Por Rodrigo Cavalcante
A presidente Dilma Rousseff fez campanha, foi eleita e governa com o apoio de um grande balaio de partidos. Para simplificar, só ficaram de fora da base aliada o PSDB e seus satélites DEM e PPS, que formam a chamada oposição. Nunca houve na história deste país, como diria o ex-presidente Lula, uma aliança partidária tão generosa para apoiar qualquer outro governo.
Em condições normais de tempo e temperatura, os números amplamente favoráveis no Congresso Nacional dariam a Dilma toda a tranquilidade do mundo para tocar o barco que herdou de Lula. Na vida real, porém, sabemos que não é bem assim que as coisas acontecem.
Dilma já tomou o primeiro susto quando seus aliados na Câmara rejeitaram o projeto de novo Código Florestal do governo e aprovaram o substitutivo do PMDB, que também faz parte da aliança. Com o sistema partidário brasileiro, nunca se deve confiar muito na maioria parlamentar, que pode virar pó de uma hora para outra.
É bom que os marqueteiros e assessores da presidente se lembrem disso neste momento de euforia com os editoriais da grande imprensa, aplaudindo sua decisão de fazer uma limpeza geral no Ministério dos Transportes e elogiando sua cruzada contra a corrupção.
Se você perguntar, todo mundo é favorável à energia elétrica, à agua encanada e ao combate à corrupção. Por isso, acho muito provável que as próximas pesquisas mostrem amplo apoio popular ao governo até pendurar o último corrupto na Esplanada dos Ministérios.
O problema é que a maioria dos nossos partidos e das nossas excelências se lixam para a opinião pública, como já vimos tantas vezes. Estão mais preocupados com boquinhas e verbas para agradar sua freguesia e garantir a reeleição. De dois em dois anos, temos eleições. Para eles, é só o que importa neste processo que se retroalimenta e tem vida própria.
Pois é exatamente isto que torna o país ingovernável _ em nome da governabilidade _ e pelo mesmo motivo não há a menor esperança de que um dia façamos uma reforma política capaz de combater as causas de tanta corrupção. Não há perigo de melhorar.
Admiro a coragem da presidente Dilma de peitar os donatários de velhos esquemas no Ministério dos Transportes e no Dnit, mostrando uma disposição inusitada para combater este mal, que seus antecessores não tiveram.
Até aqui, tudo bem. Só se ouvem aplausos, até porque, ninguém é doido de sair por aí defendendo a bandalha. Está todo mundo na moita para ver o que vai acontecer quando acabar o recesso e o Congresso Nacional reabrir as portas na próxima semana. E o que acontecerá quando eles voltarem de férias?
O problema maior não é nem o escalpelado PR do Valdemar, que já está dividido entre apoiar ou rifar seu líder, e sabe que perdeu o controle do Ministério dos Transportes, mas o clima de desconfiança e temor entre os outros partidos aliados. Com os nanicos agregados, o PR soma uma bancada de cinco dúzias de parlamentares, muito pouco para abalar a maioria do governo.
O que ameaça o oba-oba criado em torno das 17 cabeças cortadas até agora, é que a chamada "faxina ética" se alastre para outros endereços ocupados por grandes aliados na Esplanada dos Ministérios. Nada indica que os malfeitores da República resolveram se concentrar todos na área dos Transportes. Uma vez aberta a porteira, é o salve-se quem puder, não tem volta.
Criou-se um paradigma: até prova em contrário, todas as denúncias da imprensa contra membros do governo são verdadeiras, exigem providências imediatas e cabe aos acusados o ônus de provar sua honestidade.
Faz muito bem o governo em tentar melhorar suas relações com a imprensa ao convidar colunistas de Brasília para um papo com a presidente Dilma no Palácio do Planalto. Os responsáveis por esta política se iludem, porém, se imaginarem que com isso vão mudar a cabeça dos barões da mídia.
Não haverá trégua enquanto eles não conseguirem separar Dilma de Lula e do PT, e tirar esta turma toda do poder. Podem até aqui e ali fazer um agrado à presidente, elogiando medidas pontuais, só para mostrar as diferenças entre a presidente e seu antecessor, jogando nas costas dele a "herança maldita" e tudo de ruim que possa acontecer daqui para a frente.
Governar com base em manchetes, editoriais e pesquisas pode ser perigoso. Quero ver quem sairá em defesa de Dilma e do seu governo no dia em que a crise econômica mundial bater no bolso de quem trabalha e a base aliada correr para salvar a própria pele. Não serão os editorialistas, certamente.
do Balaio do Kotscho
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