se defendeu: “Não entrei com processo algum contra o compositor. Me mostre o processo. Me mostre a ação.”

A história de contornos tragicômicos faz parte do inferno astral vivido nos últimos dias pelos vereadores da capital mineira e, principalmente, por Léo Burguês, um político que ficou famoso na cidade como organizador de festas para a classe média-alta e alta (daí o apelido, que colou e foi incorporado pelo próprio). Filiado ao PSDB desde 1990, ele é afilhado político de Aécio Neves, de quem foi assessor especial de 2005 a 2008. Em 2010, foi eleito presidente da Câmara e houve quem o imaginasse prefeiturável este ano - caso uma aliança com o atual prefeito Márcio Lacerda (PSB) não vingasse.

Mas depois que os vereadores se “impuseram” um reajuste de 61,8%, em dezembro, a casa de Burguês começou a cair. O aumento, enfim vetado por Lacerda há uma semana (depois de uma intensa campanha na internet que praticamente o obrigou a isso), pôs Léo Burguês como vilão nas redes sociais. Agora, além disso, ele também vai ser sucesso no carnaval.

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